A realidade em direção à digitalização colocou as organizações na rota da evolução, da disruptura, ou minimamente da revisão. O ritmo das mudanças está sendo impactado dramaticamente pelo volume de data (informações) e pela Inteligência Artificial.
Até então, as organizações que iniciaram a jornada de digitalização eram aquelas que estavam à frente do seu tempo. Hoje em dia, a digitalização permeia todos os níveis de organizações de um modo ou de outro, estruturados e integrados ou não. As pessoas se mostram cada vez mais à vontade e confiantes em relação às tecnologias, propiciando e redefinindo todas as expectativas em relação a serviços, ofertas, relacionamento e conveniência – inclusive as fronteiras entre empresas.
O futuro das organizações tende a ser influenciado pelas plataformas e Ecossistemas de Negócios, para muitas inesperadamente impactadas.
Então, vamos lá: o que é uma “plataforma”?
A plataforma é caracterizada por uma orquestração central e geralmente digital e liga produtores independentes de serviços ou produtos a consumidores independentes. Alguns exemplos neste sentido são a Uber, que liga motoristas independentes aos usuários independentes, e o iFood, que conecta restaurantes aos clientes, realizando a entrega.
E ecossistemas?
Quando falamos de ecossistemas, encontramos um outro nível de evolução e “maturidade” (de acesso) dessas plataformas. É por meio do “ecossistema” que se permite que os usuários preencham uma variedade ampla das suas necessidades diárias, integrando e interconectando toda a experiência e oferta. Essas podem ir de transporte a viagens, saúde a bem-estar, habitação a decoração, alimentação a saúde, finanças a meios de pagamento e crédito, relacionamento a comunidades, conteúdo a educação, lazer a entretenimento, etc.
Percebo uma incrível tentação dos executivos a adotarem o “buzzword” ecossistema, sem esforço. Mudar a visão organizacional para uma visão de ecossistema integrado e múltiplo a partir do que é relevante para o cliente leva tempo e maturidade, porém garante a possibilidade de novas receitas e recorrência sustentável para a organização.
Ecossistemas serão responsáveis por 30% das receitas até 2025 globalmente
Estudos da consultoria Mckinsey apontam que, até 2025, 30% das receitas mundiais terão sua origem em Ecossistemas de Negócios. Em substituição aos modelos tradicionais, os setores mais prováveis que se consolidarão em ecossistemas são aqueles que apresentam maior recorrência de uso, tais como transporte, saúde, educação, B2B, B2C, hospitalidade e viagens, entre outros.
E isso porque os ecossistemas oferecem valor em três aspectos essenciais:
- Reduzem fricção para o usuário e facilitam sua vida, permitindo que eles transitem entre serviços oferecidos e sejam já identificados pelo todo. Imaginem que um usuário pode comprar uma passagem aérea, ter o seu check-in em um hotel realizado, reservas de entretenimento feitas, transporte à disposição, concierge, se comunicar com amigos, falar com um médico e até mesmo ter um closet previamente escolhido para sua comodidade – tudo isso em um lugar, uma só interface.
- Aumentam a acuracidade da oferta. Aproveitam todos os contatos realizados dentro da rede do ecossistema para servir o usuário com informações e, ao mesmo tempo, ajudam os fornecedores a entender a demanda e se ajustarem a ela.
- Por fim, oferecem Analytics, a integração de data/info na rede como um todo, gerando dados acurados, e “predizem” necessidades ou demandas de seus usuários individualmente, provendo-os de serviços e cuidados personalizados.
A ascensão de negócio a ecossistema, no entanto, envolve muitas relações internas e externas, e que se atinjam arranjos harmônicos para que se conquiste um valor maior do que se teria individualmente.
Planejar um eEcossistema de Negócios é como planejar a construção de um bairro todo, não apenas uma residência. São mais agentes e interesses para coordenar, múltiplas camadas de interações e integrações, tudo isso gerando resultados imediatos não intencionais. Um ecossistema não só se cria ou se planeja, ele emerge!
Outra questão que deve ser aprofundada, gerando muitas dúvidas e poucas respostas a respeito dos ecossistemas, é quanto à sua governança, tema de tal relevância que devemos tratar em artigo específico.
Quem deve ser o orquestrador do ecossistema? Quais os players que deveriam fazer parte? O que o orquestrador deve controlar? O quão aberto deve ser o ecossistema?
Estamos adentrando em um outro jogo, mais complexo, dinâmico e sem fronteiras. E que exigirá das empresas visão, objetivos claros e execução. Estamos só no começo desta jornada. O que sabemos é que o futuro está sendo construído nestas bases e que massivos ecossistemas devem aparecer em poucos anos sem sabermos ao certo o quanto eles podem se expandir e serem sustentáveis por longo prazo.
O caminho é sem volta. O cliente demanda menor fricção e a concorrência está se desenvolvendo neste sentido. Estar aberto a construir o seu ecossistema ou fazer parte de algum será pauta dos tomadores de decisão de negócios em algum momento. A questão crucial para o seu negócio é quando. O mercado se impõe.
Quem viver verá!
Nota: A Consulting é a unidade de consultoria de negócios da Gouvêa Ecosystem. Somos experts em modelos de gestão, relações de consumo, GTM (Go to Market) e Omnicanalidade. Deixe-nos saber como podemos ajudar, teremos um enorme prazer em participar!
Jean Paul Rebetez é sócio-diretor da Gouvêa Consulting.
Imagem: Arte/Mercado&Consumo