“Os desafios envolvidos com liderança num cenário em meta-transformação pelo empoderamento individual, promovido pela comunicação multidirecional e interativa, já eram motivo de muita análise, pesquisa e propostas.
Mas tudo isso se torna ainda mais complexo pelo que a Inteligência Artificial impõe nos mais diversos níveis hierárquicos ou anárquicos, no ambiente profissional ou no social.
A começar pelo próprio entendimento de hierarquia, responsabilidade e outros conceitos clássicos envolvidos nas estruturas tradicionais e que estão sendo subvertidos por comportamentos, desejo, anseios, expectativas e a relação individual com o trabalho, carreira, desenvolvimento, remuneração e compensação de forma geral.
E considerando também outros elementos pelo quais líderes devem estar mais atentos, como sustentabilidade e diversidade para além de Governança e, o mais importante, entrega de resultados.
Todos os setores profissionais têm sido afetados pelas mudanças e os inúmeros estudos, pesquisas e materiais produzidos buscam respostas para novos e antigos desafios de como motivar, envolver, engajar, atrair e reter talentos no mundo atual. E que é apenas prenúncio do que ainda acontecerá na sua versão futura.
Mas em particular no varejo e hospitalidade esses desafios ficam maiores pelas características das atividades nesses setores, em que o trabalho nos fins de semana, a intensidade da relação com consumidores mais empoderados e a menor condição de home office conspiram para ampliar as dificuldades”.
De forma simplista é possível ditar que a liderança não é mais aquela e vivemos um dos períodos mais complexos, pois convivem elementos de modelos de gestão elaborados e evoluídos a partir do passado com uma realidade em profunda, ampla e rápida transformação. Em que ideias e propostas devem ser ajustadas em tempo real.
E é o ser humano no centro de tudo que dita os novos desafios. O omniconsumidor metaempoderado na sua relação profissional ou de prestador de serviço também é o colaborador, funcionário, parceiro ou contratado, que precisa ser engajado, liderado, envolvido ou integrado para fazer parte da solução e não do problema.
Tão simples de enunciar e tão complexo de equacionar! A liderança deve buscar elementos para estimular o alcance das metas e objetivos impostos pelo ambiente e desafios em rápida evolução nesse cenário radicalmente distinto do passado, quando foram geradas as referências dos modelos ainda em uso. Sem esquecer as questões mais atuais envolvendo sustentabilidade, diversidade e governança (ESG).
O liderar pelo saber fazer acontecer ou fazer com que liderados façam acontecer é cada vez mais crítico pela questão das novas demandas e senso de urgência envolvidos no redemoinho em transformação do mercado.
Receber o funcionário ou colaborador no ambiente de trabalho tomando como exemplo os escritórios das empresas do setor de tecnologia é motivo de festa, congraçamento e comemoração, considerando os espaços destinados a experiências, alimentação, happy hour, meditação ou atividades físicas e intelectuais. Tudo para diferenciar, desenvolver a criatividade, a inovação e gerar soluções disruptivas.
Visitem escritórios da Google, Amazon, Linkedin, Tik Tok e Pay Pal e terão a constatação dessa realidade.
Na Ásia, escritórios de Alibaba, Tencent, JD, Didi, Huawei e outros, em maior ou menor escala, também mostrarão algo similar, porém de forma mais comedida.
O problema é que poucos negócios e setores permitem esse ambiente pelas mais diversas razões e por mais que a liderança assim deseje. Mas as novas referências estão criadas e são constantemente repensadas com empresas que declaram extinto o home office e outas que buscam o equilíbrio ideal dos dias presenciais e os virtuais.
Em especial no varejo e hospitalidade essas questões se tornam mais complexas pela constante e intensa interação com o público consumidor e a crescente pressão competitiva imposta pela ampliação da oferta de produtos e serviços.
No plano dos modelos e atitudes da nova liderança pós IA tudo indica que o conceito da liderança situacional, aquela que pressupõe um modelo múltiplo, ajustado ao perfil do liderado e não ao modelo único do líder, se torna ainda mais importante.
Ou seja, o ajuste do modelo de liderança a ser exercido vem de acordo com o perfil e a maturidade pessoal e profissional do liderado. Porém com o agravante da constante e permanente mutação de comportamento, precipitada pelos cenários em permanente mudança que afetam comportamentos dos liderados.
Os modelos de organização também estão em transformação
O elemento talvez mais importante para além dos desafios da liderança individual é o fato de que também vivemos a transição dos modelos de organização, em que os líderes operam e que também devem evoluir para contemplar o cenário já desenhado do mundo pós-Inteligência Artificial.
Em que flexibilidade, adaptabilidade, velocidade, iniciativa, inovação e criatividade sejam combinadas de forma virtuosa com o foco no que precisa ser feito: processos e métodos para gerar resultados consistentes e de longo prazo. Sob intensa e crescente pressão competitiva e de novos comportamentos e atitudes sociais que são cada vez mais demandados. Em especial pelas novas gerações.
O recente episódo Deep Seek é evidente exemplo do turbilhão constante e intenso que o ambiente de negócios precipita.
Nunca se sabe de onde virá a próxima ameaça, quão intensa será e quanto vai durar. E só sabemos que teremos que conviver com isso de forma permanente. E que zona de conforto foi algum dia um conceito que vigorou por algum tempo.
Nada tem sido tão eloquente nessa visão do que o comportamento do presidente Trump. Retrata muito bem (ou mal) as incertezas, desafios e volatilidade do ambiente mutável e mutante do mundo atual, potencializado pela Inteligência Artificial. Ou da falta de.
Vale refletir.
Nota
Em maio e junho estaremos em Missão Técnica envolvendo Coreia do Sul e Singapura.
Marcos Gouvêa de Souza é fundador e diretor-geral da Gouvêa Ecosystem e publisher da plataforma Mercado&Consumo.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
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