Por Rodrigo Anunciato*
A emoção interfere no processo de retenção de informação. É preciso motivação para aprender. A atenção é fundamental na aprendizagem. O cérebro se modifica em contato com o meio durante toda a vida. Para você, essas afirmações podem não ser inovadoras, porém a novidade é que as conclusões são fruto de investigações neurológicas recentes sobre o funcionamento cerebral.
Com base em evidências neurocientíficas, sabe-se que há uma correlação entre um ambiente rico e o aumento das sinapses (conexões entre as células cerebrais). Mas quem define o que é um meio estimulante para cada tipo de aprendizado? Como um profissional que participa de uma ação de treinamento corporativo irá reagir?
Responder a esta questão é o grande desafio do século 21, pois a estrutura educacional corporativa de hoje foi criada no final do século 20 e é preciso fazer um esforço para trazer as inovações e conclusões mais importantes dos últimos anos na área da ciência e da sociedade para os dias atuais.
Para tornar mais claro o diálogo entre neurociência e educação corporativa, vamos conhecer cinco conclusões neurocientíficas ligadas à aprendizagem:
1) A emoção interfere no processo de retenção da informação: quanto mais emoção contenha determinado evento, mais ele será gravado no cérebro, pois a pessoa é resultado da integração entre afetividade, cognição e movimento.
Desta forma, o profissional de treinamento, ao observar as emoções dos treinandos, pode ter pistas de como o meio corporativo os afeta: se está instigando emocionalmente ou causando apatia por ser desestimulante e com isso reverter um quadro negativo, que não favorece a aprendizagem;
2) A motivação é necessária para aprender: estudos comprovam que no cérebro existe um sistema dedicado à motivação e à recompensa. Assim, tarefas muito difíceis desmotivam e deixam o cérebro frustrado, sem obter prazer do sistema de recompensa. Por isso são abandonadas, o que também ocorre com as fáceis, pois a aprendizagem se dá através da relação entre o que já se sabe e o que o meio físico e social oferece.
Sem desafios, não há por que buscar soluções. Por outro lado, se a questão for distante do que se sabe, não são possíveis novas sínteses.
Desta forma, a ação de treinamento deve prover um espaço que motive e não somente que se ocupe em transmitir conteúdos. Para que isso ocorra, o profissional de treinamento precisa propor atividades que os participantes tenham condições de realizar, que despertem a curiosidade deles e os faça avançar. É necessário levá-los a enfrentar desafios, a fazer perguntas e procurar respostas;
3) A atenção é fundamental para a percepção e para a aprendizagem: prestamos atenção porque entendemos, ou seja, porque o que está sendo apresentado tem significado e representa uma novidade. Se há um desafio e se for possível estabelecer uma relação entre esse elemento novo e o que já se sabe, a atenção é despertada. Falta de atenção não é sinônimo de indisciplina ou de desinteresse por parte dos treinandos. Ela pode ser decorrente de um meio desestimulante ou de situações inadequadas à aprendizagem. Para evitar isso, o profissional de treinamento deve focar a interação entre ele, o saber e o participante, refletindo sobre as atividades propostas e modificando-as se necessário;
4) O cérebro se modifica em contato com o meio durante toda a vida: a interferência do ambiente no sistema nervoso causa mudanças anatômicas e funcionais no cérebro. Assim, a quantidade de neurônios e as conexões entre eles (sinapses) mudam dependendo das experiências pelas quais se passa. A aprendizagem, portanto, cabe ao profissional de treinamento propor, orientar e oferecer condições para que se exerçam as potencialidades;
5) A memória é mais efetiva na associação com um conhecimento já adquirido: podemos simplesmente decorar uma nova informação, mas o registro se tornará mais forte se procurarmos criar ativamente vínculos e relações daquele conteúdo com o que já está armazenado em nosso arquivo de conhecimentos. Assim, aprender não é só memorizar informações. É preciso saber relacioná-las, ressignificá-las e refletir sobre elas. É tarefa do profissional de treinamento, então, apresentar bons pontos de ancoragem, para que os conteúdos sejam aprendidos e fiquem na memória, e dar condições para que os treinandos possam construir sentido sobre o que estão recebendo durante uma ação de capacitação.
Ao profissional de treinamento, cabe se alimentar das informações que surgem, buscando fontes seguras, e não acreditar em fórmulas mágicas para realizar suas ações de treinamento, uma vez que a Neurociência mostra que o desenvolvimento do cérebro decorre da integração entre o corpo e o meio social.
*Rodrigo Anunciato (rodrigo.anunciato@gsmd.com.br) é gerente de Soluções e Projetos da GS&MD – Gouvêa de Souza