Com a ascensão da hiperconveniência e a evolução do comportamento dos superconsumidores, que rapidamente incorporam novas tecnologias e abordagens em seus hábitos de consumo, a Inteligência Artificial (IA) emerge como uma ferramenta essencial para que varejistas e indústrias de bens de consumo, por meio de suas marcas, possam se adaptar e encarar de forma pragmática essas mudanças.
Uma pesquisa recente da Shopify indica que os consumidores estão cada vez mais integrando a Inteligência Artificial em suas jornadas de compra. Por exemplo, durante o período de compras natalinas, ferramentas de IA auxiliaram na personalização da experiência do comprador, com 37% dos consumidores acreditando que a IA tornou as compras mais fáceis e agradáveis.
De acordo com o relatório “O que importa para o consumidor de hoje” de 2025, publicado pelo Capgemini Research Institute, a IA generativa está revolucionando as experiências de compra. O estudo revela que 71% dos consumidores desejam que essa tecnologia seja integrada às suas interações de compra, evidenciando uma forte preferência por personalização e experiências digitais fluidas, especialmente entre as gerações Z e Millennials.
Além disso, 58% dos entrevistados substituíram os mecanismos de busca tradicionais por ferramentas de IA generativa para obter recomendações de produtos e serviços, indicando uma mudança significativa na forma como os consumidores buscam informações e tomam decisões. O entusiasmo em relação ao impacto da IA generativa nas compras online é notável, com 46% dos consumidores expressando empolgação com essa tecnologia. Notavelmente, três quartos dos entrevistados estão abertos a receber recomendações de IA, um aumento em relação aos 63% registrados em 2023.
Esses dados destacam a crescente importância da Inteligência Artificial generativa na modelagem das preferências e dos comportamentos dos consumidores, sinalizando uma tendência que varejistas e marcas devem considerar ao desenvolver estratégias de engajamento e personalização.
O papel da IA na transformação do varejo
A hiperconveniência refere-se à capacidade de oferecer aos consumidores experiências de compra extremamente eficientes, fluídas e personalizadas. A IA desempenha um papel crucial nesse contexto ao possibilitar:
- Personalização de ofertas: analisando dados de comportamento e preferências, a IA pode sugerir produtos alinhados aos gostos individuais de cada cliente.
- Atendimento automatizado: assistentes e agentes virtuais fornecem respostas imediatas a dúvidas, processam pedidos e oferecem suporte 24/7, melhorando a experiência do usuário.
- Gestão de estoque e logística: algoritmos de IA preveem demandas, otimizam estoques e agilizam entregas, garantindo que os produtos certos estejam disponíveis no momento certo.
E esses são apenas alguns exemplos do que precisa ser feito para que sejamos capazes de competir nesse novo contexto, que está se materializando nas relações de consumo.
Varejistas e marcas: adoção lenta, oportunidades enormes
Apesar do entusiasmo dos consumidores, muitos varejistas e marcas ainda estão em estágios iniciais de adoção da IA. Nosso estudo revela que a adoção dessas tecnologias, por parte de varejistas e marcas de bens de consumo, ainda está em estágio inicial, mas isso está prestes a mudar. Além disso, uma pesquisa da Nvidia indica que, pelo menos, 9 em cada 10 varejistas estão adotando ou testando a Inteligência Artificial, utilizando-a para reimaginar modelos de negócios, desde experiências na loja até plataformas digitais omnicanal, incluindo comércio eletrônico, canais móveis e sociais.
Embora a adoção por varejistas e marcas de bens de consumo ainda esteja em desenvolvimento, há uma tendência crescente de investimento e implementação dessa tecnologia para atender às expectativas dos consumidores por experiências de compra mais personalizadas e eficientes, mas a hesitação por parte dos consumidores reflete a falta de iniciativas mais robustas por parte das empresas em integrar a IA de forma transparente e benéfica para os clientes até o momento.
Algumas empresas já adotaram a IA de maneira eficaz e vêm colhendo resultados positivos. A Lego desenvolveu ferramentas que utilizam algoritmos de IA para analisar preferências dos consumidores, sugerir conjuntos personalizados e auxiliar os fãs a materializarem suas ideias, enriquecendo a experiência de compra e construção. A Amazon desenvolveu o Rufus, um assistente virtual que utiliza IA para auxiliar os clientes na escolha de presentes e sugerir opções personalizadas com base nas preferências e no histórico de compras do cliente, tornando o processo de seleção de presentes mais eficiente e agradável.
A necessidade de ação imediata
Com o avanço dessas tecnologias, é imperativo que varejistas e indústrias de bens de consumo reconheçam o potencial transformador da Inteligência Artificial. Ao adotarem essas práticas, não apenas atenderão às expectativas de hiperconveniência dos consumidores modernos, mas também se posicionarão de forma competitiva em um mercado em constante evolução.
A era da resposta acionável já começou, e aqueles que não acompanharem essa transformação estarão fora do jogo.
Mauricio Andrade de Paula é diretor de Soluções para Bens de Consumo, Varejo e Distribuição da Capgemini Brasil.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
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