Pensar um pouco mais à frente em relação ao que já é previsível é uma questão de sensibilidade, conhecimento, método, experiência, mas, sobretudo do exercício de desenvolver um olhar sobre o futuro considerando diversas outras possibilidades.
Desenvolver um olhar para o futuro ajuda a antecipar situações que podem afetar diretamente a sua vida pessoal, profissional e as organizações, levando à tomada de decisões de formas mais acertadas. Se antes esta era apenas uma característica desejável e digna de diferenciação, nos dias atuais é uma habilidade decisiva para carreiras e empresas em qualquer segmento de atuação. Saber lidar com a incerteza passou a ser uma vantagem altamente competitiva.
Saber olhar para o futuro, com método, ajuda empresas e pessoas a se prepararem para mudanças, repentinas ou não, e a gerenciarem incertezas, além de facilitar a expansão do pensamento criativo, promovendo a busca de alternativas inovadoras.
Expandir o pensamento criativo é desafiar o que já é conhecido, o presente e o status quo, fazendo perguntas que ninguém jamais ousou fazer. Principalmente considerando que o futuro trafega em um vasto conjunto de possibilidades que podem se desdobrar de forma altamente veloz e surpreendente, olhar para o futuro não significa prever o futuro. Futuros aceitam ser criados, moldados ou evitados e observá-los com atenção nos permite traçar cenários, oferecer visões e criar estratégias mais certeiras.
Lamentavelmente, a visão que grande parte das organizações têm sobre o futuro ainda está conectada apenas e tão somente aos planos de negócios, demonstrativos de resultados e inúmeras outras projeções financeiras. Para criar o futuro, precisamos também mesclar o vocabulário comum de produtividade, eficiência e lucro com novas definições do que significa criar negócios sustentáveis, adotar uma visão mais humanizada nos ambientes de trabalho e criar projetos e inovações que tenham real significado para as pessoas. Precisamos de mais organizações que sejam exponencialmente humanas.
A boa notícia é que as crescentes preocupações com o impacto disruptivo da tecnologia nas relações, nos negócios e na sociedade começam a indicar um novo cenário: uma economia compartilhada, mais humana e sustentável, fomentada por líderes e colaboradores mais comprometidos com a missão de encontrar um significado real em seus trabalhos.
Em um futuro muito próximo, veremos um equilíbrio maior entre a necessidade de eficiência e produção de lucro nas empresas e o desejo delas de criar uma cultura rica em significado. Isso porque, se por um lado, a pressão social por empresas com propósito e produção de valor compartilhado crescerá ainda mais, por outro, cada vez mais profissionais, principalmente das novas gerações, buscarão um trabalho mais significativo e em formatos completamente diferentes das definições convencionais de trabalho e carreira que conhecemos hoje.
Igualmente, os líderes reconhecerão a importância de aspectos dos chamados soft skills, valorização das emoções, empatia e visão holística como fatores críticos de sucesso nos negócios. Estas habilidades são essencialmente importantes onde está cada vez mais em discussão a ideia de que a nossa tomada de decisões nos negócios é puramente racional.
Considerando a complexidade dos ambientes de negócios hoje, a tomada de decisão racional e pragmática, isolada, não será mais suficiente para endereçar os problemas atuais. Há uma percepção cada vez maior de que, embora pareça estarmos mais seguros quando baseados em fatos concretos, fatores sutis como, por exemplo, a intuição, podem ser mais decisivos no sucesso de um projeto ou de toda uma organização.
Deparamo-nos hoje com um mundo altamente desafiador e, ao longo de toda a história da humanidade, nunca tivemos tanta imprevisibilidade, incerteza e volatilidade. Nunca vivenciamos um ritmo tão acelerado de mudanças e nem tantos problemas complexos e conflitantes. É possível sim pensar e decidir de forma mais holística e a intuição e imaginação podem nos ajudar nesta tarefa.
Neste contexto, arriscaria afirmar que uma característica primordial de um grande líder poderá ser ter um grande coração. Isso significa ter a capacidade de ouvir, ser empático e agir, mesmo contrariando dados do conhecimento objetivo, confiando em um conhecimento mais subjetivo como a imaginação, a intuição e a empatia.
Indo além, talvez a melhor forma de exercitar a liderança focada no futuro seja manter o coração e a mente abertos como um mindset complementar à análise de dados e fatos. Porque ter a coragem de se lançar no escuro e explorar o desconhecido depende muito da nossa capacidade de saber ouvir.
Imaginação e intuição são habilidades que as máquinas ainda não podem copiar.
Talvez a única forma de liderar, à medida que enfrentamos o desafio de um tempo de rápidas inovações com a transformação digital, um maior volume de informações e de decisões mais complexas, seja mudarmos definitivamente para uma combinação mais equilibrada entre dados, fatos, intuição, empatia e coração. Inegavelmente uma arte.
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