O desafio está posto. E é quase asfixiante. Temos que repensar negócios, atividades, prioridades, investimentos e apostas considerando cenários, ameaças e oportunidades num ambiente em que o conceito VUCA, cada vez mais atual, está agora exponenciado a 5G.
O conhecido VUCA (do inglês Volatility, Uncertainty, Complexity e Ambiguity, ou Volátil, Incerto, Complexo e Ambíquo) foi lançado no já muito distante final dos anos 1980, mas sua atualidade é cada vez maior. Ele deveria ser exponenciado de alguma forma pela velocidade da transformação da realidade presente e futura.
Mais recentemente propôs-se, como evolução do VUCA, o mundo BANI (também do inglês Brittle – Frágil, Anxious – Ansioso, Nonlinear – Não Linear e Incomprehensible – Incompreensível).
Se quisermos buscar siglas para representar os cenários atuais e futuros, não vão faltar combinações possíveis de conceitos gravitando em torno de tudo que tenha relação com incerteza, volatilidade, exponenciação da velocidade de mudança, fragilidade, desigualdade e muitas mais propostas.
Reconhecer essa situação é um bom começo, mas o maior desafio é como os líderes devem repensar organizações, negócios e empresas, para ficar só nesse plano, nesse ambiente que, tudo indica, tenderá a tornar obsoleto qualquer novo conceito à medida que o processo e a velocidade de transformação se aceleram ainda mais.
Para todos aqueles pouco acostumados a desenho de cenários, visão e planejamento de longo prazo – no Brasil uma das heranças malditas dos muitos anos de inflação elevada que desestimulava essas práticas -, é cada vez mais complexo desenvolver projetos no cenário atual, quase validando o desapreço por essa prática.
Que, só para lembrar, parece ser exatamente o que acontece em diversas esferas de governo dada a ausência de um projeto de longo prazo para o Brasil, que continua a ser administrado pelo tático, pontual e casual.
Nada mais equivocado.
Quanto mais complexo e indecifrável o cenário futuro, mais relevante é estudar caminhos para permitir escolhas mais acertadas ante a profusão de alternativas.
Qualquer planejamento é melhor do que nenhum.
Mas é inegável que precisamos desenvolver organizações flexíveis, ágeis, adaptáveis, fluídas, atentas e em permanente e constante evolução e inovação em suas estratégias e operações, e ao mesmo tempo estruturadas e rígidas em seus valores.
A cultura das organizações deve refletir essa desejável dualidade de comportamento.
Sempre é perigoso olhar o horizonte e propor conceitos passíveis de serem definitivos, mas o desafio da liderança nos momentos atuais e futuros parece cada vez mais ser mais complexo. A velocidade de substituição de líderes em muitos negócios é um indicador importante desse aspecto, especialmente nos ambientes que têm a inevitável cobrança rígida de desempenho de curto prazo combinada com os movimentos estratégicos de longo prazo.
O que parece cada vez mais claro é que a complexidade dos ambientes atuais e futuros pede mais visões colegiadas, estruturadas, integrando competências distintas e até divergentes em uma cultura em que o novo e a inovação sejam parte integrante do mantra da organização e os líderes seus pregadores, especialmente pelo exemplo pessoal e pelo estímulo institucional.
Parece não existir exatamente um modelo único, mas tudo indica que as organizações que têm se desafiado no caminho dos Ecossistemas de Negócios, quando de fato incorporam o conceito, têm se diferenciado em sua capacidade de crescer mais rapidamente e aproveitar os movimentos de mercado para se valorizarem mais e de forma consistente e constante.
Na realidade brasileira, o desempenho de Magalu, Via, Americanas, Mercado Livre, Vivo, Carrefour e outros tem sido eloquente nessa sinalização.
Mas é preciso mergulhar fundo para não imergir na onda dos Ecossistemas de Negócios, por seu poder como “buzzword”, ignorando tudo que é pressuposto em termos de Cultura, Organização, Visão Sistêmica, Redesenho de Atuação, Estratégia, Gestão de Talentos e Investimentos.
A vantagem é que, como conceito relativamente novo no mundo dos negócios, todos estão aprendendo e reaprendendo tudo nas diferentes geografias do mundo e nos diferentes segmentos e áreas de atuação e o conhecimento estruturado e organizado está sendo desenvolvido em tempo real.
O que torna todo o processo intensamente mais rico e desafiador.
E convida a muitos debates, discussões e compartilhamento de aprendizados.
Nota: O Ecossistema Gouvêa desenvolveu metodologia própria integrada e plural de revisão estratégica combinando suas competências ligadas à economia e às transformações estruturais, comportamentais e de mercado, por categoria, canal e segmentos de consumo e geográfico, para apoiar negócios no repensar de suas atividades presentes e futuras.
Marcos Gouvêa de Souza é fundador e diretor-geral da Gouvêa Ecosystem e publisher da plataforma Mercado&Consumo.
Imagem: Shutterstock