Depois de nove meses em quarentena, a maioria da população diz que vai se vacinar contra o coronavírus, assim que ela estiver disponível: 64% pretendem se vacinar com certeza; 24% poderão se vacinar; e apenas 8% dizem que com certeza não tomarão a vacina. Ainda assim, a opinião sobre a obrigatoriedade da vacina divide os brasileiros: 49% são a favor e 49%, contra.
Essas são algumas das principais revelações da quinta edição do Observatório da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) – pesquisa feita entre os dias 22 e 30 de novembro com 3 mil entrevistados, acima de 18 anos, em todas as regiões do País. Nesta edição, o estudo ouviu a população sobre o impacto da crise na vida das famílias, quais os segmentos e as personalidades que mais contribuíram para o enfrentamento da crise do coronavírus, o aumento da bancarização, a confiança nas instituições bancárias, as expectativas para o próximo ano e a vacinação.
A pesquisa mostra que o brasileiro está otimista em relação à sua situação pessoal em 2021, acreditando que sua vida vai melhorar. No entanto, a maioria da população ainda mostra apreensão quanto à economia. Os brasileiros apontam a crise econômica (57%) e o aumento do desemprego (45%) como os principais problemas que o Brasil enfrentará em 2021. A pandemia ainda permanece no horizonte de inquietações (29%). Mesmo com os efeitos da crise causada pela pandemia, prevalece a expectativa de melhora a curto e médio prazo: mais de 40% esperam recuperação das finanças familiares ainda no ano que vem. E 39% acreditam na recuperação para depois de 2021.
“O Observatório mostra que brasileiro está otimista em relação à sua vida pessoal para 2021, mas que tem os pés no chão, já que a pandemia continua e a maioria acredita que a plena recuperação da economia nacional só acontecerá após o próximo ano”, diz Isaac Sidney, presidente da Febraban.
Para o cientista político e sociólogo Antonio Lavareda, presidente do Conselho Científico do Ipespe, o ano de 2021 chegará com muitos desafios, sendo os principais deles o enfrentamento da crise econômica, o combate ao desemprego e a superação da nova fase da pandemia. “Mas, sem dúvida, encontrará uma sociedade mais madura e consciente da necessidade de enfrentar seus problemas com a responsabilidade compartilhada entre todos os atores: sociais, econômicos e políticos”, diz Lavareda.
O Observatório Febraban, pesquisa mensal Febraban-Ipespe, é parte de uma série de medidas da federação para ampliar a aproximação dos bancos com a população e a economia real.
Confira os principais resultados do levantamento:
Impacto do Covid nas famílias
Ao final do ano de 2020, a grande maioria das famílias brasileiras se diz afetada financeiramente pela crise do coronavírus (61%): 31% muito afetadas, e 30% afetadas. Apenas 12% consideram que a situação financeira da família não foi afetada, e 26% teriam sofrido pouco impacto da crise. O impacto da crise sobre as finanças familiares se traduz na expectativa majoritária de redução dos gastos no Natal, em comparação com o ano passado: 77% planejam gastar menos, contra apenas 5% de expectativa de aumento de gastos e 16% de repetição do Natal de 2019.
Expectativas de recuperação
A expectativa de melhora a curto e médio prazo prevalece: mais de 40% esperam recuperação das finanças familiares ainda no ano que vem e 39% acreditam na recuperação mais dilatada, após 2021. Os pessimistas (“não vai se recuperar”) representam apenas 4% dos brasileiros.
Expectativas pessoais
As expectativas positivas no plano pessoal aumentam as boas expectativas do brasileiro: 15% se sentem muito otimistas e 37%, otimistas. Em clima de cautela estão 26% dos brasileiros (nem otimistas, nem pessimistas), enquanto os pessimistas e muito pessimistas somam 18%. Esse otimismo cresce com o aumento da renda e da escolaridade, e é muito acentuado entre os moradores da região Norte do País (61%).
Prioridade para a poupança
Se as expectativas positivas se confirmarem, e sobrar dinheiro no orçamento, os entrevistados têm disposição para poupar e investir: poupança e outros investimentos bancários chegam a 69% de menções. Há um crescimento em relação à pesquisa Observatório Febraban de julho, quando apenas 37% tinham a expectativa de investir sobras do orçamento doméstico em poupança e investimentos bancários.
A sobra vai para consumo
Outras expectativas para 2021 é se possível, reformar ou comprar um imóvel (42%). Já a intenção de investimento na compra de carro ou moto subiu de 10% no Observatório Febraban de julho para 19%. A pretensão de investir em cursos e melhoria da Educação da família aumentou de 16% para 27% em dezembro.
Impacto da economia brasileira
A percepção de impacto da crise do coronavírus sobre a economia brasileira é significativa: chega a 92% o percentual dos que consideram que a economia brasileira foi muito afetada (72%) ou afetada (20%). Prevalece a percepção de dificuldade para a saída da crise. Dois terços (66%) imaginam que a recuperação da economia brasileira só acontecerá depois de 2021.
Maiores problemas do País em 2021
Os brasileiros apontam a crise econômica (57%) e o aumento do desemprego (45%) como os principais problemas que o Brasil enfrentará em 2021. A pandemia ainda permanece no horizonte de inquietações (29%). As dificuldades na área da Educação figuram no radar de preocupações de apenas um quinto dos brasileiros (21%). Outros problemas de Saúde (15%), aumento da violência (11%) e queimadas/desmatamento (9%) aparecem como problemas desafiadores com citações inferiores a 20%.
Economia melhor em 2021
De modo geral, as expectativas para o desempenho de áreas específicas da economia em 2021 mostram que os brasileiros mantêm o otimismo. Entre os entrevistados, 55% acreditam na melhora da oferta de emprego (29%) ou que fique na mesma (26%); 64% apostam que o acesso ao crédito irá aumentar (24%) ou permanecer como está (40%). A expectativa é menos favorável quanto ao poder de compra das pessoas (47%), sendo que 18% indicam melhoria e 29% que irá se manter. Quanto à inflação e ao custo de vida, 31% acham que irá melhorar (13%) ou ficar na mesma (18%). Sobre os juros (34%), 11% afirmam que irá melhorar e 23% que irá ficar igual.
A segunda onda da Covid-19 e o Natal
É expressivo o conhecimento sobre a segunda onda de Covid-19 na Europa (92%), assim como elevada a expectativa de uma segunda onda também no Brasil (82%). A maioria dos brasileiros pretende evitar se reunir presencialmente no Natal com familiares que não moram na residência – 42% não têm planos para se reunir e um quinto (21%) pretende se reunir com a família por chamada de vídeo. Pouco menos de um terço (30%) tem a intenção de se reunir com os parentes nas festas natalinas.
Vacinação
Quando estiver disponível, a vacina terá ampla adesão dos brasileiros: 64% pretendem se vacinar com certeza; 24% poderão se vacinar; e apenas 8% dizem que não tomarão a vacina com certeza. Os índices mais elevados de “com certeza não irá tomar” se encontrem exatamente nos segmentos mais vulneráveis: os mais idosos (11%) e com menor grau de escolaridade (12%). A opinião sobre a obrigatoriedade da vacina divide os brasileiros: 49% são a favor e 49%, contra.
Confiança nas instituições
No comparativo estimulado dos segmentos da atividade econômica mais solidários durante a pandemia, o setor bancário vem em primeiro lugar: bancos (29%), indústria (18%), serviços/comércio (14%), agricultura e pecuária (5%).
Avaliação das instituições
As empresas privadas lideram a avaliação positiva (ótima/boa) da atuação de instituições no enfrentamento à crise do coronavírus: empresas privadas (54%), bancos (52%), instituições religiosas (51%), imprensa (51% ), Forças Armadas (48%), governos estaduais (48%), prefeituras (46%), Governo Federal (44%), Judiciário (34%), Congresso (32%). Na comparação direta entre as três esferas do Executivo, o Governo Federal fecha o ano de 2020 em posição semelhante à dos governos estaduais, ambos com 35% entre os que mencionaram alguma esfera. As prefeituras comparecem com 29%.
Instituições com maior visibilidade
O Instituto Butantan é o laboratório nacional que conquistou maior visibilidade (74%), destacando-se em posição de liderança entre os que responderam à pergunta estimulada; na segunda posição, vem a Fiocruz, com 63% das menções; e num distante terceiro lugar o Instituto de Infectologia Emílio Ribas (14%).
Personalidades médicas com maior visibilidade
Em pesquisa estimulada, Drauzio Varella aparece como personalidade médica de maior destaque no envolvimento com estudos e pesquisas sobre o coronavírus (54%), entre os que citaram algum nome. Vêm, na sequência, Roberto Kalil Filho (35%), Ana Escobar (25%), David Uip (24%), Margareth Dalcolmo (20%) e Claudio Lottemberg (16%).
Poder Judiciário e Legislativo
Para os entrevistados, a corte superior que mais contribuiu com o País em 2020 foi o Supremo Tribunal Federal, com 48% das citações. O Superior Tribunal de Justiça (STJ) teve 30% das menções e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 23%. Já na avaliação do trabalho das casas legislativas, a Câmara dos Deputados (66%) tem praticamente o dobro das menções do Senado (34%).
Bancarização
Houve expressivo aumento da bancarização, que saltou para 84% dos brasileiros, assim como a adesão crescente à digitalização das atividades bancárias. Impulsionado ainda mais pela novidade do Pix, já amplamente conhecido dos entrevistados. Segundo dados do Banco Central, divulgados em outubro, quase 10 milhões de brasileiros se bancarizaram desde março, mas ainda há 36 milhões de pessoas sem relacionamento com instituições bancárias.
Digitalização bancária
A pandemia também contribuiu para o aumento da utilização do atendimento bancário digital. Perto de 60% dos pesquisados afirmam que, com a pandemia, passaram a utilizar mais os canais virtuais; 27% utilizam como antes e apenas 8% estão utilizando menos.
Satisfação com serviços bancários
O nível de satisfação com os serviços bancários no segmento bancarizado encontra-se em patamar bastante elevado, com 71% sentindo-se muito satisfeitos e satisfeitos.
Pix
O Pix já era amplamente conhecido, ao menos de ouvir falar, por 80% dos brasileiros no momento da pesquisa. Mesmo na base da instrução e da renda, o Pix é bastante conhecido: por 74% dos que têm o ensino fundamental e por 75% dos que têm renda familiar de até 2 salários mínimos. No universo dos que conhecem o Pix, sua aprovação é de 76%. A expectativa predominante é a de que os bancos (32%) cobrem tarifas mais baratas das empresas pelo Pix do que as fintechs (18%), enquanto 30% apostam na opção “ambos”. No quesito segurança, 48% consideram que os bancos vão oferecer um Pix mais seguro, ao passo que apenas 7% citam as fintechs, e 33%, ambos.
Contribuição dos bancos na pandemia
Na avaliação estimulada das contribuições específicas dos bancos para o País, a população e seus clientes na crise do coronavírus corroboram a valorização das ações e iniciativas agregadas em quatro eixos: a) facilidade no pagamento e negociação de empréstimos, e acesso a crédito (86%); b) melhoria da tecnologia e canais digitais, e da segurança dos dados (66%); c) doações de dinheiro, insumos e equipamentos (47%); d) orientação/incentivo ao uso de máscara (27%). O item “orientações de especialistas para ajudar a preservar investimentos” teve 16% de menções.
Imagem: Bigstock