O comportamento de consumo dos brasileiros passou por profundas transformações ao longo dos últimos 30 anos, desde a implementação do Plano Real, em 1994, tornando-se multifacetado e complexo. É o que aponta o estudo Full View, da NielsenIQ, que faz uma ampla análise do varejo online e offline do Brasil.
Muitos insights podem ser extraídos da pesquisa, mas a companhia destacou três importantes mensagens: os eventos que moldaram a formação do novo consumidor, a mudança de paradigmas no comportamento de consumo e o conceito do consumo não linear.
O que moldou o consumidor brasileiro depois do Plano Real
Desde a introdução do Plano Real, em 1994, o Brasil experimentou uma estabilidade econômica que transformou o cenário de consumo. A inflação foi controlada, o poder de compra aumentou e o acesso ao crédito foi ampliado, permitindo que milhões de brasileiros ascendessem à classe média.
Os principais pontos de destaque são:
- Estabilidade econômica: A inflação, que antes era desenfreada, foi controlada, resultando em um ambiente econômico mais previsível. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) caiu significativamente para 3,69% em 2024, o que, embora ainda seja baixo para o histórico brasileiro, continua como um ponto de atenção para o consumidor.
- Acesso ao crédito: Entre 2003 e 2008, mais de 32 milhões de brasileiros ingressaram na classe média, que representava 53% da população em 2012, contra 38% em 2002. Atualmente, representam 47%.
- Bens duráveis: O acesso a bens duráveis cresceu, com aumento na posse de geladeiras, televisores e máquinas de lavar roupa em domicílios brasileiros.
Mudança de paradigma do consumidor
A última década foi marcada por uma série de crises econômicas, políticas e sanitárias, que impactaram profundamente o comportamento do consumidor brasileiro. A preocupação com as mudanças climáticas e o bem-estar tornou-se central, influenciando diretamente as decisões de compra.
Os principais pontos de destaque são:
- Influência das redes sociais: 56% dos consumidores afirmam que as redes sociais influenciam suas decisões de compra, destacando o poder da viralização online.
- Busca por indulgências: Apesar da inflação e da recessão, produtos de indulgência, como salgadinhos, creme de chocolate, mantiveram crescimento em volume. A pandemia acentuou essa tendência, com os consumidores buscando pequenas recompensas para equilibrar as adversidades econômicas.
- Endividamento e consumo racionalizado: A classe C, mais endividada, começou a reduzir o volume de consumo, optando por produtos mais baratos e embalagens maiores para maximizar o custo-benefício.
Consumidor multiverso e não-linear
O relatório Full View, da NielsenIQ, introduz o conceito do consumidor multiverso. Em outras palavras, significa um perfil multifacetado, que revela novas dimensões de desejos e necessidades. Este consumidor navega entre diferentes categorias de produtos e canais de venda, sendo altamente influenciado pelas redes sociais e viralização online. As escolhas de consumo são complexas e não-lineares, exigindo das marcas uma compreensão aprofundada e estratégias diferenciadas para capturar oportunidades de mercado.
Os principais pontos de destaque são:
- Geração Z e millennials: A geração Z passa mais tempo em pesquisas online. Desses jovens, 56% dizem ser influenciados pelas redes sociais nas decisões de compra. Sites de busca, comparadores de preço e redes sociais são os principais canais utilizados.
- Elasticidade e estratégias de preço: Marcas premium e econômicas (high e low) crescem 50% acima do mainstream, mostrando a importância de uma estratégia de diferenciação para capturar o consumidor.
Bens de consumo rápido
A expansão do e-commerce ampliou o acesso às categorias de FMCG (da sigla, em inglês, Fast-Moving Consumer Goods, que significa bens de consumo rápido) , que vêm ganhando espaço nos carrinhos de compra online, com destaque para alimentos e bebidas, cosméticos e saúde.
As transformações no cenário econômico e social brasileiro moldaram um consumidor multifacetado e exigente. O estudo Full View, da NielsenIQ, destaca a necessidade das marcas adaptarem suas estratégias para atender a um consumidor que busca equilíbrio entre racionalidade e indulgência, influenciado por um ambiente digital dinâmico.
Para a consultoria, este estudo é essencial para entender as nuances do comportamento de consumo no Brasil e como as marcas podem se posicionar para capturar essas novas oportunidades.
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