Marcelo Tas conduz painel sobre o futuro da Inteligência Artificial na Campus Party

Debate com Ricardo Cappra e Dani Monteiro abordou desde ciladas da IA aos "vieses" gerados por dados tendenciosos

Meia hora antes de Marcelo Tas subir ao palco da Campus Party, todas as cadeiras estavam ocupadas para acompanhar o painel “Explorando o futuro da Inteligência Artificial”, conduzido pelo apresentador, comentarista e escritor, nesta quinta-feira, 11, com as presenças de Ricardo Cappra, cientista de dados, e de Dani Monteiro, mestre em Engenharia da Computação. No início da conferência, o público havia se multiplicado pelo corredor e pelo entorno do palco. Não se tratava de mera curiosidade. Tas é dono de uma habilidade particular para comunicar conteúdos, incluindo os desafiadores, para uma geração jovem e ansiosa por informação. A Campus Party, integrante da Gouvêa Ecosystem, é o maior festival de tecnologia, empreendedorismo, disrupção e ciências do País. A Mercado&Consumo é media partner e faz uma cobertura especial do evento, que acontece no Expo Center Norte, em São Paulo, até o dia 14 de julho.

A conferência durou cerca de 50 minutos, com abertura de microfone para perguntas da plateia. O tema foi amplamente discutido desde a linguagem atual – bastante técnica – para comunicar projetos de Inteligência Artificial, passando por vieses e preconceitos de dados ao futuro da humanidade ao lado de máquinas cada vez mais intuitivas e autônomas.

Ciladas da IA e algoritmo enviesado

Para Marcelo Tas, uma das ciladas em que as pessoas, geralmente, tropeçam no debate sobre o uso da IA é limitar o seu entendimento à construção de robôs. Para Dani Monteiro, é a crença de que a Inteligência Artificial resolverá tudo e substituirá todas as pessoas. Cappra ressalta a “lógica do idioma”, isto é, envelopar a IA como “coisa de programador ou como um cluster isolado do mundo”. “É uma cilada deixar essa conversa ser técnica”, disse o cientista.

Os três palestrantes concordaram que é preciso sair da linguagem técnica para uma abordagem social e emocional da ferramenta, e também inclusiva, para que a sociedade possa compreender não apenas o uso e o impacto da tecnologia, mas quem pensa e a desenvolve, que tipos dados são inseridos e geram aprendizado para as máquinas para serem revertidos em resultados de busca posteriormente.

Sobre essa questão, a engenheira explicou como grupos menorizados – negros, LGBTQIAPN+, mulheres e indígenas – se tornam “vítimas” da IA, por exemplo, na busca por oportunidade de trabalho, na geração de imagens ou reconhecimento facial.

Primeiramente, ela chamou a atenção para o fato de que os dados são fornecidos por pessoas brancas com acesso à tecnologia. Mesmo sem fornecer estudos precisos, a pandemia de covid-19 mostrou o Brasil profundo e as discrepâncias no acesso à internet, realidade que se repete entre países ricos e pobres.

Não se pode esquecer que, ainda hoje, historiadores de toda parte recontam a história dos países ou da humanidade, buscando incluir as vozes silenciadas pelo poder de dominação armamentista, cultural e econômico. Para se ter uma ideia do que isso significa, e de um modo bem simples, Dani lembrou que à mulher, historicamente, é atribuído o papel de “cuidadora”. Essas informações circulam pela internet, pela literatura, etc.

Segundo ela, na busca por uma oportunidade, entre duas vagas, uma para a Engenharia e outra para Enfermagem, o algoritmo entende que “ser mulher” combina com Enfermagem, e não mostra, em seus resultados, as vagas técnicas, em geral, apresentadas aos homens. “Eu tenho um atributo que o meu algoritmo considera e determina uma decisão. E isso prejudica algum grupo social”, observou.

Hoje em dia, não há mais a necessidade de ser programador para determinar os resultados de uma Inteligência Artificial, basta ensiná-la com dados, o que está ao alcance de qualquer pessoa. Nesse sentido, Ricardo Cappra acredita que, assim como as pessoas, “as máquinas também alucinam”, dependendo do tipo de dados que irão receber. Do seu ponto de vista, o futuro trará a dicotomia entre “o bem e o mal” em alta performance e com rapidez incontrolável, mas sempre estará sujeita à informação inserida por pessoas.

Por outro lado, o cientista não acredita em dominação da ferramenta. Para ele, a Inteligência Artificial sempre irá complementar as atividades humanas, como assistentes altamente habilitados e com capacidade de armazenar e relacionar dados e informações impossíveis a uma pessoa comum.

O trabalho está ameaçado pela tecnologia?

“Quem está preocupado em perder o seu trabalho para um robô é só não trabalhar como um robô. Porque quem tem um trabalho automatizado, faz tudo sempre do mesmo jeito, ela [IA] vai fazer muito mais rápido e mais barato”, disse Marcelo Tas sobre as ameaças aos empregos com o avanço da Inteligência Artificial. “Agora, quem é criativo, quem tem uma postura crítica, quem faz perguntas que não forma feitas dentro do ambiente de trabalho para resolver problema, por exemplo, é, talvez, a era mais importante em oportunidade para essa pessoa”, concluiu.

Durante a conferência, Cappra lembrou do surgimento de vagas de trabalho para “engenheiros de prompt”, uma função criada recentemente a partir da necessidade de integrar às equipes “perguntadores” bem capacitados para estabelecer conversas com as máquinas e treiná-las.

Ou seja, em períodos de mudanças sem precedentes, certamente, a Inteligência Artificial assumirá algumas tarefas, sim. Entretanto, como reforçou Dani Monteiro, ainda estamos muito distantes de atingir uma maturidade tecnológica que substitua pessoas. Na opinião dela, aliás, “precisaremos ser humanos por muito tempo até estarmos prontos para ensinar a IA” tudo o que precisa saber, especialmente, aspectos como empatia na tomada de decisões.

Após a apresentação do painel, Marcelo Tas lançou o livro “Hackeando sua carreira: como ser relevante num mundo em constante transformação”, pela editora Planeta Estratégia, e ficou à disposição dos interessados em ter a obra autografada e tirar fotos.

Como pessoas e robôs poderão coexistir?

A Campus Party olha para o futuro e busca entender, em parceria com a sociedade, como pessoas e robôs poderão coexistir, avalia o CEO do evento, Tonico Novaes, que se sente pessoalmente renovado a cada nova edição – e já são 16 com a deste ano.

A consulta pública sobre Inteligência Artificial no Brasil é um desses mecanismos de debate e de mobilização civil participativa. A pesquisa está disponível online e pode ser feita por qualquer pessoa. O lançamento foi feito no 1º Fórum do Marco Regulatório de Inteligência Artificial, criado em parceria pelo Instituto Campus Party, Instituto Cappra e Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio, e lançado na abertura do festival. Segundo Novaes, o fórum percorrerá 18 edições, em 10 estados brasileiros, pelos próximos 3 anos.

“Nós pretendemos trazer a sociedade civil para dentro dessa discussão através da comunidade de internet, das universidades”, disse Francesco Farruggia, presidente de honra do Instituto Campus Party.

Intitulado “O que queremos da IA“, o site apresenta sete eixos temáticos que envolvem a tecnologia. Tanto Cappra quando Dani Monteiro destacaram que quanto mais pessoas de diferentes perfis e grupos fizerem parte da pesquisa melhor será a proposta. Caso contrário, alguém falará pelos demais.

Entre os destaques do evento, Tonico destaca, além dos palestrantes, como o próprio Marcelo Tas e Peter Jordan, a presença de mais de 3 mil estudantes brasileiros apresentando trabalhos em robótica. a visita de cerca de 10 mil alunos de escolas públicas de São Paulo nesta quinta, 11, e a famosa competição “Printer Chef”. “O Printer Chef une ciência e tecnologia, trazendo a culinária molecular com a impressão 3D, fortalecendo o foodservice”, explicou Novaes.

Imagem: Mercado&Consumo

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