Por Marcos Gouvêa de Souza*
É um movimento global com cores mais dramáticas no cenário local. Os centros comerciais planejados e os shopping centers estão passando por intenso e estrutural processo de reconfiguração por conta das transformações mais amplas e abrangentes do cenário de negócios, consumo e varejo.
Os diversos formatos de shopping centers, incluindo os de vizinhança, os power centers, os verticais, os multiusos, os especializados, os regionais e outros, fazem parte de um conceito maior de centros de compras planejados que, cada vez mais, são menos de compras e mais de serviços, diversão, lazer, cuidados pessoais, saúde, educação e muito mais.
E nessa categoria devem ser também considerados os novos centros planejados que se desenvolvem em rodoviárias, ferroviárias, aeroportos, estações de metro, universidades, hospitais, centros empresariais e em muitos outros locais onde exista tráfego e demanda de potenciais consumidores.
É a multiplicação exponencial de alternativas na esteira do processo de empoderamento dos consumidores que têm inúmeras oportunidades e ofertas para adquirir, experimentar, vivenciar ou se envolver com algo tangível ou intangível. Mesmo que seja apenas a experiência de um relacionamento com uma marca.
E toda essa ampliação da oferta de centros comerciais planejados ainda enfrenta dois desafios ainda maiores.
Um deles envolve a migração de compra de produtos para a compra de serviços e soluções, algo inerente ao processo contínuo de amadurecimento da sociedade que, à medida que cresce seu poder aquisitivo, migra da compra de produtos para a compra de serviços de forma ampla.
E pode ainda tomar a forma de compra de soluções quando integra a venda do produto associada com serviços, como é o caso de uma casa pintada, ao invés da tinta, o home theatre instalado ao invés da venda do conjunto de som e imagem ou o projeto do mobiliário planejado da casa, projetado, produzido e instalado, ao invés da venda das peças dos móveis.
Essa transformação estrutural obriga a uma reconfiguração da oferta dos centros comerciais planejados abrindo desafios e oportunidades, como são aqueles especializados no lar.
De outro lado, o desafio de atender consumidores cada vez mais digitais em seus hábitos que usam a internet para pesquisar, comparar, se informar e comprar produtos sem, muitas vezes sequer visitor uma loja ou shopping nesse processo.
A forte participação das vendas pela internet no total das vendas do varejo, que na Inglaterra já se aproxima dos 15%, dos 10% nos EUA ou mesmo dos 3,5% do Brasil, em todos os casos em processo de expansão crescente, se torna outro problema para os centros comerciais tradicionais que precisam equilibrar a participação das simples vendas de produtos, para serem muito mais que um local repleto de lojas.
Precisam ser centros comerciais multiuso com espaços destinados a vendas de produtos, serviços, entretenimento, laser, educação, alimentação, saúde e muito mais, de forma economicamente interessante tanto aos olhos dos desenvolvedores, empreendedores e financiadores desses projetos, quanto dos consumidores que os viabilizarão.
Esse é o cenário global.
No quadro local, a situação se torna ainda mais dramática. A conjugação da redução do interesse e capacidade de investir da grande maioria dos comerciantes de produtos e serviços com o quadro econômico atual, e sua perspectiva de curto e médio prazo, associada com uma visão anterior de empreendedores, financiadores e desenvolvedores desses centros com expectativas de retorno de investimento em patamares não mais viáveis, criam espaços ociosos e a perspectiva de agravamento da situação.
É a conjugação de uma transformação estrutural global precipitada por mudanças na sociedade, no consumo e no mercado com a contingência de curto prazo de um cenário econômico adverso, reconfigurando e redesenhando o setor.
Nesse cenário, mais do que nunca, o lado da oferta de produtos e serviços e o comércio de forma geral, deveriam discutir de maneira madura, ampla, estratégica e ambiciosa, com os empreendedores, desenvolvedores, financiadores e administradores dos centros comerciais, de todas as formas e características, em busca de soluções comuns, considerando os vetores mais estruturais e outros tantos de natureza tática.
*Marcos Gouvêa de Souza (mgsouza@gsmd.com.br) é diretor-geral da GS&MD – Gouvêa de Souza. Siga-o no Twitter: @marcosgouveaGS