A rede varejista de moda jovem Forever 21 deve fechar todas as lojas que possui abertas no Brasil até o próximo domingo, dia 19 de junho. A informação é do jornal O Estado de S.Paulo. Até lá, a marca promove uma megaliquidação em algumas lojas e vende produtos pela metade do preço.
A queima de estoque é promovida nas unidades Bourbon, Guarulhos, Outlet Catarina, Catuaíi e Recife. São jeans, casacos, moletons e outros produtos.
A Forever 21 está em recuperação judicial nos Estados Unidos desde setembro de 2019. No começo de 2020, chegou a um acordo de US$ 81 milhões para vender seus negócios de varejo a um grupo que inclui o Simon Property Group, a Brookfield Property Partners e a Authentic Brands.
A marca chegou ao Brasil no ano de 2014. A marca fez sucesso com seu foco no conceito fast-fashion e atualização constante de coleções. A inauguração da primeira loja, no Shopping Morumbi, na zona sul de São Paulo, gerou uma fila de 1.500 pessoas na porta.
Nesta semana, no Bourbon Shopping, em São Paulo, os consumidores foram surpreendidos. “Não sabia que ia fechar. Aí entrei, vi a liquidação e um funcionário me falou (do encerramento). Comprei mais de dez peças na semana passada e paguei menos de R$ 300, com 50% de desconto. Voltei agora para comprar mais umas camisas”, disse a advogada Luíza Maria Mello, 25 anos.
Na loja, camisetas eram vendidas por R$ 40. Vestidos tinham sido remarcados de R$ 59 para R$ 15. Regatas estavam até por R$ 5. “Acho ruim fechar”, afirmou Victor Antonelli, analista de risco. “São poucas as lojas como essa, com variedade e preço baixo.”
Trabalho escravo
Em 2012, o Ministério do Trabalho dos EUA disse ter encontrado oficinas de fornecedores da Forever 21 em condições de trabalho análogo à escravidão em Los Angeles, na Califórnia, onde fica a sede da empresa. A rede disse, porém, que esses problemas teriam sido resolvidos naquele mesmo ano. Segundo a revista Forbes, a empresa também já foi processada mais de 50 vezes por violar direitos autorais. Procurada, a Forever 21, tanto no Brasil quanto nos EUA, não respondeu à reportagem.
A professora de inglês Bettina Oliveira, que foi à liquidação e comprou um vestido de R$ 129 por R$ 75, disse que não era cliente da loja por questões como essas. “Não vou sentir falta. Além de tudo isso, a modelagem é sempre feita para pessoas muito pequenas e magras.”
Mudança de comportamento
Com boa parte dos consumidores hoje é mais seletiva e não gasta mais tanto com o chamado fast fashion. E quem gosta desse tipo de moda, lembra o especialista em varejo Sandro Magaldi, prefere a internet, com plataformas como Shopee e Shein, de preços mais baixos. Além disso, existe o movimento contrário, o slow fashion, pelo qual o consumidor prefere pagar um preço maior em roupas de melhor qualidade.
Assim, a companhia está em recuperação judicial nos EUA desde setembro de 2019. Na época, o motivo alegado foi a concorrência entre as lojas de rua e o e-commerce. Com 800 lojas nos EUA, Ásia, Europa e América Latina, a varejista recorreu ao Capítulo 11 da Lei de Falências americana, que permite manter o controle e posse de seus bens enquanto administra uma reestruturação.
Na semana passada, o Authentic Brands Group (ABG), empresa global de desenvolvimento de marcas, anunciou a compra da Forever 21. Outra acionista da empresa é o fundo Brookfield Property Partners.
Aqui, o caldo começou a entornar no ano passado, quando a Forever 21 virou alvo de ações judiciais movidas por shoppings cobrando aluguéis em atraso. Sem acordos, a empresa de moda fechou no começo de 2021 todas as 11 lojas nos shoppings da rede Multiplan, entre elas, as dos shoppings Morumbi, Vila Olímpia e Anália Franco (São Paulo), Brasília, Ribeirão Preto (SP) e Canoas (RS). Procurada, a Multiplan não quis comentar o assunto.
Meses depois, a Justiça do Rio de Janeiro acatou pedido do shopping RioSul (administrado pela Combrascan) e deu 30 dias de prazo para que a marca deixasse o local. O despejo foi realizado. Procurado, o RioSul disse que não divulga detalhes de negociações comerciais.
Havia, pelo menos, mais dois processos por inadimplência no aluguel, movidos pelos Shopping Tijuca e o Plaza Shopping Niterói, ambos da brMalls, que também não quis comentar o assunto. A Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce) disse não ter informações sobre se esses casos foram resolvidos ou não.
Negociação
As lojas da Forever 21 eram consideradas “âncora” nos centros de compra em que atuavam, com áreas de mais de 1.000 m² nos empreendimentos. “Fica difícil renegociar com uma empresa quando se sabe que a matriz dela está passando por um processo de recuperação judicial”, diz o presidente da Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop), Nabil Sahyoun.
Segundo Sahyoun, a Forever 21 tem hoje 15 lojas no Brasil e todas devem fechar até domingo. Os funcionários da loja no shopping Bourbon, em São Paulo, confirmam a informação. A equipe de dez pessoas será demitida ainda este mês. “Estou aqui há sete anos e nunca achei que isso pudesse acontecer. A liquidação está indo bem. As prateleiras e cabides vão ser vendidas a outras empresas. Eu mesmo não sei onde vou trabalhar agora”, disse um funcionário.
Com informações de Estadão Conteúdo (Lilian Cunha).
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