Um ano antes da pandemia, fui ao Japão com um grupo de jornalistas de todo o mundo para conhecer Hokkaido, que fica ao norte do país, pouco visitado devido às temperaturas extremamente baixas (que chegam a -13°C). O local é maravilhoso e mais uma vez pude aprender muito em terras orientais.
Um dos meus maiores aprendizados foi a conversa que tive com uma tradutora. Estávamos caminhando numa praça quando vi um morador levando rolos de papel higiênico para os banheiros públicos. Achei estranho e perguntei o porquê. Para minha surpresa, ela disse: “Por algum motivo, a prefeitura não conseguiu abastecer, então, ele deve estar colocando papel higiênico para que as pessoas não fiquem sem”.
Aquilo foi uma lição para mim e uma virada de chave. Muitas vezes, terceirizamos nossas responsabilidades. Culpamos o governo, o vizinho, os pais, amigos etc. Esperamos por alguém que espera por outro alguém e tudo vira um caos.
Sei do nosso histórico de construção do País, das questões sociais e de quanto há uma deterioração da nossa confiança e respeito, principalmente para nós, mulheres. No entanto, podemos, em nós mesmos, virar a página para não transferir medo e ativar nosso espírito protagonista.
Em nosso último evento do Instituto Mulheres do Varejo, abordamos esse tema e tenho certeza de que despertamos muitas almas protagonistas. Tivemos um painel com três histórias incríveis. Todas as convidadas ouviram, em algum momento da jornada: “Isso não vai dar certo”, “Você é maluca”, “Só está perdendo o seu tempo”. No entanto, a força foi maior, e todas fizeram acontecer.
Tatiana Mika fez o pano de prato tornar-se um objeto de desejo para a classe A e nos trouxe a lição de que o simples é o sofisticado. Mariana Robhran, fundadora do Cabelegria, doou seus próprios cabelos para pacientes oncológicos. Hoje, ela conta com uma cooperativa de costureiras para fazer perucas e os cabelos excedentes vão para uma ONG que retira petróleo do mar. E, por fim, Adriana Araújo, mãe da Maju Araújo, que sonhava em ser modelo. Acabando com todos os paradigmas de uma sociedade, empoderou sua filha nas redes sociais e a transformou na primeira modelo internacional com Síndrome de Down. Hoje, Maju é Embaixadora de uma marca de cosméticos, Forbes Under 30 e promove a inclusão no mundo corporativo.
Muitos podem pensar: “elas tiveram privilégios”, “não é tão fácil”, “as coisas não mudam da noite para o dia”. Mas o que realmente impede nossas ações protagonistas? Medo de assumir consequências, preguiça, falta de tempo ou julgamento alheio?
De acordo com o Relatório Digital 2024, brasileiros passam 9 horas e 13 minutos por dia nas redes sociais. Nos tornamos leitores de manchetes, deixando de lado a leitura de livros e a análise crítica. Assim, muitos se escondem atrás da opinião de grupos para evitar responsabilidade individual.
Não está na hora de promover mudanças? Que tal ser o protagonista da sua própria história?
Sandra Takata é presidente do Instituto Mulheres do Varejo.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.