Diversos períodos da história mundial trouxeram discussões importantes sobre funções que ficariam obsoletas por conta da evolução. Sempre carregando alguma revolução em nossa vida com a sua chegada, a humanidade cresceu aprendendo sobre como lidar com renovações de modelos ou sistemas que compõem nosso cotidiano, trabalho e cultura.
Se analisarmos a escrita e o seu registro como exemplos de processos evolutivos, temos toda a pré-história e o Mundo Antigo até chegarmos na criação da prensa para impressão, para depois acompanharmos o surgimento da máquina de escrever, a chegada dos computadores, a digitalização dos textos e livros, o compartilhamento pela internet e, por fim, os leitores digitais. Durante todos esses períodos, muito foi discutido sobre o desaparecimento da escrita e o fim dos livros impressos, mas chegamos ao extremo dessa substituição?
Olhando para a tecnologia e a relação entre máquina e o ser humano, nos últimos anos, o uso de inteligências artificiais ficou cada vez mais acessível, trazendo para nossa reflexão o momento em que vivemos e a importante etapa na transformação digital do nosso dia a dia, principalmente por conta da incerteza quando olhamos para o mercado de trabalho.
Primariamente, pensado apenas como chatbot para interação, a tecnologia focada na interação com usuários ganhou força e destaque através do trabalho realizado pela OpenAI e o lançamento do ChatGPT. Ao contrário dos robôs, muitas vezes utilizados em atendimento, que apresentam limitações por conta das opções de respostas pré-definidas, esta IA se assemelha às assistentes virtuais Alexa (Amazon) e Siri (Apple), porém, mantendo a comunicação apenas por texto.
Com o apoio de um banco de texto disponível na internet, composto por artigos, matérias, notícias e conteúdo criado por usuário em redes sociais, o ChatGPT possui um aprendizado de máquina (machine learning) conhecido como RLHF (Reinforcement Learning from Human Feedback), que em tradução livre seria “Reforço com Feedback Humano”.
Com as recentes declarações da Microsoft e Google sobre a corrida para integrarem este tipo de inteligência artificial em seus mecanismos de buscas, facilitando a obtenção das respostas esperadas pelos usuários, e o governo chinês declarando apoio às empresas líderes na criação de grandes modelos de IA capazes de competir com a OpenAI, a agência criativa DayOne já cunhou o termo “AI-nxiety” para descrever a insegurança dos profissionais em relação aos efeitos da revolução tecnológica e seus efeitos no mercado de trabalho, principalmente por estar acontecendo em um curto período de tempo, já que o ChatGPT foi lançado em novembro de 2022.
O medo de perder o emprego para um robô explicaria a junção das palavras, em inglês, “Artificial Intelligente” e “anxiety”, justificando a ansiedade e o temor pela recente inteligência artificial demonstrar agilidade na criação de conteúdo escrito, assim como outras aplicações utilizam modelos de tecnologia similares e baseados em aprendizado para produzirem músicas e ilustrações. Impulsionado pela previsão do Fórum Econômico Mundial de que 85 milhões de empregos poderão ser eliminados até 2025 por conta do ritmo crescente que a automação de processos vem apresentando desde 2020.
Se a Buzzfeed pode utilizar IA para criar seus conteúdos e até a Netflix Japão produzir um filme de animação usando artes geradas por inteligência artificial, será que devemos temer este importante momento da evolução humana?
Mesmo que neologismos e as movimentações mercadológicas justifiquem ou impactem negativamente no comportamento humano, ao perceber o momento importante que estamos vivendo, nós, profissionais de TI com foco em pessoas, temos a responsabilidade de trabalhar no desenvolvimento humano, para que as pessoas consigam acompanhar a transformação digital e as tendências tecnológicas que podem fazer parte do mercado e nossas funções. Em vez de discutirmos quais profissões ficarão obsoletas, podemos trabalhar em discussões sobre como utilizar IA para realizar parte das nossas tarefas.
Cada vez mais, o capital humano será exigido em posições que dependem do raciocínio, conhecimento, experiência e relacionamento. Na medida certa e com a preparação de profissionais especializados para atuarem com a digitalização dos negócios, podemos agilizar nosso dia a dia ao empregarmos nosso tempo em atividades que dependam da interação humana, reservando à inteligência artificial etapas mais mecânicas e processuais.
Podemos trabalhar a fim de complementar o que já fazemos e não sobre como podemos substituir ou quando isso acontecerá. Segundo reportagem da Business Insider sobre como tornar nosso trabalho mais fácil, algumas profissões já utilizam o ChatGPT para elaborar conteúdo para redes sociais, comunicados e propostas comerciais, escrever resumos, planejar conteúdo de aula e escrever guias.
Se de um lado temos profissionais preocupados em acompanhar as tendências, entendendo os riscos que toda novidade tecnológica oferece ao fator humano. As empresas também precisarão se preocupar em como lidar com essa revolução, pois ela exigirá mudanças em sua cultura, da contratação, do engajamento e até a retenção, para trabalharem com a automação de processos e seus profissionais como diferenciais competitivos para o negócio.
Em épocas de grande revolução dos formatos já consolidados e na evolução exigida aos seres humanos, devemos desenvolver nossos colaboradores para evitarmos a obsolescência programada dos maiores ativos de uma empresa.
Renata von Anckën é VP de Marketing & Sales da Truppe!
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