“Enquanto o Ocidente discute a provocação de Bill Gates de que com IA será possível trabalhar apenas 3 ou 4 dias por semana, na China, eles continuam na lógica 9-9-6, ou seja, das 9 da manhã às 9 da noite, 6 dias por semana.
E continuam avançando em sua determinação de serem ainda mais protagonistas no mundo presente e futuro, em especial pela liderança em tecnologia e no digital.
Na mesma perspectiva, empresas buscam o equilíbrio possível entre atuar no modelo do home office, definitivamente a opção preferencial das novas gerações, e a realidade de que o presencial traz a desejável e necessária integração cultural e o fundamental amálgama na inovação, criatividade, formação e difusão dos valores de cada empresa ou negócio.”
A recente declaração do CEO da Nlke, John Donahoe, de que é difícil criar algo inovador e disruptivo via Zoom, reforça os dilemas de que as organizações em todo o mundo enfrentam em buscas de modelos e respostas de como conciliar esses dois universos: a conveniência, conforto e menos estresse dos deslocamentos da realidade presencial, com a necessária interação humana e conceitual proporcionada pelo relacionamento da proximidade presencial.
Em verdade, empresas em todo o mundo e aqui no Brasil estão em busca de modelos que permitam conciliar essas duas realidades. Na própria China, o avanço do home office é marcante, tendo crescido de perto de 200 milhões de trabalhadores em junho de 2020, em plena crise do covid, para 537 milhões em dezembro de 2023.
De fato, não existem respostas absolutas.
Cada realidade, cada modelo de negócio, cada segmento ou categoria ou mesmo cada geografia suscita alternativas distintas. E estamos todos aprendendo e buscando a conciliação virtuosa.
Está claro que o absolutismo do presencial em todos os momentos, se aceito, reduz a atratividade fundamental para as novas gerações.
Assim como o virtual permanente inibe a interação, criatividade e difusão de valores e a produtiva proximidade com pessoas, entre outras coisas.
Existem funções e competências, como em especial em tecnologia e outras relacionadas ao digital, em que o home office melhor se aplica e permite a globalização do emprego e o trabalho para mais de uma empresa ou negócio ao mesmo tempo.
Nesse aspecto, o Brasil tem sido beneficiado, pois as diferenças cambiais favorecem a contratação de funcionários brasileiros por empresas globais em especial nessa área de tecnologia.
Vale recordar que as mudanças estruturais no emprego geraram um quadro de maior dificuldade em setores como o varejo físico, nas lojas e centros de distribuição, e o setor de hospitalidade, dos hotéis, bares, restaurantes e outros. A obrigação de ter funcionários presentes para os serviços reduziu o número de funcionários disponíveis e interessados, discriminando esses setores como empregadores e gerando um problemas de aumento de custos.
Não por outra razão, nos EUA as gorjetas sugeridas chegam a 25% do valor do consumo.
É sempre fundamental alertar que uma coisa é home para funcionários, colaboradores e prestadores de serviços de classe média, com o conforto de residências equipadas com direito ao isolamento para trabalhar, pensar, criar e interagir virtualmente.
Algo muito diferente é a situação da maioria absoluta de funcionários que não podem ter acesso a todos esses recursos e precisam encontrar espaço, momento e condições para trabalhar a partir de suas casas. Razão pela qual existem muitos que preferem se deslocar para ir ao escritório para terem condições melhores de produzir.
Estamos todos em buscas de respostas e alternativas, testando modelos e avaliando retornos em matérias que têm uma natural complexidade, pois o ambiente, em todas as realidades, tem mudado numa velocidade e dimensão que tornam muito mais difícil o isolamento de fatores determinantes da respostas, mais positivas ou negativas.
Esse é um tema que quanto mais for avaliado e mensurado, compartilhando aprendizados, pode beneficiar a todos.
E essa é a proposta à reflexão e ao compartilhamento.
Pois a sociedade e os negócios só têm a ganhar pelo aprendizado coletivo em um tema tão complexo. Entendermos que as legislações que regem as relações de trabalho também precisam ser revistas para contemplar essa nova e irreversível realidade.
Vale a reflexão.
Nota: No Latam Retail Show de 17 a 19 de setembro no Center Norte, em São Paulo, haverá espaço, conteúdo e programação dedicados às discussões dos melhores e mais produtivos modelos de organização do trabalho no varejo e em outros segmentos empresariais. E terá transmissão virtual de parte do conteúdo para os que não puderem participar presencialmente
Marcos Gouvêa de Souza é fundador e diretor-geral da Gouvêa Ecosystem e publisher da plataforma Mercado&Consumo.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
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