Nunca antes neste país se discutiu tanto o presente e o futuro.
A combinação do isolamento a que fomos submetidos com a inundação de informações, análises, projeções e sugestões derivadas do uso intensivo da internet e redes sociais, elevaram a patamares sem precedentes as discussões sobre o país.
E de quebra elevaram o FOMO (fear of missing out), medo de perder alguma coisa, nos obrigando a participar ativamente de tudo o tempo todo para estarmos o mais possível informados.
Tem sido, ou foi, dependendo da perspectiva, um período onde o tema presente e futuro do Brasil atingiu níveis sem precedentes de análises e sugestões. Que invariavelmente culminavam com visões críticas, positivas ou negativas, mais ou menos embasadas, às formas como o governo se comporta, em suas diversas esferas, federal, estadual e municipal e no Legislativo, Judiciário e Executivo.
Líderes empresariais, executivos, dirigentes, ex-ministros, jornalistas, banqueiros, empreendedores, comunicadores, conselheiros, profissionais, autores, escritores e, de forma geral, gente privilegiada pela visão abrangente e atualizada apresentam suas considerações e contribuições para a questão dominante: como transformar estruturalmente o Brasil já que, como está, definitivamente não pode continuar.
E de forma geral, tudo acaba por gravitar em torno de uma profunda mudança no comportamento das diversas esferas do governo pela via democrática, pois de outra forma seria inaceitável.
Nada mais natural e consistente considerando o histórico de nosso comportamento. Esperar que tudo mude para melhor pela força dos argumentos, da lógica e da evolução do comportamento da sociedade pelo aperfeiçoamento do processo de eleição e escolha de nossos dirigentes.
Enquanto o tempo passa e regredimos em muitos, mas não em todos os aspectos, vamos desperdiçando recursos, oportunidades, o próprio tempo, ampliando desigualdades e aumentando o grau de desesperança em relação ao futuro mais imediato.
E perdendo a chance de construir o desejável futuro que teima em se distanciar ainda mais quando temos a combinação perversa de uma crise na saúde, na economia, nas finanças e na política.
Como país vamos sair menores, mais desunidos, mais pobres e com menor grau de confiança interna e externa do que quando começou todo esse processo.
Mas talvez pudéssemos fazer desse limão, Covid, limonada.
Repensarmos como colocar agora a serviço do país tanto talento, visão, experiência, conhecimento e vontade de contribuir de todos esses líderes e influenciadores para, de forma estruturada e organizada, possamos criar um novo agente no processo de evolução através do setor empresarial, aquela parcela da sociedade civil que é responsável por criar emprego, renda e riqueza para o país.
É no setor empresarial que reside a maior competência para o pensamento estratégico e de longo prazo. Que é nesse setor que estão as melhores organizações, pois são balizadas em seu comportamento pela busca incessante de eficiência. E precisa ser valorizado que é no setor empresarial que mais se pensa o passado, o presente e o futuro de forma constante e sistemática em busca da contínua melhoria de desempenho combinando o melhor instrumental e recursos disponíveis em busca de resultados. Muito do que o país precisa para além das, necessárias, questões sociais e de sustentabilidade.
O que não se considera é que é muito mais complexo, quando não inócuo, desenvolver negócios, gerar renda, emprego e riqueza quando o ambiente conspira contra, como temos vivido no Brasil.
Sem ilusões. Devemos pensar e imaginar como poderia ser diferente, mas não podemos minimizar os problemas.
É complexo harmonizar interesses no setor empresarial para além das questões setoriais, classistas e regionais, os choques de personalidades tão complexas, com as naturais dificuldades da criação de um agente que atuasse para apoiar as esferas institucionais dos governos com a visão estratégica para o país.
Que pudesse contribuir para um projeto de país, pensando para 20 ou 50 anos à frente.
Mas o que pode nos confortar é o fato que, no Japão, por exemplo, através do Keidanren, nascido para apoiar a reconstrução do país após a Segunda Guerra, isso existe e funciona muito bem. E que o pensar estratégico da China, em outro ambiente e ideologia, já coloca o país como a maior economia do mundo no critério PPP – Paridade do Poder de Compra e, com certeza, em poucos anos estará à frente sob qualquer critério.
Talvez tenha chegado o momento ideal de pararmos de esperar que o melhor aconteça e nos mobilizarmos para que de fato aconteça.
Não atuando apenas com produtivas, elucidativas e fundamentadas discussões, mas com visão, decisão e ação, meios por excelência de atuação do setor empresarial.
Talvez aproveitarmos tudo que acumulamos de informação e prática produtiva do pensar o país, para agirmos para transformarmos o Brasil.
Temos ainda algum tempo de isolamento para fazer do Covid, limonada.
* Imagem reprodução