Por Marcos Gouvêa de Souza*
Na semana passada, um encontro promovido pelo Instituto Millenium reuniu três ex-presidentes do Banco Central para discutir caminhos para o impasse que o Brasil vive e foi flagrante a convergência dos diagnósticos e das soluções propostas para desatar o nó que se instaurou no País, engessado e prostrado ante o vácuo de liderança que mergulhou o Brasil na atual crise.
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Armínio Fraga, Gustavo Franco e Henrique Meirelles, atualmente todos bem sucedidos empresários atuando no setor privado, foram unânimes em estabelecer causas e consequências do atual quadro por que passa o Brasil, nominando o desgoverno federal como o maior responsável pela situação atual e variou pouco a avaliação sobre o futuro próximo entre eles, todos considerando uma perspectiva ainda mais complicada, pela inanição estabelecida que não viabiliza um profundo ajuste fiscal.
Entre eles, houve pequena divergência sobre o tamanho do ajuste fiscal necessário, tendo sido Armínio Fraga, que seria o ministro da Fazenda caso Aécio vencesse a eleição, o que colocou o cenário mais dramático sobre a dimensão e profundidade do ajuste.
Já Henrique Meirelles, candidato da preferência de Lula para uma eventual sucessão do ministro Levy, foi aquele que dosou um pouco mais as críticas ao momento e às perspectivas futuras, buscando equilibrar a dramaticidade da situação com aspectos relevantes da estrutura sócio-político-econômica do País, buscando evitar o catastrofismo galopante. Mas deixou entrever que a ideia de um imposto transitório que pudesse ajudar no ajuste fiscal estaria no seu receituário de alternativas para o momento.
Gustavo Franco adicionou importantes elementos estruturais que têm sido responsáveis pela perda da competitividade global do País com comparações entre as opções estratégicas feitas pelo Brasil e, particularmente, alguns países como a Coréia, que tem distanciado o país de um desenvolvimento sustentável e de longo prazo. E destacou a opção exclusiva pelo estímulo ao mercado interno como um dos principais fatores que ampliou a distância entre o Brasil e os países que preferiram construir economias mais abertas e globalizadas, e se tornaram mais competitivas globalmente.
Interessante observar que os três deram menor ênfase aos impasses ocorridos entre Governo Federal e o Congresso que têm contribuído para a letargia atual, ainda que tenha sido destacado por Armínio Fraga, que, quanto maior a falta de liderança e maior a falta de credibilidade, maior a dimensão do ajuste necessário.
Todos foram unânimes em pontuar que algumas das reformas propostas pela sociedade e pelo setor empresarial deveriam ser implementadas em caráter amplo e irrestrito e, por conta de sua proximidade atual com o mundo empresarial, incorporaram conceitos habituais nesse setor, destacando a importância de repensar tudo, usando metodologias como Orçamento Base Zero (OBZ) ou a adoção da meritocracia, como pontuou Armínio.
E foi também lembrada a importância de um processo amplo de desburocratização, como pontuado por Meirelles.
Debates, discussões, diagnósticos e propostas de soluções têm emergido de toda parte e de forma geral existe um consenso de que no período de 2009 até agora o País vem queimando o que acumulou nos períodos anteriores, quando se beneficiou de algumas opções corretas para o momento e foi muito favorecido por uma conjunção global de fatores que criou um cenário positivo para seu crescimento.
De lá para cá, os equívocos se sucederam e o que temos assistido é uma sucessão de opções equivocadas precipitadas por uma visão estreita e imediatista contaminada pela voluntarismo político de curto prazo, conjugada com o impasse institucional com o Congresso que jogou o Brasil na sua maior crise das últimas duas décadas. E sem perspectiva de solução negociada de curto prazo.
Esses elementos só reforçam a necessidade do setor empresarial privado rever sua postura de delegação da discussão estratégica do Brasil, do futuro aos governantes e se convencer que sem seu decisivo envolvimento e visão de futuro, todos estarão se auto-condenando à perda de competitividade no cenário global e papel marginal no cenário econômico mundial.
Não é uma questão de opção. É uma questão de necessidade e visão. E acima de tudo, de ação.
*Marcos Gouvêa de Souza (mgsouza@gsmd.com.br) é diretor-geral da GS&MD – Gouvêa de Souza. Siga-o no Twitter: @marcosgouveaGS