Se é demais, nos torna arrogantes e presunçosos. Quando não alienados. Quando é de menos, nos torna medrosos, vacilantes e nos deixa acuados.
Como dizia um amigo, aos nossos times temos que mostrar que podemos voar. Só não se pode acreditar, sob risco de se esborrachar.
O paradoxo da auto-confiança tem essa exata configuração. Qual a medida certa da auto-confiança que nos dá a necessária segurança para continuar avançando, mesmo correndo riscos que são sempre inevitáveis, mas com o necessário bom senso para não atravessar o limite do que é possível enfrentar.
Somos constantemente desafiados, isolada e coletivamente, a nos reinventarmos num ambiente cada vez mais desafiador e somos obrigados a nos equilibrar entre o que foi verdade no passado – e tinha sua razão de ser –, os elementos em dramática transformação, e o futuro, absolutamente incerto, apenas com a certeza de que será significativamente diferente.
Em especial em tempos voláteis, aqueles em que a dimensão das mudanças em amplitude, profundidade e velocidade se tornam a constante permanente, a zona que delineia o excesso de auto-confiança – a dose adequada e aquele nível que nos deixa acuados –, é cada vez mais estreita e fugaz.
E buscar o equilíbrio correto a cada momento, sem temer os desafios, mas reconhecendo as consequências das ações intempestivas, se torna a cada instante mais difícil, exatamente pela conjugação de fatores em constante mutação com comportamentos cada vez mais diversos dos agentes envolvidos.
E o exercício da liderança, individual e principalmente coletiva, se torna um processo em contínua mutação.
Dogmas do passado são permanentemente contestados sem que se tenha certeza da propriedade dos novos que são alardeados.
Poucos aspectos conseguem obter consenso entre todos os agentes envolvidos, consequência direta da multiplicação de comportamentos individuais e de agrupamentos, sejam eles segmentos, nichos ou clusters.
Nesse ambiente, poucas verdades são contestadas.
Uma das poucas entre tantas contestadas é aquela que estabelece que a liderança deva ser cada vez mais coletiva. Produto destilado de um conjunto de líderes que se integra e cria modelos decisórios, onde o conjunto sobrepõe-se ao individual. A dimensão das transformações é ampla demais para permitir comportamentos autocráticos.
Como equilibrar o comportamento e a integração do coletivo com a auto-confiança individual é uma das artes requerida no novo ambiente cada vez mais volátil.
Um ponto de partida fundamental é o alinhamento no que é essencial: Valores e Propósito. Mas preservados esses dois fatores, a multiplicidade de ideias e visões ajuda a construir o ótimo possível.
Tão simples de enunciar, tão complexo de administrar!
Em meio a esse cenário de complexidades é importante manter o êmbolo que impulsiona e faz acontecer.
E esse é um dos traços requeridos, numa visão mais tradicional, mas também na nova interpretação. A liderança em tempos voláteis não prescinde dos que desafiam as zonas de conforto, se impondo e disseminando a busca constante da evolução empresarial, profissional e individual.
E não só em termos empresariais privados.
A sociedade e o ambiente social em constante mutação, resultado dos mesmos fatores em permanente e rápida evolução, exponenciados pela Tecnoera, também exigem novas lideranças alinhadas e ao mesmo tempo desafiadas pelo novo cenário em permanente reinvenção.
E nesse campo, o paradoxo da auto-confiança se mostra ainda mais complexo, pois no ambiente empresarial existe uma certa limitação de variáveis, delimitada pelo setor de atuação – a economia como um todo –, a ação dos concorrentes, dependendo do negócio, o mercado externo, os recursos existentes e o jogo de poderes interno da organização.
Já no ambiente da sociedade mais ampla, envolvendo o político, o conjunto de variáveis é muito mais abrangente e menos controlável, pelos jogos de poderes envolvidos e a multiplicidade de situações, conflitos e demandas. Em especial no momento atual de ativa militância e interatividade via redes sociais.
Se é que existe uma síntese possível desse conjunto de reflexões é que nunca antes foi tão importante a busca do exercício e responsabilidade coletiva da liderança com uma visão holística e abrangente sobre a interpretação do presente e a consideração possível do futuro, sem perder a capacidade, individual e coletiva, de nos desafiarmos permanentemente para evoluirmos em todos os planos.
Talvez não tão simples, mas definitivamente desafiador, exigindo a medida certa de auto-confiança para que nos mantenha como parte do todo ajudando de forma decisiva no processo evolutivo coletivo.