A Peça Rara, rede de franquias de moda circular, prepara o lançamento de lojas pockets, que serão comercializadas em regiões a partir de 80 mil pessoas e em espaços de 100 m². O novo negócio terá uma taxa de franquia quase 40% menor que a convencional, investimento de inicial total de R$ 150 mil a R$ 220 mil e a exigência de um acervo de peças para a abertura e a operação diária entre 1.500 a 2.500 peças. A novidade, que a MERCADO&CONSUMO antecipa com exclusividade, atende a uma demanda antiga de empreendedores de pequenos e médios municípios e de alguns bairros das grandes cidades, segundo a fundadora e sócia Bruna Vasconi.
Hoje, o negócio de franquia está estruturado para atender unidades físicas a partir de 300 m². O espaço permite mais flexibilidade na gestão do estoque. O modelo tradicional funciona com acervo de pelo menos 3 mil peças, o que garante maior diversidade e araras destinadas a itens fora da estação, como botas e casacos, por exemplo, geralmente, adquiridos por pessoas que viajam para outro hemisfério.
Para o novo modelo de franchising, Bruna já preparou a capacitação e o treinamento para os futuros franqueados aprenderem a montar os acervos. A preocupação é com a assertividade na seleção das peças, uma vez que a aquisição e a saída dos itens precisam ser mais dinâmicas na comparação com as unidades atuais. “Não vai dar para gastar espaço com peças de pouca ou baixa circularidade”, explica Bruna. “Quanto menor o espaço, mais objetivo [é preciso ser]”.
Segundo a executiva, houve um cuidado severo na criação do novo modelo para que o tamanho mais compacto e a menor exigência de intervenção e capital para investimento não sugerissem menos compromisso ou credibilidade.
Mãe de 4 filhos, a Peça Rara é o quinto fruto gerado na relação de Bruna com a vida e com o trabalho. A fundadora procura estar presente às inaugurações das unidades e acompanha de perto o desenvolvimento das franquias. A mudança para São Paulo este ano, aliás, foi motivada pela necessidade de gerenciar o negócio mais de perto. Para quem não sabe, a primeira loja foi fundada em Brasília, no Distrito Federal, há 17 anos.
O lançamento oficial das lojas pockets será feito na ABF Franchising Expo 2024, principal feira do setor, que ocorrerá de 26 a 29 de junho no Transamérica Expo Center, zona sul da capital paulista. “Alguns leads nos inspiraram a desenhar esse modelo, mas é a partir do lançamento, na feira, que vamos saber como vai ser”, comenta Bruna.
Contando com Débora Secco como sócia e a SMZTO como grande investidor, a estratégia é “povoar o Brasil” de Peça Rara. Também existem convites de investidores para internacionalizar a marca. Mais do que expandir o negócio, Bruna Vasconi deseja ver mais pessoas crescendo e mais itens circulando ao invés de serem desperdiçados. “Já que estou aqui, quero que todos saibam o quanto é bom viver da economia circular”, diz.
Peça Rara: casa, moda e vida
A Peça Rara possibilita aos franqueados explorarem artigos de vestuário e acessórios de segunda mão nas categorias infantil, feminino e masculino. Mais recentemente a companhia expandiu para o segmento de casa e decoração, tornando-se multifranqueadora. “É possível montar uma casa inteira com os nossos itens”, revela Bruna.
A plataforma de e-commerce já anuncia a venda de mobiliário second hand, porém, não é possível comprar online. Brasília, no DF, Ribeirão Preto e Campinas, no interior de São Paulo, já possuem unidades físicas para a venda de mobiliários. Em São Paulo, a unidade Frei Caneca, a um quarteirão do Parque Augusta, é a loja especializada no segmento na capital paulista.
Algumas peças são negociadas por um valor simbólico, dependendo do estado, porque a companhia tem uma equipe de restauradores e investe na recuperação de móveis, como sofás.
Quando deixou Brasília, Bruna alugou um apartamento mobiliado em São Paulo. Ao mudar de endereço para oferecer melhor infraestrutura aos dois filhos menores, montou a casa com quase todos os itens de segunda mão, sendo a maioria adquirida nas unidades do próprio negócio. O guarda-roupa pessoal também é composto por peças do brechó.
É dessa forma que busca viver alinhada com os seus valores. Por essa razão, acredita não fazer sentido desenvolver sua própria marca, quando questionada se havia pensado no assunto. Segundo a executiva, já existem milhares de peças no mundo e não é preciso criar novas. “Isso nos afastaria do nosso propósito”, pontua.
“Uma peça rara”
Bruna Vasconi cursou Psicologia e casou-se aos 19 anos com o então namorado para não se mudar com a família para o Peru, país para o qual o pai fora designado como membro das forças armadas do Brasil. Buscou independência desde cedo e, para ajudar no orçamento da casa e pagar a graduação, vendeu de tudo: de cosméticos a doces, de serviço de reforma a velas aromáticas que produzia artesanalmente.
Prestes a terminar a faculdade, o que mais a preocupava era a perda dos clientes que havia conquistado ao longo da formação. Mãe de um casal de crianças, precisava do dinheiro na mão. Conheceu, por acaso, um brechó de peças infantis e decidiu, na volta para Brasília, abrir um negócio com o que tinha em casa, já que não tinha capital para ser uma franqueada.
Abriu a primeira loja no modelo “pocket” e em sociedade, com todo mobiliário feito de gesso para reduzir custos, mas bem organizado, segundo Bruna. Três meses depois, decidiu seguir sozinha. Vendeu sua parte e, em 13 de abril de 2007, inaugurou a primeira Peça Rara.
Nesse momento, já entendia que, além das peças infantis, as mães deveriam ter itens para revender. E como também não tinha caixa para pagar pelas roupas, estabeleceu o modelo de consignado para conseguir negociar, isto é, os fornecedores deixavam as peças e eram pagos após a venda.
A segunda unidade foi aberta por necessidade, porque não tinha espaço para a oferta de produtos que chegava e para atender a demanda. Em 2019, inaugurou o modelo de franquias e conquistou parceiros renomados para expandir a marca de resale, para lembrar um termo muito recorrente, marcado como tendência, na NRF 2024, a maior feira de varejo do mundo.
Hoje, a companhia conta com 107 lojas abertas no País entre 180 comercializadas. São inauguradas até 12 novas unidades por mês. Dessas 180, cerca de 70 estão ou prestes a abrir, ou em trâmites para a abertura da empresa, ou em busca de um ponto comercial.
O nome da loja foi uma sugestão do filho mais velho, agora, com 21 anos e empenhado em conhecer o negócio da família como funcionário comum a partir do estoque.
Bruna acreditava que toda sua criatividade havia sido empenhada no batismo do primeiro brechó e nada a agradava plenamente, como “Peça Única”, um dos nomes cogitados. Durante um almoço, alguém chamou o filho de “peça rara”, e rapidamente o menino, com 5 anos, sugeriu o nome.
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