As seis razões pelas quais a execução pode estragar a estratégia correta no Brasil atual

Quase todos os fatores conspiram a favor da correta proposta estratégica que está sendo desenhada para o Brasil no momento atual. Mas não existe estratégia correta que resista a uma execução equivocada.

Esse é o risco que temos no momento e para isso valem alguns alertas importantes.

Primeira razão: Não priorizar de forma determinada e obsessiva a Reforma da Previdência em toda sua abrangência.

O problema está configurado e dele vai depender a avaliação futura do novo governo. Se levar adiante a Reforma da Previdência já no primeiro momento e conseguir sucesso na sua aprovação, ganhará respeito interno e externo e  crédito necessário para o que mais tenha que ser feito. E não é a reforma possível. É a reforma necessária para equacionar no curto, médio e longo prazo esse problema;

Segundar razão: Comunicação não é problema. É solução.

O futuro novo governo tem tido sérias dificuldades em organizar sua área de comunicação. Ou fala-se demais. Ou de menos. Muitos líderes em processo de assunção de novos cargos têm se precipitado em expor ideias e conceitos. Em vários casos agindo como se ainda estivesse em campanha. Esquecem, ou não foram preparados para a nova realidade na qual representam um governo eleito apoiado em propostas que foram eleitas junto com os candidatos. Em outros casos, quando surgem problemas do passado recente, se omitem e permitem que interpretações, precipitadas ou não, cresçam e gerem sobressaltos. Comunicação requer coordenação, estruturação, clareza no posicionamento e constância na atuação.

Terceira razão: Falta de clara definição de prioridades e de rigor na execução.

Há muito para ser feito. Foram vários anos de descaminho e o país só voltou aos eixos no governo Temer que, ainda assim, se perdeu apesar de diversas corretas intenções. Algumas evoluíram na direção correta, outras se perderam pelo caminho, sendo a mais lamentável a da Reforma da Previdência.

No atual momento e com o cenário, nacional e internacional à frente, é preciso definir de forma intransigente o que é fundamental no curto prazo para resgatar a confiança, enfrentar as questões estruturais a serem resolvidas e agir de forma coordenada para trazer respostas diretas e objetivas para as questões estruturais. Temas como mudança da capital em Israel podem esperar melhor momento para serem equacionados.

Em compensação as mudanças defendidas na questão trabalhista, claro sinalizador da visão global e liberal, precisam ser implementadas no curto prazo, completando o que se iniciou na Modernização Trabalhista, um dos bons legados do governo Temer;

Quarta razão: O tempo passa muito rápido. E o crédito é curto.

O melhor momento para assegurar a realização do fundamental, é sabido, são os primeiros seis meses de um novo governo. Depois o tempo vai consumindo o crédito recebido nas eleições e começa o jogo de poder com o Congresso. Mesmo que renovado.

É nesse período inicial que se for feito o que precisa ser feito, sem transigir, renova-se o crédito e abrem-se novas portas para continuidade da transformação. Daí porque é tão importante que se coordene muito bem todo o programa inicial para ser viabilizado num curto espaço de tempo, evitando dispersar recursos e crédito com temas de menor importância estratégica;

Quinta razão: Não envolver o setor empresarial na criação de uma corrente transformadora nacional.

Existem diferentes setores empresariais. Pode ser dividido por área de atividade, por geografia, por atitude, por maturidade ou por ideologia. Talvez a mais simples separação é a que envolve o grau de dependência em relação ao próprio governo.

O mais tradicional é profundamente dependente, quando não conivente, como veio à tona recentemente. É aquela parcela dependente de subsídios e benesses.

O mais moderno é o que sabe se posicionar e considera, sempre, a coordenação entre os interesses setoriais e o interesse do país. É essa parcela que deve ser convocada, ouvida, mobilizada e engajada para ser parte da solução, fator fundamental para levar adiante as transformações que dever ser implementadas.

Sexta razão: Superestimar a capacidade de engajar o Congresso nas transformações.

Ainda que com toda a experiência parlamentar de boa parte da nova equipe e com a renovação que as últimas eleições proporcionaram, o Congresso Brasileiro foi corrompido institucionalmente por anos de descalabro no trato dos temas públicos. E isso aconteceu no Congresso e também nas Assembleias Estaduais e nas Câmaras Municipais.

Vai demandar muito tempo para que tenhamos uma outra realidade onde Senadores, Deputados Federais e Estaduais e Vereadores entendam que são servidores e não senhores da Nação.

E isso será fonte de muitos problemas no curto, médio e longo prazo que não podem ser subestimados. A opção das alianças com as bancadas ao invés dos partidos, aparentemente oportuna, pode esbarrar em outros problemas nas decisões de temas transversais, de interesse difuso.

É o melhor que temos para o momento

Comparativamente com o final dos últimos quatro anos, período que marcou a segunda maior crise econômica da história do Brasil, o que não se pode negar é que este é um final de ano que estimula as melhores expectativas positivas.

Ainda que não se possa contar com os bons ventos vindos genericamente do mercado internacional, as perspectivas internas são entusiasmantes. O que não deve gerar um sentimento de conforto. Ao contrário.

Temos muito para recuperar em termos de emprego, renda, crédito, investimento e consumo. O ponto de partida é o rigor na execução da correta estratégia desenhada. A confiança, fator agregador de todos os outros elementos, é o amálgama que dará consistência a todo o programa.

 

Nota: Este artigo encerra a sequência de Momentums de 2018 e voltaremos aos mesmos em 7 de janeiro de 2019. Ótimo final de ano a todos. Só para recordar. O melhor dos últimos quatro anos.

* Imagem reprodução

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