Todas as sextas-feiras, o portal da Revista Exame.com recebe um artigo “Mercado & Consumo”, assinado pelo diretor-geral da GS&MD Gouvêa de Souza, Marcos Gouvêa de Souza. No último artigo publicado no blog, Marcos fala sobre 11 principais tendências no setor de materiais de construção no Brasil:
São mais de 130 mil lojas no Brasil e é um dos mais pulverizados e menos concentrados setores do varejo no país, onde as cinco maiores redes detêm menos que 10%, porém com uma participação de 64% das redes globais entre os cinco maiores e que representa um pouco menos que 6% do total do faturamento de todo o setor de Material de Construção.
É um dos segmentos que mais têm sofrido no atual quadro de contração de vendas pelo qual passa o varejo brasileiro e a entrada do grupo chileno Falabella através de seu braço Sodimac no controle da Dicico coloca ainda mais pressão competitiva no setor, especialmente depois da abertura de sua primeira loja no Tamboré em São Paulo.
Algumas macro tendências são bastante claras no cenário atual e futuro do setor.
1. Consolidação.
O setor terá aumento do processo de concentração com ampliação da participação das cinco maiores redes no conjunto das vendas gerais pelo aumento da velocidade de expansão desses grupos, através de crescimento orgânico e a possibilidade de incorporação de alguns operadores regionais que têm expressiva participação em suas regiões;
2. Pulverização.
Nos próximos dez anos o setor de material de construção continuará como um dos menos concentrados do varejo brasileiro, pois o quadro atual, próximo futuro e o perfil mais cauteloso dos principais operadores nacionais e internacionais atuando no Brasil não estimulará uma estratégia expansionista que altere essa perspectiva;
3. Internacionalização.
O aumento do faturamento das redes internacionais ou globais, como Leroy Merlin, Saint Gobain (Telhanorte) e Dicico-Sodimac será bem maior do que outras redes nos próximos anos e isso irá significar o aumento de sua participação no total das vendas do setor;
4. Fusões e Aquisições.
No processo de expansão de operações no país, além do crescimento orgânico do número de lojas, haverá aumento no processo de fusões e aquisições envolvendo as vinte principais redes que atuam no setor, como forma de aumento da participação no mercado nacional e regional e como resultado também do acirramento do quadro competitivo que induzirá algumas redes menores a transferirem o controle de seus negócios;
5. Crescimento de Marcas Próprias. As principais redes operando no Brasil tenderão a ampliar a oferta de marcas próprias, com produtos produzidos no país ou importados, como forma de melhorar sua rentabilidade e criar diferenciação perante o consumidor final e, ao mesmo tempo, criar uma nova realidade nas negociações com seus principais fornecedores locais;
6. Novos formatos de lojas.
Os principais operadores do setor, especialmente entre as cinco maiores redes, têm sido cautelosos na implantação de novos formatos de lojas, preferindo expandir seus modelos tradicionais. Com o acirramento da concorrência e a geração de oportunidades regionais, deverão ser lançados novos formatos que possam aproveitar essas novas demandas e permitam a diversificação de formatos por um mesmo operador. Alguns deles já têm praticado essa estratégia em outros países, como a Saint Gobain, que controla a Telhanorte no Brasil, o grupo global de origem francesa Adeo que controla a Leroy Merlin e a Falabella chilena que controla a Dicico-Sodimac;
7. Novas Bandeiras.
As principais redes poderão lançar novas bandeiras, ou marcas de lojas, no processo de diversificação de sua atuação no Brasil em busca do atendimento de oportunidades específicas em segmentos ou regiões, em ações estratégicas com alguns fornecedores, ou de forma isolada, ampliando sua participação no mercado nacional;
8. Novos canais de vendas e relacionamento.
Os principais operadores do setor de material de construção têm sido muito cautelosos nos investimentos nos canais digitais, envolvendo o e-commerce, sendo um dos setores menos atuantes na área, apesar de que seus consumidores finais, não profissionais, serem cada vez mais digitais e estarem frequentemente usando a rede em busca de informações e atualização sobre produtos, marcas e serviços. Essa realidade e a busca de diferenciação impulsionará o setor para avançar mais rapidamente nessa área, até porque os investimentos em lojas físicas serão um pouco mais cautelosos nos próximos anos;
9. Novos players internacionais.
Apesar do período próximo não ser dos mais estimuladores no setor de material de construção, a atratividade do mercado brasileiro, mesmo com todas as suas dificuldades e particularidades, associada com a baixa concentração atual, poderão estimular a entrada de um novo player global, de origem europeia ou norte-americana, ou mesmo a diversificação de negócios e setor de operadores já presentes no mercado brasileiro;
10. Os fornecedores vão à luta.
A perspectiva de uma maior concentração no futuro do varejo do setor de material de construção, o aumento da participação das marcas próprias e aumento do nível de competição, deverão estimular alternativas de criação de canais próprios de vendas, lojas exclusivas ou e-commerce, bem como de relacionamento, por parte dos fornecedores do setor, como já fazem, no mercado local ou internacional, empresas como Portobello, Sherwin Williams e outros;
11. Mais serviços integrados.
O aumento da pressão competitiva e mais a necessidade de diferenciação e melhoria de rentabilidade, deverão levar os principais varejistas, e mesmo fornecedores, a desenvolverem e oferecerem mais serviços e soluções integradas com seus produtos, aumentando suas receitas e criando uma nova realidade de mercado. A nova loja Sodimac avança um pouco mais num caminho que começou a ser trilhado pela Leroy Merlin no Brasil e que será cada vez mais relevante no futuro do setor.
(Exame)