Estamos diante de um cenário diferente, curioso, preocupante e dramático. A pandemia de covid-19 já não é tão assustadora na questão sanitária. A vacinação em massa da população brasileira vem conseguindo reduzir sistematicamente o número de novos casos e, principalmente, de novos óbitos.
Os efeitos da pandemia começam a ser sentidos agora com o retorno das atividades econômicas em um ritmo mais intenso. Eventos começam a ser presenciais, shoppings funcionam com horário integral, as máscaras começam a deixar de ser obrigatórias (pelo menos em espaços abertos) e os índices de desemprego começam a cair… lentamente, mas estão caindo. Até aqui, não enxergamos nada de diferente do esperado para o início do controle da pandemia. Nada curioso, nem preocupante.
O cenário que estamos falando é o de dificuldades para contratar nesse momento de retomada. Olhando para o mercado estadunidense e canadense, encontramos as empresas oferecendo vagas de emprego, com remuneração mais alta em relação ao período anterior à pandemia. E faltam candidatos. Nos Estados Unidos foram criados 531 mil postos de trabalho em outubro, conforme informações do governo. Apesar do número ser acima das expectativas, empregadores lutam para conseguir funcionários, por falta de candidatos em milhões de vagas em restaurantes, armazéns, serviços de entrega, fábricas ou creches.
Quando falamos do Brasil, ainda não conseguimos celebrar um avanço tão grande na criação de novos postos de trabalho. A taxa de desemprego, que chegou a 14,7% no trimestre de fevereiro a abril, já caiu para 13, 2% no trimestre de junho a agosto, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas).
No trimestre finalizado em agosto, ainda havia 13,6 milhões de brasileiros em situação de desemprego. Foram 368 mil novos postos de trabalho em agosto. Apesar da retomada das atividades e aproximação de um fim de ano promissor para as vendas no varejo, setor privado que mais emprega no Brasil, a abertura de novas vagas em setembro foi menor em relação ao mês anterior – 313 mil novos postos de trabalho.
Sabemos de toda dificuldade dos empresários brasileiros diante do cenário econômico cheio de incertezas, com o aumento do custo operacional e a redução da renda média impactando no apetite do consumo, mas o setor de serviços precisa recompor seus quadros e a criação de novos postos. De acordo com um levantamento realizado pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), mais de 103 mil vagas serão abertas até dezembro, o que representa um aumento de 43,8 mil postos de trabalho em relação ao previsto para o ano passado.
Será que vai ser fácil preencher essas novas oportunidades? É certo que não! A mão de obra disponível tem baixa qualificação. O cenário com pressão de custos exige maior produtividade. A transformação digital das empresas exige novas competências. A mão de obra disponível ficou congelada nos últimos 18 meses no que tange o tema desenvolvimento profissional, principalmente sobre uso de tecnologias. Mesmo em setores onde a tecnologia não é exigida para que tenhamos qualidade operacional, como o setor de bares e restaurantes, a baixa qualificação da mão de obra faz com que 20% dos estabelecimentos estejam com dificuldade de ocupar as vagas por esse motivo.
Já acabou faz muito tempo aquele pensamento de que, para trabalhar em loja basta estar respirando. Hoje, o varejo é altamente profissionalizado! A linha de frente, que atende olho no olho, é multifuncional. Tem de estar profundamente capacitada comportamental e tecnicamente. Tem de ter múltiplas inteligências e estar atualizada sobre o mercado para conseguir fazer conexões emocionais com os clientes, garantindo uma experiência de compra encantadora.
O que fazer? Seguir os bons exemplos que temos visto no mercado e investir na qualificação de pessoas. Um dos casos mais recentes é o Desenvolve 40+, do Magazine Luiza.
A empresa oferece 100 bolsas para pessoas com 40 anos ou mais em seu novo programa de formação em tecnologia. Se existe um setor que faltam profissionais qualificados no mercado, esse é o setor de TI. Então, vamos investir em formação de novos profissionais. Esse é o caminho, não é só para o setor de tecnologia. A era pós-covid exige que todos nós tenhamos novas competências para sustentar a transformação que as empresas precisam fazer para sobreviver.
Quanto você investiu, nos últimos 18 meses, em qualificação profissional para fortalecer nossa mão de obra brasileira? Seu “novo” negócio depende disso!
Luiz Guilherme Baldacci é sócio-diretor da Friedman.
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