A taxa de juros Selic de 15%, estabelecida pelo Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil), tem acarretado consequências negativas para a economia, como o encarecimento do crédito para pessoas físicas e empresas, o que pode levar a um aumento do desemprego. Além disso, já está causando uma redução no ritmo da atividade econômica, em especial no varejo. Os empréstimos e financiamentos também estão excessivamente caros, há desestímulo ao consumo e maior endividamento pela impossibilidade dos tomadores fazerem frente às elevadas taxas, o que poderão causar a redução da oferta de crédito ao consumo, muito danosa ao varejo.
No varejo, os juros altos acarretam queda nas vendas e aumento do custo de capital de giro, pois o acesso ao crédito para as empresas fica mais caro, dificultando o fluxo de caixa e a rolagem de dívidas; reduzem resultados e investimentos, já que, com os custos elevados, as empresas adiam ou cancelam novos investimentos; e aumentam o risco de fechamento, demissões e perda de confiança.

Difícil aceitar as justificativas econômicas para a não queda da Selic e dos juros praticados no mercado. Olhar muito fortemente para o longo prazo na tentativa de corrigir os rumos da economia poderá sufocá-la de tal forma no curto prazo que o futuro poderá ser fortemente recessivo.
Vejamos o que está acontecendo no varejo neste momento, que já mostra o esfriamento da economia. As vendas do varejo caíram 0,3% em setembro, registrando a quinta queda em seis meses, confirmando o desaquecimento da atividade econômica.
O IBGE destacou que, na passagem de um mês para o outro, houve uma predominância de taxas negativas ou próximas da estabilidade, especialmente no segundo trimestre de 2025, o que indica uma perda de dinamismo, que pode ser observada nos percentuais abaixo:
Variação % mês a mês (varejo restrito – ajuste sazonal)
- Maio -0,2%;
- Junho -0,1%
- Julho -0,3%
- Agosto 0,1%
- Setembro -0,3%
Os rumos da política monetária dão sinais claros de desaceleração da economia, da inflação, do aumento do comprometimento da renda e da população endividada. Um olhar muito distante para o terceiro trimestre de 2027, como parâmetro para a redução da taxa Selic, poderá gerar, em 2026, um ano muito difícil para o ambiente de negócios.
No gráfico abaixo, pode-se ver que juros elevados, em geral, impactam negativamente o varejo, e isso está ocorrendo novamente.

Resta a questão da dívida pública do governo geral (DBGG), frequentemente citada como justificativa para a não redução dos juros. Em setembro de 2025, o indicador alcançou 78,1% do PIB, o maior já registrado para este mês. A maioria das análises econômicas publicadas indica que será necessário um ajuste fiscal, que provavelmente ocorrerá a partir de 2027. Essa é uma situação posta, que não pode destruir o presente da economia.
O Brasil tem histórico de elevada dívida pública do governo geral (DBGG) nos anos de eleições majoritárias (2014, 2018, 2022, 2026), conforme abaixo.
Ano DBGG em % do PIB:
2013 ~51,5% para 2014 ~57,2%
2017 ~74,0% para 2018 ~77,2%
2021 ˜ 80,3% para 2022 ~72,9%
2024 ˜ 76,1% para 2025 ˜ 79,5% (projeção semelhante para 2026 pelos analistas de mercado)
O ajuste da economia para 2027 será uma missão para o novo governo. No entanto, poderá ficar muito mais difícil se a economia chegar demasiadamente enfraquecida ao final de 2026, em grande parte devido ao nível elevadíssimo da taxa Selic mantida por um longo prazo. Os fundamentos econômicos são importantes, mas o mercado jamais demonstrou a urgência da queda da Selic em patamares significativos.
O Brasil está “fora da curva” em qualquer comparação internacional que se faça.

Jorge Gonçalves Filho é presidente do Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV).
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
Imagem: Envato















