Uma combinação de novos hábitos de consumo e mudanças estruturais no mercado deve guiar o varejo no ano de 2026. Marcas autênticas e com forte conexão com as comunidades vão continuar em alta, assim como subúrbios e bairros universitários. A moda de brechó seguirá ganhando espaço ao mesmo tempo em que o luxo crescerá na outra ponta – dinâmica semelhante à que será vista na gastronomia, cujo poder de atração ficará dividido entre o fast-casual e o premium.
Esses são alguns dos insights de um relatório que acaba de ser divulgado pela Placer.ai, empresa de tecnologia especializada em fornecer análises e inteligência de localização com base em dados de tráfego de pessoas nos Estados Unidos.
O relatório mostra que 2025 estabeleceu tendências de varejo que devem continuar fortes no próximo ano. A complexidade da economia e as incertezas geradas sobre as tarifas impostas a países estrangeiros fizeram com que os consumidores americanos focassem em preço. Eles continuaram, porém, atentos à conveniência promovida pela omnicanalidade, à qualidade dos produtos e ao propósito das marcas.
“[O ano de] 2025 reforçou que o varejo segue dinâmico. Valor segue importante, mas autenticidade e experiência ganham peso. O físico e o digital estão mais integrados do que nunca. Em 2026, a adaptabilidade será a principal vantagem competitiva. As marcas vencedoras serão as que refinarem suas estratégias sem perder sua identidade”, resume o relatório da Placer.ai.

Do brechó ao luxo
Na moda, varejistas especializados em produtos com desconto e brechós ganharam força entre a população de renda baixa e média. Ao mesmo tempo, o segmento de luxo manteve crescimento modesto, mostrando que consumidores de alta renda seguem dispostos a pagar por experiências premium. O alerta da Placer.ai é, assim, para varejistas tradicionais e lojas de departamento que vendem para a classe média, que podem ter dificuldade de se posicionar entre um extremo e outro.
No foodservice, os restaurantes premium estão superando os casuais, impulsionados por consumidores de maior renda e por ocasiões especiais. Enquanto isso, consumidores sensíveis ao preço estão migrando do casual dining para fast-casual — com um nível mais alto de experiência por um valor acessível.
Por outro lado, propósito continua no radar do consumidor americano. Marcas que entregam uma experiência intencional têm registrado crescimento consistente, o que mostra que a autenticidade e o engajamento serão moedas fortes no varejo em 2026.
A Placer.ai cita o exemplo da Trader Joe’s, que aposta em sortimento local, giro de produtos sazonais e marcas próprias. Outro caso citado é o da Sprouts, que se destaca pela proposta centrada em frescor, sustentabilidade e saúde, com lojas menores. Da mesma forma, a Barnes & Noble empodera gerentes locais para adaptar lojas às comunidades e promover eventos culturais.

Rumo aos subúrbios
Outro comportamento da população que tem moldado o varejo é o aumento do movimento nos subúrbios, os bairros americanos mais distantes dos centros. Nesse pós-pandemia, o trabalho híbrido faz com que muitos consumidores mantenham suas rotinas, incluindo as de consumo, mais locais. Assim, marcas que atuam nessas regiões, como Costco, Cava e Dutch Bros., se recuperaram mais rápido. Outras, como Shake Shack, Chipotle e Sweetgreen, passaram a priorizar a expansão justamente nos subúrbios.
O investimento em áreas suburbanas, destaca a Placer.ai, ocorre paralelamente ao foco em mercados universitários e consumidores jovens. Marcas como Cava, Panda Express e Raising Cane’s cresceram perto de campi e a até a Target ampliou sua atuação com o público jovem com lojas próximas a universidades.
Os jovens, aliás, estão mostrando grande engajamento por marcas que apostam em lojas temporárias, as pop-up stores, e campanhas com influenciadores. E os shoppings têm sido os grandes canais dessas ações.
A Placer.ai cita o exemplo da loja da Pandora do shopping The Grove, em Los Angeles, que contou com a presença do grupo Katseye na abertura. No Westfield Century City, na mesma cidade, o TikTok fez uma ativação para comemorar o lançamento do novo álbum da cantora Taylor Swift, recriando cenas de um videoclipe. Os influencers Ninja Kidz e Salish Matters participaram de eventos no American Dream, em Nova Jersey, que incluíram a inauguração de um Ninja Kidz Action Park e o lançamento de um produto da marca de cuidados com a pele Salish Matter.

Online e offline
À medida em que a tecnologia evolui, o varejo está conseguindo unir a eficiência digital com a conveniência física de maneira mais fluida. O resultado são consumidores aderindo cada vez mais ao “buy online, pick up in store” (compre online e retire na loja) e à entrega no mesmo dia. Inovações como a integração entre estoque e operações do Walmart por meio da Inteligência Artificial (IA) estão reduzindo prazos.
O movimento de marcas nativas digitais abrindo lojas físicas se intensificou — unindo eficiência digital e experiência presencial. Um exemplo é a Framebridge, especializada em molduras, cuja expansão no número de lojas fez o volume de visitas mensais por unidade crescer. A marca foca em produtos únicos, pedem uma consultoria presencial e criam experiências personalizadas. A Gymshark, de moda e acessórios fitness, também segue o mesmo caminho.
Imagens: Divulgação















