A década do varejo, definitivamente, terminou. Essa é a avaliação de Marcos Gouvêa de Souza, fundador da GS&MD, uma das mais tradicionais consultorias brasileiras para varejistas.
Nos últimos meses, a hipótese de que o vigoroso crescimento do setor na última década (acima de 5% entre 2004 e 2014) havia se esgotado gerou uma série de debates públicos. Na terça-feira (16/02), o IBGE acrescentou um dado à discussão: o varejo teve uma retração de 4,3% no ano passado, primeira queda desde que a estatística passou a ser publicada, em 2001. Para o consultor, é o início de uma nova realidade: ele acredita que a “era de ouro” dos varejistas está encerrada.
“Até onde é possível enxergar, o varejo não terá mais o crescimento que vinha tendo”, diz Gouvêa. O setor, ele acredita, cresceu rapidamente graças a fatores que não poderão se repetir. O principal foi a incorporação de mais de 40 milhões de brasileiros ao mercado de consumo. “Esse processo, agora, está concluído”, diz Gouvêa. O crescimento rápido, portanto, teve a ver com uma questão estatística: o Brasil tinha uma base de vendas relativamente pequena, sobre a qual era mais fácil promover altas expressivas.
No atual patamar de vendas, porém, repetir esse desempenho é bem mais difícil. Além disso, a última década também foi marcada por mudanças comportamentais que passaram a apertar as margens dos varejistas. “Houve um empoderamento do consumidor”, diz Gouvêa. “Ele exige mais das marcas, quer lojas melhores, mais assistência técnica. E tem muito mais acesso à comparação de preços”, afirma o consultor.
Gouvêa acredita que o resultado ruim de 2015 se deveu a uma tempestade perfeita que atinge o varejo. Ela é provocada por uma mistura de desemprego mais alto, perda de renda dos trabalhadores, taxa de juros elevada, restrições a concessão de crédito pelos bancos e a baixa confiança dos consumidores. “Como mantenho uma relação próxima com empresários e associações do setor, esse dado [a queda de 4,3%] não nos surpreendeu”, ele diz.
O consultor acredita que, neste ano, o clima deve ser um pouco melhor para os varejistas. “Não fosse o cenário político ruim, a economia já estaria começando a responder positivamente”, afirma Gouvêa. Para ele, a Olimpíada e as eleições municipais tendem a ajudar nas vendas. “Esses fatos vão tirar o foco de Brasília e distender um pouco a tensão dos consumidores”, afirma. Ele prevê que o varejo vá fechar 2016 com um resultado entre queda de 2% e alta de 1% na comparação com o ano passado.
Por Época Negócios