As preparações veganas, sem qualquer ingrediente de origem animal, vêm conquistando adeptos e se tornando cada vez mais uma realidade de mercado.
Nos últimos dias, a Nestlé, maior empresa alimentícia do mundo, também aderiu à tendência de reduzir o consumo de carne e anunciou o lançamento de um hambúrguer vegano na Europa e nos Estados Unidos.
A novidade veio poucos dias depois do Burger King também lançar a versão vegana de seu hambúrguer. O mercado brasileiro não ficou para trás.
Na semana passada, o empresário Marcos Leta, que criou a marca Do Bem, anunciou o Futuro Burger -um hambúrguer totalmente vegetal que leva proteína de ervilha, proteína isolada de soja e de grão-de-bico e beterraba para imitar a cor e o sangue da carne animal.
Uma pesquisa do Google Trends, braço de análises do Google, mostra que as buscas pelo termo “veganismo” cresceram 1.000% nos últimos quatro anos no Brasil.
Nunca se falou tanto a respeito. Levantamento da consultoria americana projeta em US$ 6,4 bilhões o faturamento mundial de produtos que embutem vegetais sucedâneos da carne em 2023 ante atuais US$ 4,3 bilhões.
Embora há algum tempo um grupo de empresários esteja realizando um verdadeiro trabalho de formiguinha para ampliar as opções sem origem animal, as multinacionais de alimentos começam a dar alguns passos em direção a um mercado com menos produção e consumo de proteína animal.
O americano Pat Brown, professor de bioquímica de Standford, tem papel fundamental nessa mudança. Em 2011, ele lançou a Impossible Foods, startup que revolucionou o mercado vegano ao descobrir que a heme, uma molécula de proteína que contém ferro e está presente em plantas e animais, é o ingrediente que dá à carne o seu aroma, sabor e textura.
Em 2016, a startup lançou um hambúrguer feito de proteínas de trigo e batata, óleo de coco e heme –uma combinação que faz a preparação “sangrar” como se fosse feita de carne de verdade.
Nos últimos anos, Brown captou mais de U$ 475 milhões para a Impossible Foods e lançou outras versões melhoradas da receita. Agora, trabalha em uma parceria com o Burger King para alimentar a crescente população vegetariana também nas redes de fast food da marca.
As receitas serão testadas ao longo do ano na região de St. Louis, no estado de Missouri – o coração do churrasco e da carne nos Estados Unidos. No Brasil, os restaurantes do Burger King já oferecem uma opção vegetariana, o Veggie Burger, um empanado feito de batata, cogumelos e queijo.
Há dois anos, na região de Perdizes, o açougue No Bones vende produtos seguindo a linha do veganismo.
São preparações em formato de linguiças, costelinhas, coxinhas e bifes. De longe, podem até parecer peças comuns, dessas que encontramos refrigeradas em qualquer supermercado, mas é tudo sem carne.
Proprietária do negócio, Marcella Izzo sentiu na pele as dificuldades de um vegano na hora de fazer compras.
“Quase tudo era feito à base de soja, pouco criativo e muito caro”, diz.
Depois de criar receitas mais variadas que agradavam quem provava, ela decidiu tornar seu aprendizado em algo comercial. Inspirou-se em outros negócios que também seguem um estilo de vida sem a exploração animal.
Decidiu-se por um açougue, onde fosse possível comprar congelados de “carne” com formato similar ao de cortes originais, como, picanha. São costelinhas (uma mistura de cogumelos), hambúrgueres (feitos com lentilha e grão-de-bico), espetinhos (de soja), linguiças (à base de feijão), salsichas (de tomate seco) e por aí vai.
Para materializar o projeto, Marcella e seu marido se mudaram do apartamento onde moravam para uma casa em Perdizes, na zona oeste de São Paulo. Dessa forma, economizaram o valor do aluguel e ainda podiam monitorar tudo de perto.
Foram quatro meses para montar a loja na garagem do imóvel, que tem mesas, refrigeradores e prateleiras distribuídas em uma área de 28 metros quadrados. Tudo montado com as economias do próprio casal, cerca de R$ 60 mil.
A ideia de Marcella era trabalhar na loja de terça a sexta-feira, e entre um cliente e outro ainda tocar alguns projetos da sua área de formação, a arquitetura. Aos finais de semana, o negócio permaneceria fechado.
Mas, a abertura da loja surpreendeu. Em menos de duas horas, foram vendidos todos os dois mil itens preparados para a inauguração e ela e o marido precisaram fechar as portas. Marcella passou as horas seguintes na cozinha, refazendo todo o estoque da loja. Em um mês, todo o aporte feito no negócio foi recuperado.
Fonte: Diário do Comércio
*Imagem reprodução