Por Marcos Gouvêa de Souza*
Não dá para se enganar. O desemprego formal ainda irá crescer e poderá chegar a 13%. A renda e consequentemente a massa salarial real estão caindo, e no momento estamos nos mesmos patamares de quatro anos atrás. A inflação está alta, acima de 9%, caindo em velocidade inferior ao que se previa e, portanto, corroendo o poder aquisitivo da população. O crédito está caro e seletivo. A única variável positiva no atual cenário é a confiança de consumidores, que cresceu pelo quarto mês consecutivo, e a do próprio setor empresarial.
Dá para acreditar que estamos vivendo um novo ciclo? É hora de rever o que vínhamos fazendo e os projetos futuros?
De fato o desemprego atinge com maior impacto jovens na faixa de 18 a 24 anos (um em cada quatro está desempregado), mulheres e as populações do Nordeste e Sudeste. Mas é o principal problema nacional no momento atual e com perspectivas de ainda crescer nos próximos meses, enquanto as medidas que estão sendo adotadas não surtem efeito.
Da mesma forma, renda e massa salarial não reagirão enquanto não houver recuperação do emprego e, ao contrário, as empresas estão ainda muito mais cautelosas, com razão, em tudo que signifique aumento de custos, especialmente salários e encargos, com a consciência que não se consegue repassar para preços finais dos produtos e serviços, eventuais elevações nos custos operacionais.
O efeito da inflação próxima a 9% na corrosão do poder aquisitivo pelo aumento dos preços de alimentação no lar, que se aproxima dos 17%, pune mais diretamente as classes com menor renda, amplificando nesse segmento o sentimento de perda real de capacidade de consumo.
A cautela do sistema financeiro na análise e concessão do crédito, dado o cenário macro de desemprego e redução de renda, torna o crédito caro e escasso, porém, mantém saudável equilíbrio envolvendo inadimplência e endividamento familiar, afastando qualquer risco sistêmico de descontrole nessa área.
A confiança de consumidores e empresários tem estado em ascensão desde que o processo de impeachment foi iniciado e tem crescido a cada mês, à medida em que novas etapas foram vencidas e tem sido alimentada pela sinalização de uma clara mudança nos rumos da economia e na revisão de aspectos estruturais importantes. É o melhor indicador de que se desenha de fato um outro cenário e será uma questão de tempo para que se possa colher o resultado dessas transformações.
Quanto tempo?
A pergunta que está no ar para todos é exatamente quanto tempo para que se possa ter claro que mudou e que é para melhor.
O que não se pode ignorar é que em boa parte a resposta dessa pergunta está em cada um que tem responsabilidade com o todo. Ou que quer ter. Não tem hora para começar a acreditar que pode e deverá ser diferente. Apenas temos certeza que o pior já passou e daqui para frente a melhoria virá pelas iniciativas e mudanças de atitudes que percebermos na sociedade como um todo, mas, principalmente, de nosso próprio comportamento e atitude.
Não é uma questão de acreditar por acreditar. É uma questão de avaliar a dimensão das transformações que já estão em curso, mudar expectativas e contribuir para fazer acontecer, e não esperar para ver o que vai acontecer.
Não é uma questão de voluntarismo. É uma atitude empresarial consciente de tomar a iniciativa e se antecipar dentro da mais pura lógica empresarial de desbravar e se posicionar antes que outros o façam, colhendo os resultados desse comportamento.
Os elementos que estarão presentes na nova reconfiguração foram por nós apresentados nos últimos artigos desta série Momentum, publicados nas duas semanas anteriores e estão disponíveis para leitura em nosso site www.gsmd.com.br na área de artigos de nossos sócios e diretores. Outros estão e estarão sendo publicados dentro da mesma lógica.
Quem sabe faz a hora e poeira
A expressão se incorporou ao conjunto de elementos que sinalizam a capacidade do ser humano, em especial os empresários e empreendedores, de tornarem realidade o que pode parecer distante e difícil, pela mobilização de recursos, especialmente pessoas, e elementos que possam viabilizar transformação, mesmo em cenário de contração.
Se chegaremos a 13% de desemprego informal, teremos 87% de empregados formalmente, para quem a vida continua. E outra parcela não medida de emprego informal que também ajuda a criar renda.
Se estamos nos patamares de massa salarial real do primeiro semestre de 2012, vamos lembrar que o País e os negócios se movimentavam, e muito bem, naquele período.
Se foram fechadas mais de 100 mil lojas, lembremos que explodiram os sites de vendas de produtos e serviços.
Se na recessão muitos negócios perderam vitalidade e retraíram ou desapareceram, vamos lembrar que outros aproveitaram o cenário para crescer e expandir, bastando lembrar como o setor de atacarejo, serviços no ambiente digital (airbnb, Uber, etc), clínicas minuto e muitos mais continuam a crescer, apesar ou especialmente por conta do cenário.
Agora é momento de tomar iniciativas, repensar modelos e perspectivas e movimentar para frente para deixar para trás os momentos terríveis pelos quais passamos, por conta de tudo o que aconteceu no ambiente político e econômico. Em boa parte cabe a nós mesmos fazer a hora.
Só não podemos deixar de refletir sobre o quanto, por nossa omissão, tudo que aconteceu, aconteceu como aconteceu. A conjugação do descalabro administrativo e financeiro no Governo em conluio com o congresso e os políticos só chegou onde chegou porque contou com a omissão, quando não conivência, de parcelas do setor empresarial. E isso não pode ser esquecido e tem que ser revisto e repensado estruturalmente para que não mais possa acontecer.
No mais, é hora de irmos em frente, antes que sejamos ultrapassados pelos que se movimentarem mais rápido. É hora de voltar a fazer poeira.
*Marcos Gouvêa de Souza (mgsouza@gsmd.com.br) é diretor-geral da GS&MD – Gouvêa de Souza. Siga-o no Twitter: @marcosgouveaGS