O ano que se inicia promete muita adrenalina e surpresas ao longo de seus doze meses. Será um ano bastante atípico com a realização de um evento de dimensões internacionais em junho e julho, a Copa do Mundo e, logo em seguida, um pleito presidencial bastante acirrado, também com inúmeras novidades até ele e, posteriormente, a ele. Em relação à Copa do Mundo será um importante teste e vitrine em relação à nossa capacidade de receber e bem atender aos turistas em um grande evento internacional.
Do ponto de vista econômico, 2014 continua sendo a transição entre a Década da Bonança, denominada assim por nós na GS&MD-Gouvêa de Souza e também por nós temporalmente definida como sendo os anos de 2003 a 2012 e o novo contexto econômico internacional de menos bonança…
A década da Bonança extensivamente discutida ao longo de 2013 teve como pano de fundo uma conjuntura com seis primeiros anos de um boom extraordinário nos preços das commodities beneficiando enormemente os países emergentes, Brasil incluso; os quatro anos seguintes, com taxas de juros próximas a zero, facilitando o financiamento das empresas brasileiras entre 2009 e 2012 e induzindo a uma apreciação forte de nossa taxa de câmbio, para o bem e para o mal.
Bem, este cenário mudou, o comércio internacional se arrefeceu, os preços de nossos principais produtos passíveis de exportação caíram consideravelmente e sem grandes perspectivas de fortes elevações no curto-prazo, mesmo com a recuperação norte-americana que está induzindo expectativas de elevação dos juros nos próximos trimestres; se não aqueles de curto-prazo agora, ao menos impactando aqueles de médio e longo-prazo.
Dessa maneira, a principal variável econômica de influência mundial continua sendo as perspectivas em relação ao comportamento das taxas de juros norte-americanas; não só os Fed Funds, as taxas de juros de curto-prazo, mas toda a curva de juros yankee¸ ou seja, em suas diversas maturidades. É a curva de juros norte-americana que determina o custo de capital ao redor do globo e, por consequência, as movimentações dos portfólios internacionais e, também, em função disso, seus impactos sobre as variações nas taxas de câmbio.
Neste sentido, uma parte considerável das decisões de política econômica ao redor do globo será função dos desdobramentos das decisões e expectativas de decisões da nova presidente do Fed, Janet Yellen.
O novo cenário econômico brasileiro vive, portanto, um aperto forte nas condições financeiras: menos bonança do lado do comércio exterior atrelado a um maior custo nos financiamentos internacionais, pressão sobre as taxas de câmbio e sobre os preços domésticos e um setor público cheio de demandas e promessas (entenda-se aqui, por lado de gastos e despesas) e um lado de receitas já não tão polpudo como anteriormente.
Em economia, entretanto, há sempre contrapartidas. A desvalorização cambial dos últimos três anos, se ainda não resolve os problemas da indústria nacional, já será um grande alento; por consequência, aquilo que foi a maior desilusão em 2013, o saldo da balança comercial e sua contribuição para o saldo das contas externas deve em 2014 melhorar e com isso, contribuir, segundo minha visão, até mesmo para um crescimento do PIB melhor que em 2013; uma boa notícia.
Com foco no varejo, nosso segmento atingiu ao longo da Década da Bonança, patamares próximos àqueles norte-americanos, tanto do ponto de vista da relação entre Receita Bruta de Revenda sobre PIB quanto em relação ao Valor Adicionado do Comércio (atacado e varejo somados) em relação ao PIB; em outras palavras; o varejo brasileiro cresceu e se consolidou.
O que devemos ver nos próximos anos será a convergência nos indicadores de concentração setorial do varejo, ou seja, fusões e aquisições que deverão ao longo da próxima década nos aproximar ainda mais dos indicadores norte-americanos.
Esperar para ver? Não! Atuar agora para estar do lado certo quando os eventos de consolidação se aproximarem de sua porta.
Ricardo Meirelles (ricardo.meirelles@gsmd.com.br), sócio-diretor e economista-chefe da GS&MD-Gouvêa de Souza.