Com a inflação acumulando uma alta de 8,06% em 12 meses no Brasil, o Banco Central decidiu aumentar a taxa básica de juros da economia (Selic) e novas altas estão previstas para os próximos meses. A maior preocupação no País, contudo, permanece sendo com os altos índices de desemprego.
Nos Estados Unidos, a alta de juros ainda deve demorar – a maior aposta é de que ocorra só em 2023. Na China, o momento é marcado pelo aperto ao cerco à “especulação de commodities”. Esses e outros temas são tratados no “Panorama Mercado&Consumo” desta semana, produzido pelo time da Gouvêa Analytics, integrante da Gouvêa Ecosystem. Confira, a seguir, os principais pontos de atenção nos próximos dias na economia.
Cenário econômico nacional
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu aumentar os juros novamente em 0,75%. O comunicado foi bastante conservador e mostrou preocupação com o cenário inflacionário. Vale lembrar que o IPCA de maio veio com alta de 0,83%, levando o índice de 12 meses a 8,06%. Os índices de junho e julho ainda devem elevar o índice de doze meses para algo entre 9 % e 10%. Além disso, o IPA (Índice de Preços por Atacado) de maio bateu 4,1%, levando o índice de doze meses a mais de 50%. Alguma parte deste índice deve ser repassada ao IPCA.
O Banco Central disse no comunicado que quer levar os juros a sua taxa neutra (que não é nem expansionista, nem contracionista) em 2022. O mercado calcula que essa taxa esteja entre 6,5% e 7%. Portanto, devemos chegar no final do ciclo, em mercados de 2022, a este valor. A próxima alta já esta contratada, de 0,75%, podendo chegar a 1% de acordo com os desdobramentos do processo inflacionário.
O IBC-BR (índice do Banco Central que tenta antecipar o PIB) cresceu 0,44% em abril com relação a março. Embora tenha vindo abaixo das expectativas de mercado, reforça sinal de recuperação nos primeiros meses de 2021.
O mercado de trabalho continua preocupando, embora seja o último a se recuperar em crises. Os dados da PNAD Contínua para o primeiro trimestre apresentam resultados preocupantes para o mercado de trabalho: aumentou o número de subempregados (pessoas que podem e querem trabalhar mais, mas não conseguem), desalentados e desempregados. São 33 milhões de subempregados, 6 milhões de desalentados (desistiram de buscar emprego) e 14,7 milhões de desempregados. A renda média ficou constante, mas com aumento forte do setor público e queda relevante do setor privado.
Cenário econômico internacional
Comunicado do FED (Banco Central norte-americano) mostra que a autoridade monetária mudou oficialmente o tom. Apesar de reconhecer que a alta de juros ainda vai demorar, alguns dos presidentes regionais com direito a voto já mostram que a discussão sobre diminuir os estímulos monetários (compras de ativos) está clara entre eles. Além disso, a ênfase foi mais na rápida recuperação da economia pós-vacina do que nos números ainda não tão bons do mercado de trabalho.
Em relação a uma possível subida de juros, 13 dos 18 diretores acham que ela só virá pelo menos em 2023, enquanto poucos acreditam que virá ainda em 2022. Nenhum acredita que ela chegará em 2021. O cenário, então, apesar da menor liquidez na economia no médio prazo, é da manutenção das taxas próximas de zero por algum tempo.
A China voltou a apertar o cerco ao que ela chama de “especulação de commodities”. O governo exigiu que empresas chinesas abram não só a posição de estoque físico dos produtos, como também as suas posições em contratos futuros. Reforçando essa tendência, a Administração Nacional de Reservas Estratégicas e de Alimentos em breve fará a liberação de metais estocados, incluindo cobre, alumínio e zinco. Como a China não é mais uma formadora de preços no mercado mundial, a estimativa é de que esses movimentos apenas abram uma queda de preço no curto prazo, gerando oportunidade de compras desses ativos.
Gouvêa Analytics é a unidade de mapeamento de tendências econômicas da Gouvêa Ecosystem.
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