O Grupo Guararapes, dono da Riachuelo, tomou uma série de medidas para manter sua operação saudável no primeiro trimestre do ano. Com suas 323 lojas físicas em todo o país e fábrica fechadas durante a crise, a companhia direcionou seus esforços a orientar clientes acostumados a pagar suas faturas em loja (mais da metade da base do recebimento) a adotar meios digitais, reforçando também a parceria com correspondentes bancários, como supermercados e farmácias, para oferecer novas formas de pagamento aos clientes.
O resultado foi o cumprimento de 100% da meta do recebimento em abril e recuperação da lacuna referente às faturas de cartão não pagas em março. “Logo que tomamos a decisão de fechar as lojas, sabíamos que a principal variável a sofrer impacto seria a carteira de recebimentos. Nosso cliente é mais sensível a qualquer movimentação macroeconômica”, disse o CEO da Riachuelo Oswaldo Nunes. “Fomos bastante rápidos e mobilizamos toda a frente de vendas a ensinar o nosso cliente a usar o meio digital”.
A Riachuelo conseguiu fazer com que suas carteiras performassem no nível de gerar caixa no trimestre, além de buscar no mercado outras formas de preservar sua liquidez, mantendo o patamar de caixa saudável para passar pelo momento mais agudo da crise sem impactar sua força de vendas. “Usamos todos os instrumentos necessários para preservar o caixa da empresa e manter nossos empregos. Abrir mão de mão-de-obra qualificada e comprometida é sempre nossa última opção”, reforçou Nunes.
A Riachuelo acessou linhas de crédito junto aos bancos e anunciou em fato relevante a captação de R﹩ 1 bilhão no período, dos quais R$ 200 milhões captados ainda no 1T20 e o restante no mês de abril. “Nos cenários de stress que traçamos no início da crise, tivemos o cuidado de acionar linhas de crédito e aumentar de forma significativa nossa posição de caixa”, afirmou Túlio Queiroz, CFO da Riachuelo.
A companhia encerrou o primeiro trimestre de 2020 com endividamento líquido de R$ 1.582,8 milhões ante R$ 1.613,7 milhões reportados no 1T19. O aumento na alavancagem da companhia, para 1,6x sobre o Ebitda (contra 1,0x no mesmo período de 2019) deveu-se à pressão sofrida no indicador no 1T20, em razão do cenário de queda na receita de vendas e manutenção do nível de despesas operacionais, cujos esforços de eficiência terão efeitos a partir do segundo trimestre.
O ‘novo normal’
Na visão de Oswaldo Nunes, o potencial da loja física continua, com o cliente querendo uma integração cada vez maior para usufruir de melhor experiência, e vê os consumidores voltando aos poucos para um ‘novo normal’ pós-isolamento. Mas a digitalização, segundo ele, deverá se reforçar após a crise e pesar mais na decisão de consumo.
“Vemos um consumidor mais digital e mais exigente com as marcas. Empresas como a Riachuelo, mais robustas e com mais acesso a crédito, estão conseguindo atravessar a crise para seguir avançando na transformação digital com velocidade, e também no relacionamento com o cliente, para sair mais fortes dela. Precisamos ressignificar o papel da loja e reinventar a forma de interagir com o cliente no ponto de venda. É um papel em branco, uma oportunidade de redesenhar o negócio pós-pandemia”.
Só em 2019 a empresa investiu R$ 168 milhões em tecnologia voltada para os canais digitais e, com a crise, muitos projetos foram antecipados, com a visão de ter o cliente no centro do negócio. As vendas pelo WhatsApp estão habilitadas para 100% das lojas físicas e disponíveis em todos os mercados operados pela companhia, e o Click & Collect, também disponível em todas a rede, permite que os clientes retirem os produtos adquiridos online nas lojas físicas.
A empresa também implementou o Drive-thru em 156 lojas para enfrentar o período de crise e o projeto RCHLOVERS, iniciado em abril, que tornou os colaboradores da Riachuelo em novos promotores de venda.
Outras medidas reforçam a operação integrada da Riachuelo nos canais online e offline e a experiência mais fluida em loja. O Ship from Store foi concluído e será implementado a partir de junho e, com isso, a totalidade dos estoques da companhia (centros de distribuição de lojas) estará disponível para as vendas online. O PDV Mobile, já presente em 295 unidades, que possibilita agilidade no fechamento das compras e consequentemente maior conversão no ambiente de loja estará disponível em 100% das unidades na reabertura. Já o Self Check-out, modalidade de autopagamento, será testado ainda esse ano.
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