Executivos que lideram as áreas de sustentabilidade das empresas costumam falar do assunto com paixão e fazer planos ambiciosos – ou, mais do que isso, sonhar alto. Não é diferente com Hélio Muniz, diretor de comunicação e sustentabilidade da Via Varejo, dona das marcas Casas Bahia e Pontofrio.
O desejo dele é o de que, em no máximo cinco anos, a empresa seja capaz de recolher todos os produtos que forem vendidos em suas lojas, e que precisem ser descartados pelos consumidores, e dar a destinação adequada a eles. Do celular à geladeira.
Neste ano, a quantidade de lojas da Via Varejo com coletores de produtos triplicou e chegou a 300. Os consumidores podem levar até esses pontos itens de porte pequeno e médio, como aparelhos de telefone celular e notebooks que não funcionam mais.
Os que podem ser recuperados são vendidos em saldões ou doados por meio da Fundação Casas Bahia. Os que não funcionam podem ter peças úteis removidas e, finalmente, serem levados a locais que fazem o descarte adequado. A meta é que todas as 1.000 lojas das marcas do grupo tenham esses coletores em breve.
“A gente tem planos de escalar essa logística reversa”, afirma Muniz, referindo-se ao processo de gestão e distribuição do material descartado. “Queremos fazer isso com todos os nossos produtos.”
Geladeira e sofá boiando na enchente
Ele cita o exemplo das geladeiras, que demoram para ser descartadas, porque costumam ser repassadas de uma pessoa para outra, mas, quando não têm mais conserto, têm destino incerto.
“Na primeira enchente que acontece, a gente vê a geladeira boiando, vê o sofá. Nós somos responsáveis por isso. Nós queremos nos adiantar e retirar, do lixão e das enchentes, os produtos que vendemos. Meu sonho é pegar o colchão, o móvel, tudo o que a gente entrega. Eu quero vender, mas quero pegar de volta.” A meta é que isso seja possível em até cinco anos.
Hélio Muniz, claro, também está atento à Política Nacional de Resíduos Sólidos, criada há dez anos, e que define que a responsabilidade por esses resíduos é compartilhada. Segundo dados da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), a produção de resíduos sólidos urbanos cresceu 11% no País, de 71,2 milhões de toneladas por ano em 2010 para 79 milhões de toneladas agora. Mas, do total do lixo gerado, apenas 4% são reciclados – ou seja, a lei ainda tem muito a avançar.
Para ele, independentemente da legislação, toda a cadeia produtiva, – a indústria, o varejo e a logística – precisa se mexer. É importante trabalhar o conceito da economia circular e evitar o descarte exagerado dos produtos. Ele destaca que, apesar de a Via Varejo ser uma empresa de varejo, ela tem uma das maiores malhas logísticas do País. Neste ano, essa capacidade foi ampliada depois da compra da startup ASAPlog, especializada em soluções de logística urbana e conexão de transportadoras em etapas de longas distâncias.
Consumidor vai pagar para ‘se livrar’ de produto
O executivo enxerga, até, novas fontes de recursos para o grupo. “Talvez o consumidor esteja disposto a me pagar para eu pegar o produto dele, mesmo que não tenha sido vendido por mim, para que eu dê o descarte adequado. Em algum momento, pode ser que as pessoas queiram pagar para a Via Varejo retirar, de suas casas, produtos que elas nem compraram com a gente. Isso pode ser um negócio.”
Para Hélio Muniz, uma das maiores inspirações para trabalhar na área é pensar na filha de 13 anos e no mundo que quer em que ela viva. “Além disso, as pessoas hoje são muito ligadas a questões de sustentabilidade, responsabilidade e igualdade de gênero. Se a gente quiser continuar existindo como uma empresa que seja interessante para trabalhar, eu preciso atrair essas pessoas. Se não fosse por propósito, seria por necessidade.”
O executivo acha, ainda, que a sociedade não deve esperar apenas por ações do poder público. “O poder público não tem a tecnologia e capacidade logística para fazer o que a Via Varejo faz. A empresa tem de estar consciente de que tem a capacidade e o papel social para resolver problemas.”
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