Você deve ter lido nos jornais e portais de notícias sobre o rápido aumento do desemprego no País, segundo os dados da Pnad Contínua, medida pelo IBGE, no trimestre de julho a setembro de 2020 o Brasil atingiu 14,6% de desemprego, totalizando 14,1 milhões de pessoas sem ocupação, maior patamar desde janeiro de 2012, quando a pesquisa foi implementada.
Esses 14,1 milhão de desempregados representam um forte crescimento de 1,6 milhão de pessoas sem ocupação na comparação com o mesmo período de 2019 – e vale lembrar que os dados da Pnad contemplam todo tipo de ocupação (trabalhadores formais, funcionários públicos, autônomos e informais).
Mas o que chama realmente a atenção não é o aumento do número de pessoas desempregadas, mas sim a queda brutal de 11,3 milhões do número de pessoas ocupadas, e é aqui que mora o lado oculto do dado que a ampla maioria dos meios de comunicação não aborda.
O lado oculto
Para entendermos o lado oculto dos números, primeiro precisamos detalhar como o cálculo de desemprego é feito pelo IBGE, que segue a mesma metodologia adotada na ampla maioria dos países.
A Pnad-Contínua realizada pelo IBGE realiza entrevistas mensalmente em 211 mil domicílios (que são rodiziados) em 5.506 municípios em todo o Brasil e investiga diversos temas, entre eles emprego, renda e dados sociodemográficos. Em grandes linhas, o respondente deve dizer se trabalhou na sema passada pelo menos uma hora em atividade remunerada. Caso responda que sim, a pessoa é considerada ocupada; mas se a pessoa respondeu que não, o entrevistador pergunta se nos últimos 30 dias ela “tomou alguma providência para conseguir trabalho, seja um emprego ou um negócio próprio”. Se diz que sim, então é considerada uma pessoa desocupada; caso ela responda não, ela deixará de ser contabilizada na População Economicamente Ativa (PEA).
Você pode conferir aqui o questionário na íntegra.
A questão é que, por conta da Covid-19, milhões de brasileiros deixaram de procurar emprego por inúmeros motivos: medo de sair na rua, recebimento de auxílio emergencial, desesperança de encontrar trabalho com a economia fraca, necessidade de cuidar de filhos e dependentes que agora estão em casa, etc.
Dessa forma, o indicador de desemprego medido pelo IBGE está tirando da sua base de cálculo mais de 9,7 milhões de pessoas que estão desocupadas, mas que temporariamente deixaram a força de trabalho.
Para chegar no número de 14,6% desemprego mostrado no primeiro gráfico desse artigo, o IBGE faz o seguinte cálculo:
Ao entendermos a metodologia que é utilizada, podemos fazer uma estimativa de qual seria o valor real do desemprego ao recalcularmos o índice utilizando a PEA do mesmo período de 2019, assumindo que as pessoas que procuravam emprego há um ano voltarão ao mercado após a normalização do cenário da Covid-19. Ao aumentarmos o número de desempregados e da PEA em 9,7 milhões (pessoas que deixaram o mercado de trabalho como demonstrado no gráfico acima), o desemprego recalculado passa a ser:
E o gráfico histórico de desemprego ajustado ficaria da seguinte forma:
Fenômeno global
A Gouvêa é membro do Ebeltoft Group, aliança global de consultorias de consumo presente em 22 países. Por meio desse grupo, levantamos que o fenômeno de aumento do desemprego e redução da população ativa está acontecendo também na ampla maioria dos países europeus, na América do Norte, na Ásia e na África, que também estão com seus indicadores de desemprego subestimados.
Portanto, devemos esperar um boom de piora nos indicadores de desemprego em âmbito global, mesmo com o início da retomada da atividade econômica.
O pior já passou
Apesar do altíssimo patamar de desemprego – 1 em cada 4,5 que querem/podem trabalhar estão desempregados – podemos dizer que o pior já passou. Tivemos um pico de crescimento do desemprego em abril e maio de 2020 (já ajustado pela metodologia descrita aqui), nos meses de junho, julho e agosto já observamos uma forte redução no ritmo de crescimento e até mesmo uma leve queda em setembro.
Como apontamos anteriormente nesse artigo, o índice oficial de desemprego medido pelo IBGE deve subir forte em 2021 com a reentrada dos brasileiros no mercado de trabalho, mas esse crescimento somente irá refletir o ajuste da PEA, sendo que o indicador ajustado de desemprego muito provavelmente continuará caindo com uma economia em recuperação em 2021.
Dessa forma, não se assuste com os números que serão divulgados em 2021. O pior da tormenta no emprego ficou para trás e é hora de recuperarmos o terreno perdido. Vamos em frente!
Eduardo Yamashita é COO da Gouvêa Ecosystem.
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