A rápida incorporação da Hering pelo Grupo Soma após a recusa da empresa centenária à oferta da Arezzo causou surpresa nesta segunda-feira (26), mas, impactado fortemente pela crise, o varejo de moda tem feito amplos movimentos em direção à formação de ecossistemas de negócios.
Exemplos recentes não faltam. O próprio Soma avalia uma combinação de negócios com a Shoulder, de moda feminina. Em fato relevante enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a empresa diz que “constantemente e discute potenciais oportunidades de aquisições que possam gerar valor de mercado para os seus acionistas e seu negócio”.
Em outubro do ano passado, a Arezzo&Co anunciou a compra da Reserva após uma negociação que teve início em plena pandemia de Covid-19. A iniciativa estabeleceu a entrada do grupo (dono de Arezzo, Schutz, Anacapri, Alexandre Birman, Fiever, Alme e Vans) no segmento de vestuário voltado para as classes A/B com as seis marcas da Reserva (a própria Reserva, Reserva Mini, Oficina Reserva, Reserva Go, EVA e INK).
Enquanto isso, a Lojas Renner, em meio a uma oferta de ações que poderá lhe render até R$ 6,5 bilhões, já decidiu, também, seu alvo: o e-commerce de moda Dafiti, que tem um valor estimado pelo mercado de R$ 10 bilhões. Se a aquisição avançar, a Renner se colocará, de vez, entre as maiores empresas do varejo de moda online no País.
“O setor de vestuário e calçados foi um dos mais impactados pela Covid-19 em todo o mundo por causa das mudanças do comportamento do consumidor e pelas restrições de deslocamento. Era de se esperar que esse também fosse um dos setores que apresentassem maior movimentação de fusão de empresas”, analisa o COO da Gouvêa Ecosystem, Eduardo Yamashita.
O especialista destaca que a crise gerada pela pandemia, assim como outras passadas, gerou desafios, mas, ao mesmo tempo, oportunidades. “Há um claro movimento de consolidação no consumo brasileiro em que as empresas têm buscado se unir para ganhar mais musculatura para enfrentar as consequências da crise. Já outras aproveitam sua capitalização para ir a mercado unir forças”, diz.
Grandes conglomerados
A união de grandes marcas tem ido além do segmento de moda. Um dos maiores ecossistemas de negócios do Brasil, hoje, é o Magazine Luiza, que há muito tempo deixou de ser uma varejista de móveis e eletrônicos. O Magalu atua hoje em áreas que vão de moda e beleza, com as marcas Netshoes, Zattini e Época Cosméticos, a delivery de comida, com o AiQFome. Apenas nos últimos meses, adquiriu a empresa de busca inteligente para e-commerce SmartHint, a plataforma multimídia Jovem Nerd e o e-commerce de supermercados VipCommerce.
No último dia 20, o Universo Americanas anunciou a aquisição de 70% das ações do Grupo Uni.co S.A., referência em varejo especializado de franquias no Brasil e dono das marcas Puket, Imaginarium, MinD e Lovebrands. No mês passado, o Carrefour Brasil anunciou a compra do Grupo Big, numa estratégia para ampliar sua atuação em regiões do País em que tem penetração limitada, como o Nordeste e Sul.
As inspirações vêm, principalmente, da China, onde dominam ecossistemas como Alibaba, JD.com, Tencent e Pinduoduo (cuja história foi contada recentemente por Eduardo Yamashita em artigo publicado no portal Mercado&Consumo). Além, claro, dos Estados Unidos, onde nasceu a Amazon, uma das maiores varejistas do mundo e que também já se arrisca em prestação de serviços de beleza.
Essas gigantes do varejo são tema do recém-lançado whitepaper “Ecossistemas de negócios: Transformando o mercado, o consumo e o varejo”, elaborado por Yamashita e pelo fundador e diretor-geral da Gouvêa Ecosystem, Marcos Gouvêa de Souza. O material está à venda por R$ 28,80 na Amazon. “A grande contribuição desse trabalho é apoiar uma maior sensibilização sobre a dimensão das transformações que o conceito de ecossistema está precipitando com características próprias, principalmente na realidade de negócios atual no Brasil e no mundo”, afirma Souza.
Imagens: Divulgação