O grupo de moda carioca Soma anunciou a compra da centenária Hering. Nasce um novo gigante. Juntas, as empresas passam a ocupar a quarta posição no ranking de varejo de vestuário no Brasil, com um faturamento registrado no ano passado de R$ 2,317 bilhões (R$ 1,243 bilhão da Soma + R$ 1,074 bilhão da Hering) e lidera em número de lojas: 1.042 (778 lojas da Hering e as 264 da Soma). A Arezzo, a segunda colocada, tem 900.
Apesar da surpresa do mercado, uma vez que o negócio se concretizou em apenas três dias, o Grupo Soma estava altamente capitalizado por sua estreia bem-sucedida na bolsa, em julho de 2020, em operação que captou R$ 1,823 bilhão em sua oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês). Desde então, a empresa focou em um plano de expansão e digitalização, sempre com foco em marcas premium. Conhecida por suas aquisições, a companhia tem hoje nove marcas: Animale, Farm, Fábula, A. Brand, Foxton, Cris Barros, Off Premium, Maria Filó e ByNV – esta última adquirida após o IPO. Nada, porém, que se compare à compra da Hering.
Apesar da a Arezzo ficar a ver navios no caso da Hering depois da tentativa fracassada de aquisição, ela está com o caixa cheio para ir às compras. Em outubro do ano passado, ela comprou a grife Reserva, focada em moda masculina, por R$ 715 milhões. Deve anunciar novidades em breve.
Já a Renner, que há anos entrega resultados, tem cacife para captar bilhões para aquisições. Na semana passada, contratou bancos para uma oferta de ações para arrecadar até R$ 6,5 bilhões. O alvo seria o site de e-commerce Dafiti – que é forte na internet, meio no qual a Renner ainda engatinha. Também se especula sobre outra possibilidade – a aquisição da C&A. No final de 2020, a família Brenninkmeijer, que controla a C&A, demonstrou estar aberta a negociações para vender a operação brasileira. O objetivo é concentrar os negócios apenas na Europa. A família tinha operações na China e no México, mas se desfez delas recentemente.
Na semana passada, as Lojas Americanas anunciaram a compra do Grupo Uni.Co, dono das redes Imaginarium e Puket. Também vista com surpresa pelo mercado, a aquisição faz parte da nova estratégia da Americanas de criar uma nova vertical de varejo especializado em franquias dentro do Universo Americanas, atendendo a uma antiga demanda de investidores de integrar o digital e as lojas físicas.
Tanta notícia relacionada a fusões e aquisições no varejo demonstra o movimento de consolidação de grandes conglomerados no setor. Apesar de o varejo não essencial ter sido duramente afetado pela crise, o que foi agravado pela pandemia, aquelas mais bem posicionadas (e capitalizadas) entendem que este é o momento de consolidarem seus negócios, haja vista que muitas estão fragilizadas e consequentemente mais baratas e abertas a aquisições.
Com as notícias recentes, os executivos do varejo estão vivendo dias estressantes e de rápidas definições: de repente, caiu a ficha de que é necessário fazer alguma coisa. As empresas parecem ter acordado para a dura realidade: é a hora de crescer ou morrer. O momento é visto também como uma oportunidade de reforçar competências em que ainda não são fortes, e não a busca de escala em áreas que já dominam. Outro aspecto é a percepção de que a agenda digital precisa ganhar velocidade no pós-pandemia. Um negócio isolado é mais vulnerável a ser comprado por um ecossistema.
O Magalu é um exemplo de empresa que se consolidou adquirindo (e continua adquirindo) diversas empresas e startups com o objetivo de dominar um mundo multicanal e multissetorial. Afinal, ninguém mais tem a percepção de eles são apenas meros vendedores de geladeiras, fogões e televisores. Concordam?
Marcos Hirai é CEO da Omnibox, startup especializada em Varejo Autônomo.
Imagem: Envato/Arte/Mercado&Consumo