Já faz algum tempo que os investidores têm optado por investir os seus recursos financeiros em empresas socialmente responsáveis, sustentáveis e rentáveis, uma vez que consideram que este tipo de empresa está mais preparada para enfrentar riscos sociais, ambientais e econômicos e gerar valor para os acionistas no longo prazo. Claro que esses investidores enxergam que no final da ponta da economia está o consumidor final que cada vez mais valoriza aspectos da ESG mesmo sem saber exatamente seu conceito.
ESG é a sigla para Environmental, Social and Corporate Governance (ambiente, social e governança empresarial) e que no mercado financeiro representa uma série de critérios de conduta que devem ser adotados pelas empresas para atraírem investidores socialmente conscientes.
Apesar de a sigla ter entrado nos holofotes apenas nos últimos anos, este assunto já é bem maduro. Para se ter ideia, em 2005 foi criado o Índice de sustentabilidade Empresarial (ISE), pioneiro na América Latina e quarto índice de sustentabilidade no mundo, com financiamento inicial pela International Finance Corporation (IFC), braço financeiro do Banco Mundial, que é voltado para a construção de uma carteira de ações de companhias comprometidas com a sustentabilidade. O ISE é composto de, no máximo, 40 companhias entre as 200 mais líquidas da B3.
O objetivo do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE B3) é ser o indicador do desempenho médio das cotações dos ativos de empresas selecionadas pelo seu reconhecido comprometimento com a sustentabilidade empresarial.
Outro fator que comprova a relevância do tema é que, recentemente, a ONU desenvolveu medidas para que seja possível termos um futuro mais sustentável com a consolidação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) – um conjunto de metas quantitativas que visam sanar problemas como a pobreza e a fome, entre outras questões importantes.
Uma das formas de verificar se uma empresa é saudável, lucrativa financeiramente e consciente a nível social e ambiental é por meio dos três indicadores abaixo:
- Ambientais: indicam o comportamento da empresa em relação aos problemas ambientais, como mudanças climáticas, esgotamento de recursos, tratamento de resíduos e poluição.
- Sociais: indicam como a empresa gere o relacionamento com os seus colaboradores, fornecedores, clientes e comunidade em que se insere e incluem questões de saúde e segurança.
- Governança: referem-se a políticas empresariais e de governança aplicadas, e inclui estratégia tributária, remunerações, liderança da empresa, direitos dos sócios e acionistas, e aspecto estruturais ou de corrupção.
Quando se trata do assunto, o desafio está em encontrar o equilíbrio entre prioridades financeiras e aspectos sociais e ambientais, afinal uma estratégia de sustentabilidade cuidadosamente orquestrada é vital para o sucesso no longo prazo. É fundamental estruturar um planejamento que seja alinhado e integrado com iniciativas estratégicas já existentes na empresa e coordenado com uma abordagem inteligente dos riscos e benefícios relacionados.
Para os investidores, é importante seguir esta tendência e procurar investimentos que têm em consideração critérios de sustentabilidade. O ESG foi criado para ajudar nesta nova conjuntura e funciona como uma métrica que avalia o desempenho das empresas nessas áreas. Portanto, ser uma empresa com um perfil forte em ESG traz vários benefícios, principalmente para atrair novos investidores.
Segundo dados de uma pesquisa realizada pela Deloitte, o número de investidores globais que aplicaram os indicadores ESG em pelo menos um quarto dos seus investimentos totais aumentou de 48% em 2017 para 75% em 2019.
Como no Brasil a utilização dos critérios ESG ainda está no início, as empresas têm a oportunidade de se estruturarem e aplicarem este conceito cada vez mais no seu dia a dia.
Na prática, podemos iniciar a estruturação da seguinte forma:
- Entendimento das motivações e contexto: alinhar dentro da organização diversos temas atuais, como o impacto da pandemia, o choque no mundo corporativo, as origens e desafios atuais da sustentabilidade e o destaque que vem sendo dado para a pauta. Incorporar os principais conceitos de sustentabilidade, desenvolvimento sustentável, responsabilidade social ambiental e suas raízes nos valores éticos.
- Planejamento e gestão: Entender a evolução dos sistemas de gestão e normas e a busca pelos modelos que fazem mais sentido para cada organização. Discutir em perspectiva o desenvolvimento de normas, analisar e refletir sobre novas perspectivas de certificação que têm como objetivo promover práticas mais responsáveis, éticas e sustentáveis.
- Implantação da responsabilidade social (ESG) na cultura das organizações: Entender como os sistemas de gestão abordam a prática da responsabilidade social, o engajamento de stakeholders e definir o papel da liderança e a gestão da cultura organizacional. É fundamental refletir sobre a importância das práticas de gerenciamento, processos e sistemas, reconhecendo também a importância dos valores, o papel do comportamento dos líderes no aprendizado organizacional e o lugar de uma comunicação estratégica, contemporânea e legítima.
Temos muito o que evoluir no assunto, mas é importante darmos o pontapé inicial visando o interesse dos investidores e consequentemente ajudando o meio em que vivemos – ou deveria ser ao contrário? Com certeza. A oportunidade está dada, basta dedicarmos uma frente para o tema.
Gustavo Vieira é líder de projetos da Gouvêa Consulting.
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