Três em cada quatro mulheres empreendedoras brasileiras buscam, com o negócio próprio, alcançar realização pessoal e trabalhar com algo de que gostam. Para metade, a motivação é a melhoria da qualidade de vida e maior flexibilidade. Essas são algumas das conclusões da pesquisa “Negócios inspiradores femininos”, divulgada nesta semana do Dia Internacional da Mulher.
O estudo, elaborado por Movimento Expansão, NOZ Inteligência, plataforma Empreendedoras Maduras e Grupo Mulheres do Brasil, traça um raio x dos negócios liderados por empreendedoras brasileiras, das motivações, como as já citadas acima, aos imensos desafios que elas enfrentam. Foram entrevistadas 850 mulheres de diversos Estados entre julho de 2021 e janeiro de 2022.
Quando se fala em motivação para empreender, os resultados já evidenciam que a maioria faz isso não por necessidade, mas por vontade. “A gente começou a pensar nessa pesquisa exatamente para atualizar o perfil da mulher que empreende. Tínhamos um perfil de mulher que empreendia por necessidade e que trabalhava em nichos de mercado, em negócios menores, que realmente não tinham uma possibilidade de expansão. Hoje você vê mulheres com mais de 60 anos que estão em empresas de alto faturamento na área de tecnologia, ou seja, o perfil mudou completamente”, analisa a empresária Mariane Carneiro da Cunha, fundadora e CEO da AH!SIM e idealizadora do Movimento Expansão, que atua para viabilizar linhas de crédito dedicadas ao empreendedorismo feminino.
Apenas 2 em cada 100 usaram linha de crédito para empreendedores para iniciar o negócio.
Falta de acesso ao crédito
O crédito – ou a falta dele -, aliás, é outro tema amplamente debatido na pesquisa. Apenas duas em cada 100 usaram linha de crédito para empreendedores para iniciar seu negócio. Quase 70% das mulheres que não empreendem atualmente dizem que o motivo é a falta de recursos financeiros. Mesmo as que vão atrás desses recursos enfrentam dificuldades: para 39% das empreendedoras, a captação de recursos financeiros é algo “muito difícil e desafiador” e outras 39% consideram isso “difícil e desafiador”. Apenas 16% consideram a captação algo “pouco difícil e desafiador” e só 6% dizem que é “nada difícil e desafiador”. Os índices são semelhantes quando se fala em busca por capital de giro.
“As mulheres estão atuando em todos os perfis de negócios. Isso já poderia mostrar para o sistema financeiro que nós temos condições de cumprir com as obrigações de um crédito. O Movimento Expansão busca essa interlocução com o sistema financeiro, inclusive com o Banco Central, e faz um esforço para mostrar para grandes instituições financeiras que essa mulher mudou e ela é uma potencial e gigante consumidora de produtos financeiros”, pontua Mariane.
A pesquisa também mostra que, muitas vezes, a idade é outro empecilho. Ainda quando se fala em captação de recursos financeiros, o porcentual que considera a atividade “muito difícil e desafiadora” ou “difícil e desafiadora” é de 53% entre empreendedoras com menos de 49 anos e sobe para 63% entre as empreendedoras com mais de 50 anos.
“A captação de recursos, conforme a idade avança, é mais difícil. Aí existem as questões do risco envolvido, de como essas empreendedoras são avaliadas. Fora isso, a gente vê que, no mercado de trabalho em geral, a mulher enfrenta um preconceito etário muito maior do que o homem”, diz a fundadora da NOZ Inteligência, Juliana Vanin.
Desafio da dupla jornada
Entre as mulheres que empreendem, 22% são responsáveis por cerca de metade da renda familiar; 19% são as maiores responsáveis; e 27% são as únicas responsáveis. A pesquisa mostra também como a rotina dessas mulheres é particularmente desafiadora, muito por causa da dupla jornada professional e doméstica, que 63% consideram “muito difícil e desafiadora” ou “difícil e desafiadora”.
A covid-19, claro, também teve impacto na vida dessas mulheres. Entre as entrevistadas, 55% daquelas que empreendem há mais de 10 anos foram impactadas negativamente pela pandemia. Por outro lado, 25% delas fundaram empresas justamente nos últimos anos.
Foi no meio da pandemia que nasceu a Empreendedoras Maduras, uma das entidades responsáveis pelo estudo. A plataforma é um marketplace de serviços para empreendedoras a partir de 40 anos. Serve, também, como rede de apoio, espaço de acolhimento, troca de experiências, treinamentos, mentorias e networking.
Segundo a publicitária e cofundadora Bete Marin, muitas empresas procuram a plataforma hoje. Mas isso acontece num ritmo menos intenso do que o necessário. “Existem movimentos e uma relação do mercado, mas ainda é algo muito pequeno. Daqui para a frente, a tendência é que isso vá se acelerar e as empresas passem a empregar pessoas mais velhas, até porque o mundo está envelhecendo. Se a empresa não fizer isso, não vai ter quem trabalhe para ela.”
Negócios inspiradores
A pesquisa foi divulgada na última terça-feira (8) na sede do Grupo Mulheres do Brasil, em São Paulo. Na mesma noite, seis empreendedoras, selecionadas entre mais de 264 negócios femininos, foram homenageadas com o “Prêmio Negócios Inspiradores”.
As premiadas foram Rebeca Kuperstein, da Ploy; Beatriz Diniz, da Cruzando Histórias; Thaislane Freitas, Curso de Libras TF; Veronique Forat, da Colivv; Heloisa Marcondes, da Kitabu Livraria Negra; e Maria José de Lima Freitas, da Mazé Doces.
Imagens: Divulgação e Aiana Freitas