Quantas empresas tem o ecossistema Alibaba? Perto de 500. E o Tencent? Próximo a 600. E como característica interessante, existem empresas que têm participação em ambos. Assim como em outros ecossistemas.
A realidade dos negócios é cada vez mais agnóstica. A dinâmica de mercado torna todo o cenário cada vez mais fluído e mutante. Em especial, porque muitas aquisições são pagas com participações na empresa controladora. Isso faz com que outras rodadas de integrações e vendas de empresas incorporadas em ecossistemas possam ocorrer até por outros ecossistemas, superadas as questões de preferência.
No caso da Amazon, divididos em 11 núcleos (Pagamentos, Jogos, Entretenimento, Varejo, Música, Cloud, Marcas Próprias, Digital, Logística, Saúde e Mídia), são mais de 40 subsidiárias que compõem seu ecossistema. E ele tende a continuar se expandindo.
No Brasil, o ciclo de aquisições e fusões envolvendo a Magalu vive um hiato em sua trajetória por conta do cenário macro mais desafiador envolvendo o segmento focado em varejo e consumo.
O da Americanas, Carrefour e Via idem. Mas Vivo e Porto, ex Porto Seguro, menos “punidas” pela percepção cautelosa com o consumo puro, aproveitam para avançar ainda mais.
E em breve, também por aqui, teremos empresas com participação em mais de um ecossistema de negócios, assim como Meta Ecossistemas de Negócios, aqueles que expandem e integram dois ou mais ecossistemas, criando algo ainda mais relevante e dominante. Um ecossistema ligado à saúde ou educação se integrando com um outro ligado ao consumo e varejo ou ao transporte.
Essa é a emergente lógica da transformação dos negócios no mundo e que se faz mais presente também por aqui, gerando os Ecossistemas de Negócios Made in Brazil. E que estaria crescendo mais rápido se não fossem as questões momentâneas envolvendo a redução da renda real, o alto desemprego formal ou informal, massa salarial, o custo e a escassez do crédito ao consumo, a inadimplência, a elevada inflação e as altas taxas de juros, além da abalada confiança do consumidor. Todos esses fatores reduzem a valorização de ativos de negócios ligados aos setores de varejo e consumo. Momentaneamente apenas.
Estruturalmente, é apenas um soluço nesse inevitável processo que envolve a reconfiguração do ambiente de negócios pelo protagonismo de quem tem, monitora, prediz os comportamentos futuros de consumidores e faz uso desse, cada vez mais, importante ativo intangível. Eles dominarão e serão ainda mais relevantes e protagonistas.
Também é inevitável o crescimento do processo de integração, expansão e consolidação da combinação de fatores que envolvem o aumento acelerado de negócios individuais, startups e iniciativas geradas pela tecnologia e o digital com os desafios criados por um mercado cada vez mais competitivo, tributariamente desigual e que incentiva e premia iniciativas individuais, limitando as oportunidades de crescimento em voo solo. A menos que prevaleça a ideia de algo para chamar de seu.
Vale lembrar que foram 3,9 milhões de pequenas, médias ou empresas individuais abertas só em 2021, com perspectivas de crescer ainda mais com as novas propostas em aprovação no Congresso, o que deverá fazer evoluir ainda mais o número.
Esse quadro mais amplo de multiplicação de novos negócios é incentivado por questões que envolvem o espírito empreendedor combinado com contingências geradas pelas mudanças estruturais do emprego que favorecem a busca de caminhos próprios para criação de alternativas que podem, num momento seguinte, combinarem atividades entre si e se integrarem com negócios em fase mais madura, potencializando resultados.
Sem falar no efeito mais estrutural e global envolvendo a expansão da gig economia, aquela que diz respeito ao crescimento do trabalho individual na reconfiguração do emprego.
Esse admirável mundo novo é novamente tema permanente a ser explorado em múltiplas e diversas visões de raciocínios estratégicos e lembra a ideia do caleidoscópio, onde cada mínimo movimento, quase imperceptível para alguns, pode descortinar uma miríade de oportunidades para outros.
Vale refletir.
Marcos Gouvêa de Souza é fundador e diretor-geral da Gouvêa Ecosystem e publisher da plataforma Mercado&Consumo
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