Os dados de desemprego de abril/2022 da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio), divulgados pelo IBGE, surpreenderam positivamente o mercado. Os atuais 10,5% de desemprego sinalizam uma importante recuperação do mercado de trabalho, frente ao mesmo período de 2021, quando esse indicador apontava 14,8% de desemprego.
Nos últimos 12 meses, 9 milhões de pessoas se recolocaram no mercado de trabalho e que agora somam 96,5 milhões de pessoas empregadas no Brasil, esse aumento de pessoas empregadas no último ano equivale a praticamente toda a população de Portugal ou 1,3x toda a força de trabalho do Chile.
Em um cenário econômico “normal”, essa melhoria da taxa de desemprego teria como consequência um forte crescimento da massa salarial (soma da renda de todos os brasileiros), que, por sua vez, impulsionaria um forte crescimento dos segmentos de consumo e varejo. Entretanto, o atual cenário apresenta uma conjuntura diferente.
A principal variável que torna o cenário presente díspar é a inflação, que acomete praticamente todos os países do mundo devido à desordem das cadeias produtivas ainda em consequência da covid-19, da emissão de moeda pelos governos e da guerra na Europa. No caso do Brasil, a inflação ainda é agravada pelas instabilidades do cenário político.
A inflação medida pelo IBGE está em 11,73% nos últimos 12 meses terminados em maio/22 e mostra que o forte aumento está distribuído em todos os elos e segmentos da economia, mas está particularmente alta em itens básicos como alimentação dentro do lar, que subiu 16,36% no mesmo período.
A escalada de preços influencia o comportamento de compras de todas as classes sociais, porém, o impacto mais profundo é nas famílias de renda mais baixa (classes B2C), que têm o seu orçamento totalmente comprometido em itens básicos como alimentação no domicílio, moradia e transporte. Como não têm renda disponível e tampouco poupança, o orçamento dessas famílias não tem margem de segurança e não comporta tamanho aumento dos preços.
A evolução da massa salarial comprova o aperto no orçamento das famílias. Em termos reais – já descontado a inflação –, o volume de dinheiro que as famílias têm para gastar mensalmente hoje é de R$ 242,9 bilhões/mês, número equivalente ao que tínhamos em 2013.
A renda média familiar também despencou para R$ 2.569/mês, a menor desde 2012, quando o IBGE mudou a sua metodologia de pesquisa. Essa queda foi ocasionada pela inflação alta combinada pela geração de empregos de qualidade pior no período (autônomos, informais, etc.).
Em resumo, considerando os dados em valores reais (descontando a inflação), o tamanho do mercado hoje é praticamente o mesmo de 10 anos atrás. Mas agora precisa ser dividido com 12 milhões de pessoas a mais, que foi o crescimento populacional do Brasil no período, resultando na queda da renda média por família, sendo que a alta inflação é o principal fator que impede a recuperação mais rápida do consumo e do varejo.
Perspectivas
O cenário de alta inflação é complexo, mas de certa maneira também era esperado no pós-covid. Do lado positivo, os dados de recuperação do emprego no Brasil são animadores: devemos encerrar o ano com a desocupação no País em um dígito. Além disso, as perspectivas para o segundo semestre de 2022 e para 2023 são de um relevante arrefecimento da inflação, que deve ficar entre 8% e 9% e 4% a 5% nesses anos respectivamente.
Claro que ainda existem muitas incertezas, porém, o cenário futuro apresenta perspectivas positivas com contínua tendência de queda do desemprego, controle da inflação e a consequente queda na taxa de juros e aumento real da massa salarial, conjuntura fértil para um crescimento expressivo dos segmentos de consumo e varejo.
Eduardo Yamashita é COO da Gouvêa Ecosystem.
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