Algumas companhias brasileiras se preparam para voltar a captar recursos no mercado de dívida externa, por meio da emissão de títulos da dívida no exterior. A “janela” para captações brasileiras – que estava fechada havia cerca de três meses – foi reaberta pela Natura, que iniciou negociações com investidores estrangeiros para emitir títulos atrelados a compromissos de sustentabilidade da empresa.
A retomada está relacionada também à possibilidade de esta ser a última chance de levantar recursos com a taxa norte-americana mais baixa, informaram especialistas entrevistados pelo Estadão/Broadcast. As projeções são de que o juro dos títulos do Tesouro americano (os “treasuries”) de dez anos, referência para as captações e que havia se estabilizado em torno de 1,6%, alcance algo perto de 2% no fim do ano.
O ritmo dos anúncios de novas operações a partir da captação da Natura vai depender, no entanto, das condições do mercado. A percepção dos profissionais de bancos é de que as companhias brasileiras, por cautela, devem tomar a decisão de colocar suas operações na rua no último minuto.
Sem emissões desde fevereiro
O Brasil não emite títulos no exterior desde meados de fevereiro. É um movimento contrário ao de companhias latino-americanas, que seguiram acessando o mercado de dívida internacional. Além do comportamento volátil e de alta dos treasuries em março, em resposta à expectativa de alta da inflação nos Estados Unidos, o conturbado cenário brasileiro, ante os desdobramentos políticos e econômicos do descontrole na pandemia de covid-19, frearam a fila das emissões.
“Há condições mais estáveis em termos de volatilidade do juro norte-americano, o que favorece operações no fim de abril e inicio de maio”, diz o responsável pelo mercado de dívida do Citi, Cláudio Matos. Segundo ele, o fato de várias operações terem ficado represadas também favorece que emissores venham ao mercado agora, embora em menor número do que os primeiros meses deste ano.
O responsável pela área de mercado de dívidas do Bank of America (BofA) no Brasil, Pedro Campos, afirma que como o custo de captação ainda está baixo lá fora, em relação ao que pode atingir até o fim do ano, e as companhias tendem a se movimentar nessa direção em um futuro próximo.
Segundo Campos, existem entre três a cinco empresas brasileiras começando a se posicionar rumo ao mercado externo, mas que ainda não bateram o martelo. De toda a forma, as decisões devem ser tomadas em breve, uma vez que as informações do balanço do quarto trimestre, usadas para apresentar a operação a investidores estrangeiros, perdem validade em meados de maio.
Matos, do Citi, diz que os investidores poderão pedir um prêmio um pouco maior nas novas ofertas de títulos. “Estamos em um momento de subida de juro globalmente e esta dinâmica veio para ficar” afirma.
Risco fiscal brasileiro
O sócio da gestora Octante Capital, Laszlo Lueska, diz que a demanda dos investidores por papéis das empresas brasileiras favoreceu o comportamento desses papéis no secundário, que caíram em meio à turbulência recente, mas em menor magnitude do que os títulos do governo brasileiro. “Essa diferença de comportamento mostra que os investidores têm evitado o risco fiscal brasileiro diretamente e preferem o risco corporativo.”
Na visão de Lueska, a troca de presidência na Petrobras e o fato de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter se tornado elegível foram fatores que alteraram a precificação do cenário brasileiro para os investidores estrangeiros, além da questão fiscal e da pandemia. Ele diz ainda que o contrato de proteção contra o risco de calote do País, que é um termômetro de aversão ao risco e custo Brasil, ficou cerca de 50 pontos-base acima da média da América Latina.
Com informações Estadão Conteúdo
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