Entidades empresariais percebem a necessidade de um movimento para ampliar a presença do varejo nos fóruns de debate e na decisão de políticas na esfera governamental. O movimento ainda é inicial, mas representantes de diversas áreas do setor acreditam ser possível alinhar posicionamentos para, em uníssono, defender o crescimento da área, tida como uma das bases de sustentação da economia nacional.
Existem algumas teses fundamentais para a maior desenvoltura do comércio que só em 2013 movimentou R$ 156 bilhões na capital paulista, 31 % do fatura – mento em todo o Estado -, logo entidades setoriais defendem a união de esforços no sentido de encontrar alternativas para reduzir o emaranhado tributário nas operações, além dos entraves relacionados à formação de pessoas, tida a escassez da mão de obra como um dos grandes problemas do mercado. Outros assuntos que afetam os empresários do ramo são os grandes gargalos da economia nacional, na matriz energética e em logística, além da real necessidade da retomada de investimentos no Brasil.
“Embora o setor varejista seja responsável por uma parcela significativa do PIB nacional, na ordem de 15% (o consumo das famílias no Brasil representa cerca de 60% do PIB e totaliza aproximadamente R$ 2,3 trilhões por ano), ainda não organizamos uma governança setorial e formal, em que todas as atividades varejistas possam se unir e buscar uma maior representatividade do âmbito federal. Nossos números revelam que o varejo gera muitos empregos, recolhe muitos tributos e aquece a atividade econômica. Portanto, nada mais natural do que sermos uma voz ativa e participativa nas grandes discussões nacionais”, afirmou ao DCI o presidente da Apas (Associação Paulista de Supermercados), João Galassi.
Para o especialista, a luta por uma maior união no varej o já está acontecendo, contudo ainda é embrionária. “O varejo tem lideranças fortes e chegou o momento de todos se unirem em prol de uma governança varejista, cujo objetivo é ter uma voz única e mais ativa e participativa nas grandes decisões do País. O Brasil possui inúmeras associações setoriais, federações, confederações, institutos, universidades e consultorias, que, individualmente, atuam em prol do varejo. Entretanto, as ações não são interligadas”, defendeu ele.
Na opinião do presidente do Ibevar (Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo), Cláudio Felisoni de Ângelo, levando em consideração “que a política é a arte ou ciência da organização”, é fácil entender porque a indústria e a bancada ruralista tem reconhecidamente uma força expressiva no Congresso Nacional, diferente do varejo, que começa a se movimentar mais nesse sentido.
“O segmento do comércio varejista tem suas peculiaridades. A indústria brasileira é muito mais concentrada, por isso alguns conjuntos de empresas vão representar determinados pleitos. Eles têm mais facilidade de estabelecer entendimentos do que os setores mais pulverizados. No varejo temos um conjunto maior de pequenas empresas espalhadas, pequenas organizações, distribuidoras, atacadistas. É uma teia maior de atores que compõe o universo da distribuição”, disse.
Felisoni argumenta que o consumo é uma das molas propulso ras da economia nacional em vá rios países. “Para se ter ideia, os [países] mais ricos concentram 45% da economia no consumo, como Alemanha, França e Itália. Em outros com economias menores, isso varia de 10%a25%. São informações que apenas ilustram o potencial de crescimento do setor no Brasil”, destacou.
Força que cresce
Se há um segmento concentrando todos os perfis, de micro, pequenos e médios empreendedores, além das grandes redes, o de franquias certamente é um deles. À frente da Associação Brasileira de Franchising (ABF) está a presidente Cristina Franco, entusiasta da ideia de que o mercado consumidor brasileiro tem pujança. “Acho realmente que o varejo brasileiro, ou seja, o mercado consumidor brasileiro, é música aos ouvidos de todo empresário nacional e internacional”, afirmou. Ela destacou que quando se olha globalmente é possível entender isso melhor. “A experiência durante a NRF [a maior feira internacional no varejo, realizada em janeiro, nos Estados Unidos], permitiu vermos como há interesse da entrada de marcas de fora no País. O Brasil tem 200 milhões de habitantes e é um mercado de consumo formado por essa nova classe média que está estável, que não vai retroceder. Só isso já é um grande ganho”, declarou.
A executiva lembra o fato de ter sido discutido em Davos que a partir de 2020 cerca de 75% da população brasileira serão da nova classe média. “Assim, já temos motivo para referendar o varejo brasileiro. O setor passa a ser uma das indústrias mais importantes”.
Com relação à tentativa de algumas entidades em alinhar interesses para ter mais força em Brasília, e assim alcançar mais espaço para as suas exigências no contexto econômico, a representante da ABF acredita que isso começou há poucos anos. Ela avalia que hoje a entidade desfruta de um grande prestígio e imagem consolidada no mercado. “A ABF tem conquistado espaço. Participamos, no Plano Brasil Maior, das reuniões do conselho. Temos convênio com a Apex-Brasil que estimula o crescimento da exportação do franchising brasileiro. Nossa presença em Brasília é constante, em reuniões com o Ministério da Fazenda e Planejamento”, ressaltou.
Já sobre os esforços para o debate com o governo, Cristina acredita que após as eleições será possível visualizar melhor como serão essas reuniões. “Teremos um novo quadro por ser um ano de eleições, com presidente e deputados assumindo seus mandatos. Então é certo que teremos muito trabalho pela frente”.
Fonte: Varejista