Os Ecossistemas de Negócios no Brasil têm como principal característica diferenciadora o fato de que estão sendo implantados por empresas com origem no varejo tradicional, com predominância no não alimentar que, em seu estágio atual, aceleraram de forma marcante a expansão de seus negócios multicanal para se transformarem em marketplaces integrando outros operadores ou marcas.
Esse é o caminho trilhado por Magalu, Via Varejo e Americanas-B2W, como exemplos básicos, complementado por iniciativas como Mercado Livre, Amazon Brasil, Carrefour, Pão de Açúcar e outros mais que exemplificam o movimento e franco crescimento e expansão. E que vai mudar de forma radical o cenário, a estrutura, as participações e as lideranças no mercado nos próximos anos. Daí a velocidade hipersônica como tudo tem se precipitado com incorporações de novos negócios de forma contínua e constante.
Essa peculiaridade do protagonismo de varejistas na evolução desse processo no Brasil se diferencia do que aconteceu no mercado norte-americano, onde predominaram as empresas de tecnologia na formação das Plataformas Exponenciais, versão ocidental dos Ecossistemas de Negócios, que surgiram na China e se espalham pelo mundo. Elas têm sua origem em diversas vertentes que vão de empresas de game (Tencent) a e-commerce B2B (Alibaba) ou plataformas de serviços (Didi).
O jogo está sendo jogado exatamente agora no Brasil e o que aconteceu em 2020 e agora em 2021 vai redefinir o mercado para os próximos anos. Isso, de novo, justifica a velocidade hipersônica em que tudo está acontecendo com novos investimentos, aquisições, fusões, integrações e alianças.
E muito em breve assistiremos à próxima etapa desse processo com a integração entre Ecossistemas de Negócios, como aconteceu na China, onde empresas e ecossistemas se integram a outros ecossistemas para criarem Meta Ecossistemas ou Sub Ecossistemas mais relevantes setorial ou globalmente.
Mas sempre estaremos falando de modelos de Ecossistemas possíveis dentro da realidade de cada setor, região ou área de atuação onde se inicia sua formação. A evolução depende de forma fundamental das características, realidade, oportunidade e desafios de cada momento. Nos Ecossistemas, todos sabem como começa, mas ninguém sabe exatamente como continuará ou terminará. Essa é outra característica própria da formação dos Ecossistemas e daí a questão da velocidade hipersônica.
E, no processo de formação e desenvolvimento dos Ecossistemas de Negócios, as questões de Cultura, Valores, Governança e Gestão são tratadas em paralelo, o quanto seja possível, enquanto se concentra o foco na incorporação, integração ou fusão de novas frentes e negócios.
A resultante é que por bom tempo irão conviver diferentes culturas, governanças, valores e modelos de gestão, até que estejam configurados os modelos resultantes predominantes de todo o processo de integração, que dificilmente será o original da empresa iniciante, mas um outro resultado do processo integrado. E sem dúvida o desafio desse convívio é um dos pontos críticos de todo esse desenvolvimento.
Mas é absolutamente gratificante e desafiador vivenciar esse momento de transformação estrutural de mercado, em meio aos desafios gerados pela pandemia, quando se pode antever e antecipar os movimentos que se desenham e seus impactos na reconfiguração do mercado futuro e suas consequências em cada negócio, setor, atividade, segmento ou marca.
Sem dúvida tempos desafiadores, marcantes e de muitas oportunidades em meio à pandemia. Como cada realidade estará na reconfiguração emergente dependerá da atitude, postura, iniciativa e capacidade de ousar e inovar de cada empresa ou negócio. E com todos os riscos associados.
Marcos Gouvêa de Souza é fundador e diretor-geral da Gouvea Ecosystem.
Imagem: Arte/Mercado&Consumo