Uma das movimentações que mais têm atraído minha atenção é que alguns varejistas começam a deixar de se enxergar como empresas somente de varejo e passam a ter um papel cada vez maior de usuários de tecnologia. Em alguns casos e situações, a mudança de mentalidade é tão grande que essas empresas até mesmo assumem a posição de protagonistas de suas próprias evoluções nesse sentido.
O varejo que passa a se identificar como uma empresa de tecnologia – ou como uma tech company, como o mercado apelidou – não é algo novo. Surpreendentemente, o tema acabou aparecendo mais de uma vez na última edição da NRF, um dos mais tradicionais eventos de varejo do mundo, realizado há mais de 110 anos, feito digitalmente pela primeira vez neste ano devido à pandemia.
E o que significa essa movimentação?
Segundo Niraj Shah, cofundador e CEO da Wayfair, marca online de móveis e decorações, essa mentalidade é uma consequência natural do próprio negócio. Mais de um terço de seus funcionários são de áreas de tecnologia, como suporte, desenvolvimento, analistas de dados, entre outros.
E no Brasil? Temos cenários parecidos?
Ao longo dos últimos anos, vimos algumas empresas se destacarem no cenário nacional, principalmente em relação à capacidade de transformação e força no cenário digital.
Segundo um estudo realizado pelo Github, uma plataforma voltada para desenvolvedores, alguns players do varejo brasileiro, como Magazine Luiza, B2W e Via Varejo, já possuem milhares de profissionais conectados à tecnologia. Coincidência ou não, são também alguns dos players que hoje já começaram a ultrapassar a barreira de serem apenas empresas de varejo para serem conhecidas cada vez mais como Ecossistemas de Negócios.
Empresas como a Magazine Luiza, por exemplo, há anos têm sido referência na aproximação com o ecossistema de startups, buscando fazer parcerias, investir ou mesmo adquirir empresas que façam sentido para a expansão e complementação de seus negócios. O movimento acabou sendo inspiração para uma série de outras empresas, como Natura, C&A e Mercado Livre.
A partir do momento que as companhias, hoje, conseguem crescer o negócio em escala, é preciso adaptar a cultura da empresa e estimular o ritmo necessário para acompanhar, desenvolver e, principalmente, realizar as entregas no mesmo tempo que seu mercado demanda. Não à toa, os processos ágeis são cada vez mais uma realidade dentro de operações, permeando áreas como o marketing, expansão e operações, por exemplo, ao invés de se restringirem ao TI da empresa, como acontecia em um passado recente.
Contar com empresas parceiras, ou mais especializadas em novas tecnologias, pode ser essencial para o início da transformação digital. Este, agora, é o foco não somente das áreas dedicadas à tal da digitalização, mas de toda a operação, impactando também times de logística e vendas.
Se posicionar como uma empresa de tecnologia não é um caminho para todas as companhias, mas parece ser um novo benchmark para as empresas que estão conquistando destaque neste mercado competitivo e dinâmico do varejo brasileiro.
Caio Camargo é diretor comercial da Linx.
Imagem: Arte/Mercado&Consumo