Da mesma forma que os meus pais sempre contaram comigo para ser o helpdesk e suporte de TI, tecnologia e digital da família, há alguns anos me pergunto qual será o “meu digital”? Qual será o elemento ou aspecto do dia a dia que no futuro a minha filha terá que me ajudar, pois será mais safa e a minha cabeça de millennial não conseguirá alcançar.
Há alguns meses um forte candidato a ser esse elemento tem se mostrado. Talvez ele seja o uso, a convivência e o saber usar as aplicações de IA (Inteligência Artificial) para exponenciar tudo o que fazemos.
Recentemente, Jensen Huang, CEO da Nvidea, fez um anúncio sobre seus investimentos em IA e disse a belíssima frase: “Nós estamos no momento iPhone da Inteligência Artificial”. Da mesma forma em que o mundo se digitalizou no momento em que o Steve Jobs anunciou o primeiro iPhone, em 2007, estamos no momento em que absolutamente tudo o que conhecemos (e o que ainda não conhecemos) será transformado pelas aplicações de IA.
A Nvidea é uma das empresas líderes em hardware focada em processamento, como chips e GPUs. Suas placas e sistemas têm sido usados em aplicações como a mineração de criptomoedas e é onde a infraestrutura do ChatGPT roda.
O consumo e o varejo empoderado pela IA
No atual momento, é impossível dizer como será o futuro do consumo e do varejo quando ele for totalmente transformado por essas novas aplicações. Porém, atualmente já temos algumas pistas e ideias iniciais das primeiras transformações e de como elas se desdobrarão no futuro.
A tendência do uso de IA, aprendizado de máquina, visão computacional e tecnologias correlatas já havia despontado como uma das principais tendências que mapeamos na NRF de 2023, principal evento de consumo e varejo do mundo que acontece anualmente em Nova York. Nessa oportunidade, vimos diversas aplicações de tais tecnologias para a conversão de dados não estruturados com as imagens de câmeras e dos sensores em dados estruturados e sua subsequente transformação em insights acionáveis, alavancando a produtividade dos negócios.
Exemplos de aplicação de visão computacional, aprendizado de máquina e IA no varejo demonstradas na NRF 2023
Outro exemplo que demonstra de forma tangível como será essa transformação é o do Carrefour Dubai, localizado no Mall of Emirates, onde tivemos a oportunidade de visitar no final de 2022.
Essa é definitivamente uma das melhores operações de hipermercado que já visitamos. Com os seus 14.000 m² de área de vendas, essa loja detém o título de loja com maior venda do mundo dentro do grupo Carrefour, com USD 350 milhões de euros de faturamento ao ano e recebendo diariamente 20.000 consumidores.
O destaque dessa loja é o uso do robô Tally, fabricado pela empresa Simbe, para automação de diversas atividades dentro da loja.
O robô usa um conjunto avançado de sensores (Lidar – os mesmos dos carros autônomos e câmeras) para entender o que está acontecendo ao seu redor em tempo real e navegar de forma autônoma na loja, mesmo em uma loja tão frequentada como essa.
Ao navegar na loja, o Tally usa sua visão computacional e grava através das suas câmeras de altíssima resolução (mais de 400MP) a condição da loja. As imagens são enviadas para a nuvem via wi-fi, que processa os dados e dispara uma série de recomendações, ações e inteligência para a loja. A visão computacional permite identificar os produtos nas imagens capturadas, leitura de etiquetas e de cartazes.
O robô tem capacidade de scanear a loja 3 vezes por dia (~3 horas para fazer a leitura e 1,5h para recarregar). O varejista pode determinar quais áreas devem ser scaneadas, em quais horários e em qual frequência, permitindo assim scanear áreas mais sensíveis mais rapidamente.
Atualmente, os principais usos dos dados são:
Ruptura virtual: relatório e recomendação de abastecimento de produtos que estão acabando ou já estão em ruptura na gôndola (quando tem estoque no sistema);
Preços: conferência e recomendação de preços divergentes entre a gôndola e o sistema, assim como identificação de produtos e etiquetas mal posicionadas;
Planograma: conferência e recomendação de ajustes na exposição dos produtos;
Promoções: identificação de comunicação de promoções e auditoria das campanhas promocionais para o Carrefour e os fornecedores.
As recomendações de ações são enviadas de múltiplas formas para o varejista, através de integração no ERP, integração no APP, relatórios em PDF para o time da loja, mensagem de texto etc.
No caso da ruptura virtual, quando há produto no estoque, mas eles não estão na gôndola e disponíveis para o consumidor comprar, o time da loja precisa resolver o problema indicado pelo Tally em até 3 horas, movendo o produto do estoque para a gôndola ou ajustando o nível de estoque no sistema para fazer o pedido de reposição, pois o robô irá aferir a resolução do problema na próxima leitura da loja.
Os dados do Tally também estão sendo utilizados para apoiar as vendas do e-commerce, pois minimizam drasticamente a substituição de produtos por conta da ruptura virtual. Além disso, os dados são utilizados para criar um mapa para o colaborador que está fazendo o picking dos produtos, acelerando o processo de fullfillment.
Visão do futuro
Concordo integralmente com o CEO da Nvidea. Estamos em um momento chave da nossa história: a partir de agora, teremos uma aceleração exponencial das soluções, ferramentas e uso dessas novas tecnologias, que serão aplicadas como uma camada omnipresente em tudo o que fazemos, bem como serão uma plataforma para o desenvolvimento de soluções que não conseguimos vislumbrar nesse momento.
A transformação será acelerada. Fica aqui minha sugestão: se informe, teste e acima de tudo implemente já essas novas soluções – apertem os cintos, a aceleração será rápida.
Eduardo Yamashita é COO da Gouvêa Ecosystem.
Imagens: Shutterstock e Reprodução