Sell in e dinâmicas de consumo no foodservice – Cinco aprendizados do primeiro semestre de 2020

O foodservice nunca foi tão dinâmico no Brasil. Mesmo sendo um mercado em desenvolvimento, com alguma volatilidade especialmente em momentos de crise, não assistimos a mudanças drásticas no consumo – seja dos clientes finais, seja dos próprios estabelecimentos.

O ano de 2020, contudo, mudou este cenário.

Com a rápida ascensão da pandemia e a imposição de medidas de isolamento, o estudo Foodcheck MacroTrends¹, que acompanha as compras dos restaurantes, padarias, lanchonetes no Brasil, registrou uma queda de 60% no sell in destes estabelecimentos no mês de abril. Algumas categorias – como bebidas por exemplo (alcoólicas e não alcoólicas), registraram um pico de quase 80% de queda no mesmo indicador.

O monitoramento destas grandes categorias na primeira metade do ano permite alguns aprendizados:

1 – O pior ficou para trás. O primeiro aprendizado é também o mais alentador. O pico da queda no sell in parece ter ficado no mês de abril, quando tivemos maior número de estabelecimentos fechados devido ao avanço do coronavírus no país. A partir de maio, dois movimentos vêm acontecendo: relaxamento de medidas restritivas, por um lado, e adaptação por parte dos estabelecimentos e consumidores à novas formas de consumo (falaremos desse aprendizado mais à frente), ensaiando o que parece ser o início da recuperação no setor. Se mantivermos as condições que observamos até o momento, sem um segundo pico da pandemia – e consequentemente sem retorno às medidas restritivas – a perspectiva é de uma retomada lenta, mas contínua – como temos observado;

2 – A retomada não é a mesma para todo mundo. Isso vale entre setores, mas também dentro do foodservice. Entre operadores, por exemplo, as padarias tiveram menos impacto. Consideradas essenciais, não foram sujeitas ao fechamento obrigatório que outros estabelecimentos enfrentaram. Em contrapartida, com o retorno parcial em horários restritos, é sabido que bares e restaurantes com foco em ocasiões noturnas, por exemplo – como o casual dining e outros de serviço completo – deverão ter uma retomada mais lenta pela frente;

3 – A dinâmica se reflete na indústria. Impulsionadas pelas padarias que continuaram funcionando – exceto serviço em salão –, categorias como farináceos, embutidos e laticínios foram as menos impactadas entre as principais que compõem a cesta mensurada pelo Foodcheck MacroTrends¹. Em contrapartida, condimentos, bebidas, e os aperitivos – muito relacionados à experiência do consumo in loco e compartilhado, têm queda mais acentuada nos primeiros meses, ou ritmo mais lento na retomada;

4 – O Foodservice não será mais como antes, ao menos por um bom tempo. Ainda que o ritmo de retomada das operações influencie positivamente nos resultados, há grande dependência do consumidor final. Neste sentido, mudanças na rotina do brasileiro trazem impactos tão relevantes quanto a questão de se sentir seguro para voltar a frequentar os seus restaurantes favoritos.

Um exemplo prático deste aspecto é a ocasião trabalho x lazer: segundo dados da pesquisa CREST² com consumidores, em 2019, cerca de 80% das refeições do foodservice foram realizadas por pessoas ativas no mercado de trabalho. Isso mostra que o segmento é altamente dependente dos níveis de ocupação não só pela questão óbvia da disponibilidade de renda, mas também devido ao fator da necessidade: quem passa o dia longe de casa, muitas vezes precisa comer fora de casa. Com as taxas de isolamento ainda em torno de 40% – e sem sinais de arrefecimento radical no curto prazo – as necessidades se invertem. O consumidor que está em casa não precisa mais do foodservice durante o dia de trabalho – mas sim em família, em momento de descontração. Mesmo refeições de conveniência adquirem novo significado. O que nos leva ao quinto aprendizado;

5 – Diferentes ocasiões trazem diferentes oportunidades. Ao mesmo tempo que o cenário se mostra desafiador à maioria dos momentos de consumo, estabelecimentos e insumos, alguns setores dentro do foodservice têm performances excepcionais quando comparados à 2019. O delivery, por exemplo, quase triplicou em relação ao ano anterior. Mas não é a única ocasião em vantagem: o serviço para viagem, ao contrário do que o senso comum pode levar a acreditar, têm performance positiva na mesma comparação. A diferença está novamente na ocasião: refeições mais lentas, como o jantar entre núcleos familiares ou pequenos grupos pedem neste momento uma solução à distância. Mas aos poucos, o trabalhador que retoma suas atividades diárias (ou o essencial que não parou até agora) passa com pressa pelo restaurante e é também um consumidor em potencial. Dessa forma, a oportunidade torna-se ampla ao abranger tanto refeições completas, de lazer, indulgentes, como refeições rápidas e estritamente funcionais, como snacks ao longo do dia.

Um cenário dinâmico como o foodservice atual torna ainda mais relevante monitorar as movimentações ao longo da cadeia, permitindo não apenas entender impactos nos negócios e na indústria, como antecipar as movimentações futuras.

NOTA: Com a missão de analisar, desenvolver, inovar e agregar valor à marcas e negócios de forma visionária, estratégica e efetiva, a Mosaiclab se une ao Gouvêa Ecosystem, um inovador ecossistema de negócios, para fortalecer o setor de inteligência de mercado e pesquisas. Essa fusão irá enriquecer as pesquisas já realizadas pela unidade de inteligência do grupo, a GS&Inteligência, e contará com um time completo e preparado para realizar pesquisas de alta complexidade a partir de conhecimento em múltiplas áreas, capacidade de treinamento e geração de conteúdo. Tendências e crescimento; novos drivers de consumo; jornada e experiência; força competitiva; além de inovação e transformação estão entre os pilares que conduzem a Mosaiclab.

¹FONTE: Foodcheck MacroTrends® | Monitoramento mensal e contínuo da compra de estabelecimentos independentes do foodservice.

²FONTE: CREST® |Tracking com consumidores de refeições fora do lar, metodologia internacional presente em 12 países, operada no Brasil desde 2015. Ambos os estudos são realizados pela Mosaiclab, empresa integrante da Gouvêa Ecosystem. Para dúvidas ou mais detalhes das metodologias, entre em contato no e-mail: info@mosaiclab.com.br.

* Imagem reprodução

Vólia Simões

Vólia Simões

Vólia Simões é head de Inteligência de Mercado e especialista em pesquisa e insights para o Varejo e Foodservice da Mosaiclab, área de inteligência da Gouvêa com a chancela “powered by”.

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