A gestão de estoques desempenha um papel crucial para o sucesso financeiro das empresas, especialmente em um mercado competitivo como o Brasil. Tanto o varejo quanto a indústria enfrentam desafios consideráveis devido à complexidade logística, flutuações econômicas e comportamentos de consumo imprevisíveis. Este artigo explora os principais obstáculos na gestão de estoques, apresenta soluções e discute formas de prevenir obsolescência dos estoques.
Desafios na gestão de estoques no Brasil
Cada vez mais, as empresas brasileiras enfrentam uma combinação de dificuldades estruturais e conjunturais. Citamos abaixo algumas das principais que impactam na gestão dos estoques:
- Infraestrutura logística limitada: o transporte de mercadorias no Brasil ainda é dominado pelo modal rodoviário, que sofre com estradas precárias e os altos custos de manutenção.
- Flutuações de demanda: a imprevisibilidade do comportamento dos consumidores, especialmente em eventos sazonais, aumenta os riscos de falta ou excesso de estoque.
- Adaptação tecnológica: muitas empresas ainda operam com sistemas antiquados, dificultando a integração dos dados em tempo real.
- Custos financeiros: estoques excessivos imobilizam capital, enquanto a falta de produtos pode levar à perda de clientes.
Soluções inovadoras e estratégias de gestão
Para superar esses desafios, as empresas têm adotado abordagens modernas e tecnológicas. Descrevemos a seguir como isso está se tornando realidade.
Uso de Inteligência Artificial (IA): a IA permite prever demandas com maior precisão, otimizando compras e reposições. Ela pode analisar dados históricos de vendas, sazonalidade e tendências de mercado para prever a demanda futura. Isso ajuda as empresas a planejar melhor suas compras e evitar tanto a falta quanto o excesso de estoque.
Detalhando melhor, seguem os principais pontos que podem ser trabalhados pela Inteligência Artificial.
Análise de dados históricos: a IA pode analisar grandes volumes de dados históricos de vendas, identificando padrões e tendências que não são facilmente perceptíveis por métodos tradicionais. Isso inclui a análise de sazonalidade, promoções passadas e eventos especiais que podem ter impactado as vendas.
Modelos preditivos: utilizando algoritmos avançados, a IA pode criar modelos preditivos que estimam a demanda futura com base em variáveis como tendências de mercado, comportamento do consumidor e dados econômicos. Esses modelos são continuamente ajustados e melhorados à medida que novos dados são coletados.
Integração com sistemas de gestão: a previsão de demandas pode ser integrada aos sistemas de gerenciamento de estoques (SGEs) e ERPs (Enterprise Resource Planning), permitindo que as empresas ajustem automaticamente seus níveis de estoque com base nas previsões geradas pela IA. Isso melhora a eficiência e reduz o risco de falta ou excesso de produtos.
Adaptação em tempo real: a IA pode monitorar as vendas em tempo real e ajustar as previsões de demanda conforme necessário. Por exemplo, se um produto começar a vender mais rápido do que o esperado, o sistema pode alertar os gerentes de estoque para que reabasteçam mais rapidamente.
Redução de custos: com previsões mais precisas, as empresas podem reduzir os custos associados ao armazenamento de estoques excessivos e minimizar as perdas devido à falta de produtos. Isso resulta em uma operação mais eficiente e econômica.
Sistemas de gerenciamento de estoques (SGEs)
Soluções integradas aos ERPs ajudam a monitorar estoques em tempo real, melhorando a transparência e eficiência do planejamento de estoques. Com o crescimento do e-commerce, multiplicaram-se as opções desse tipo de solução. Existem diversos sistemas de gestão de estoques oferecidos no modelo as a service no Brasil. Esses sistemas são baseados em nuvem e permitem que as empresas gerenciem seus estoques de forma eficiente, sem a necessidade de infraestrutura própria.
Logística colaborativa
Parcerias entre empresas para compartilhar espaços de armazenamento e transporte têm reduzido custos operacionais. Essa abordagem tem sido impulsionada pela crescente demanda por eficiência e sustentabilidade no setor logístico, além de desafios como o aumento dos custos de transporte e a necessidade de atender consumidores mais exigentes. A integração de tecnologias, como sistemas de rastreamento e gestão, também tem sido fundamental para o sucesso da logística colaborativa no País.
Cross docking
Esta técnica logística permite a redução de estoques intermediários por meio do envio direto de produtos aos consumidores, minimizando o armazenamento. Ela funciona como um sistema de transbordo rápido, em que os produtos são recebidos em um centro de distribuição e imediatamente redirecionados para o transporte final, sem a necessidade de armazenamento prolongado ou de novo faturamento. Em um país continental como o Brasil, onde os desafios logísticos incluem grandes distâncias e infraestrutura limitada, o cross docking tem se mostrado uma solução eficaz na distribuição de produtos.
E quando o planejamento não dá certo? Como girar estoques obsoletos?
Estratégias para rentabilizar estoques obsoletos
Estoques obsoletos representam um desafio significativo para as empresas, pois ocupam espaço, consomem recursos e imobilizam capital. No entanto, com criatividade e planejamento, eles podem ser transformados em oportunidades de geração de receita. Algumas estratégias incluem:
- Promoções e liquidações específicas: organizar campanhas promocionais, como saldões ou queima de estoque, para atrair clientes interessados em adquirir produtos a preços reduzidos. Essa abordagem também ajuda a liberar espaço no armazém rapidamente.
- Marketplaces e plataformas online: as empresas podem listar seus produtos obsoletos em marketplaces populares, como Mercado Livre ou OLX, ampliando o alcance aos consumidores que buscam produtos com preços acessíveis.
- Customização e reconfiguração de produtos: dependendo do setor, produtos obsoletos podem ser reconfigurados, atualizados ou combinados com outros itens para criar novos produtos que atendam às demandas do mercado.
- Parcerias com empresas de reutilização ou reciclagem: firmar acordos com empresas especializadas em reciclagem ou revenda de materiais pode transformar itens obsoletos em fontes de renda alternativa e promover práticas sustentáveis.
- Doações com benefícios fiscais: produtos que não podem ser vendidos podem ser doados para instituições de caridade. Além de contribuir para causas sociais, essas doações podem oferecer incentivos fiscais para a empresa.
- Venda para mercados secundários ou off-price: parcerias com varejistas especializados em outlets ou lojas off-price permitem escoar estoques obsoletos para consumidores que valorizam preços reduzidos.
- Plataformas de leilões corporativos: utilizar leilões online para vender lotes de produtos obsoletos pode atrair compradores interessados em adquirir grandes volumes por preços competitivos.
Consultorias auxiliam na rentabilização de estoques obsoletos
Tratar de estoques obsoletos é uma tarefa inglória dentro das organizações. Áreas de suprimentos ou vendas normalmente estão hiperatarefadas, tornando muito difícil ter foco para atacar este tema com equipes internas.
Assim, a contratação de um apoio externo pode resolver o problema com foco, agilidade e metas de rentabilidade. Consultorias especializadas desempenham um papel essencial ao auxiliar empresas na criação e implementação de estratégias eficazes para rentabilizar estoques obsoletos. Suas contribuições podem incluir:
- Análise detalhada e diagnóstico de estoques: as consultorias têm expertise em realizar auditorias completas, identificando os produtos obsoletos e analisando suas causas, como falhas no planejamento de demanda ou mudanças no mercado.
- Estratégias personalizadas de escoamento: baseadas na análise de mercado e no perfil dos produtos, consultorias podem sugerir abordagens específicas, como direcionamento para novos canais de venda ou estratégias promocionais adaptadas ao público-alvo.
- Otimização de precificação: com base em dados e benchmarks, as consultorias ajudam a definir preços atrativos que equilibrem o desejo de liberar estoque com a maximização da receita.
- Conexões com mercados secundários e parceiros estratégicos: por meio de suas redes de contatos, as consultorias podem conectar empresas a compradores em mercados secundários, como outlets, plataformas de leilões ou distribuidores internacionais interessados em produtos a preços reduzidos.
- Capacitação da equipe interna: além das soluções de curto prazo, as consultorias frequentemente oferecem treinamentos para equipes de vendas e logística, capacitando-as a evitar a acumulação de produtos obsoletos no futuro.
- Uso de ferramentas tecnológicas avançadas: as consultorias podem implementar ou recomendar ferramentas de análise de dados e Inteligência Artificial que ajudem as empresas a gerenciar seus estoques de forma mais inteligente e preditiva.
- Indústria de alimentos: uma grande indústria alimentícia brasileira reduziu em 30% o volume de estoques obsoletos ao contar com uma consultoria que implementou um sistema de leilões online e reconfiguração de produtos para atender demandas específicas de pequenos varejistas.
- Rede varejista nacional: Com apoio de uma consultoria, uma rede varejista identificou oportunidades para transformar estoques parados em kits promocionais para eventos sazonais, resultando em um incremento de 15% nas vendas.
Com sua visão externa, análise especializada e acesso a soluções inovadoras, as consultorias ajudam as empresas a reverter prejuízos e extrair valor de produtos parados. Ao integrar esse suporte com estratégias tecnológicas e operacionais, as empresas podem não apenas lidar melhor com os desafios da obsolescência de estoques, mas também construir uma gestão preventiva desse tema.
Natalino Franciscato é gerente de Projetos da Gouvêa Consulting.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
Imagem gerada por IA