O domicílio brasileiro está mudando significativamente ao longo da última década. Todos sabem que a renda cresceu, o desemprego diminuiu, o crédito ficou farto e acessível, porém não obrigatoriamente barato e que o consumidor passou a comprar diversas categorias de produtos com as quais nem sonhava. Pode ser que o modelo de expansão econômica baseado no consumo interno esteja efetivamente esgotado, mas o certo é que os domicílios brasileiros mudaram profundamente e com eles mudaram as famílias que neles habitam.
Dados da PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios mostram que de 2001 a 2012, o número de domicílios ligados à rede coletora de esgoto cresceu 69%, significando uma cobertura atual de 57%. Isto dá dimensão no que diz respeito à importância do domicílio no contexto urbano. Ao mesmo tempo, a ligação de energia elétrica cresceu 39% e atingiu uma cobertura de 99%. Estes dois indicadores, por sim só já traduzem uma evolução significativa nos padrões de moradia e representam um indicador direto no que diz respeito ao consumo de materiais construção, em tubos e conexões, fios, interruptores, tomadas, lâmpadas, louças e metais sanitários e por aí afora.
Olhando um pouco mais para dentro das casas do consumidor brasileiro, podemos perceber o quanto ele a equipou ao longo dos últimos anos. O número de domicílios que possuem televisão cresceu 57% e atingiu uma cobertura de 97%. Este fator denota a dimensão da penetração da propaganda realizada, principalmente pelos canais abertos, e o poder da mídia televisiva na comunicação de produtos, marcas e lojas. É a quase totalidade do país sendo atingida por fatos e notícias 24 horas por dia.
Outro aspecto importante liga-se ao fato que a posse de geladeira cresceu 52% em 11 anos e atingiu uma cobertura de 97%. Há 11 anos eram apenas 85% dos lares brasileiros que possuíam este eletrodoméstico. É possível imaginar o quanto mudou o perfil de consumo das famílias que agora podem comprar produtos refrigerados ou então abastecer-se de forma menos frequente, mudando alguns hábitos de compras. As marcas de produtos que demandam refrigeração acompanharam esta evolução e o brasileiro passou a consumir mais laticínios, queijos, iogurtes, bebidas prontas, etc, etc.
Talvez um dos itens que mais tenha mudado e interferido no comportamento de compra do nosso povo seja a posse de computadores, cujo crescimento verificado foi de quase 300% em pouco menos de uma década. Em 2003, apenas 16% dos lares brasileiros possuíam computador. Em 2012 são 46% dos lares. Mais dramática ainda é a interligação destes computadores à Internet. Em 2003, 11% dos computadores estavam conectados à rede mundial e agora em 2012 eram 40%. Por mais que todos percebam que esta mudança no relacionamento com canais, produtos e marcas se modificam rapidamente graças à Internet, observar os números que validam esta percepção nos faz sentir mais presentemente os condicionantes que definirão o consumo no Brasil.
Realizar pesquisas de mercado para conhecer mais a fundo a opinião dos consumidores finais ou intermediários é absolutamente fundamental a todos aqueles que produzem ou oferecem produtos e serviços. Por outro lado é também tão importante acompanhar as tendências que os dados secundários nos apontam e indicam.
A casa brasileira mudou muito e, independentemente do incentivo maior ou menor ao consumo, o cidadão migrou para outro patamar de contato com o mundo, seja no acesso a produtos que antes só via de longe, seja na forma como o mundo a ele se apresenta através das telas de TV e computadores.
O importante é saber avaliar as tendências e ter a certeza plena que o perfil de consumo vai se modificar mais e mais intensamente no Brasil. Conhecer cada vez mais os lares do nosso país é identificar oportunidades e agilizar as mudanças que devem ser feitas em produtos e canais de distribuição a fim de antever mudanças comportamentais, bem como o volume de produtos e serviços que serão demandados.
Por Luiz Goes (lgoes@gsmd.com.br), sócio sênior de Inteligência de Mercado da GS&MD – Gouvêa de Souza.