A inclusão das pessoas que não têm conta corrente e cartões de crédito no e-commerce é um grande desafio do sistema financeiro do Brasil. Com a chegada da pandemia, ficou ainda mais nítida a dificuldade que é para os consumidores desbancarizados conseguir fazer compras online, acessar serviços na internet e até receber o seu próprio dinheiro, como aconteceu com muitos beneficiados pelo auxílio emergencial.
Para poder comprar na internet, essa parcela de pessoas “invisíveis” aos olhos dos bancos só tem normalmente uma saída – o pagamento por meio do boleto eletrônico à vista. E, nesse caso, além de não permitir parcelamentos, ainda existe a dificuldade para concluir a aquisição, uma vez que para o consumidor sem conta em banco só resta a opção de se dirigir a lotéricas ou caixas de agências bancárias sempre com o dinheiro em mãos para quitar a compra.
Estima-se que existam 45 milhões de brasileiros desbancarizados, segundo o Instituto Locomotiva, representando uma fatia expressiva do Produto Interno Bruto (PIB). Não há dúvidas de que esses mais de 20% da população mereçam um olhar mais atento das instituições financeiras.
Por conta disso, iniciativas para atender e incluir essa parcela no mundo digital são fundamentais e urgentes. Muitas vezes transportar para a internet soluções que já foram implementadas com sucesso no passado pode ser uma forma simples e eficiente de empoderar esse consumidor.
É o caso dos carnês das lojas físicas, também conhecidos como crediários, uma típica invenção brasileira surgida na década de 1950, quando os cartões de crédito ainda não existiam e o sistema bancário era incipiente. Não fossem os crediários, poucos no País teriam tido meios para comprar móveis e eletrodomésticos.
Para quem não se lembra ou não viveu o tempo da popularidade do crediário, ao parcelar um produto, o cliente passa por uma análise de crédito feita por um banco, instituição financeira ou direto na loja. A partir do momento que suas informações são checadas e o seu cadastro, liberado, é possível dividir a compra em prestações que podem passar de 40 vezes.
Já no mundo online, o Boleto Parcelado também pode atender perfeitamente à massa de desbancarizados ou quem não possui ou não quer comprometer o limite do cartão de crédito. Como uma solução quase que intuitiva para o brasileiro, já bastante familiarizado com os crediários, o funcionamento do Boleto Parcelado é bastante similar à opção do varejo físico. Ao selecionar esse método de pagamento depois de colocar a compra no carrinho, o cliente preenche um cadastro, escolhe o número de parcelas e passa por uma breve análise de crédito online. Caso seja aprovado, ele assina o contrato digitalmente e tem acesso aos boletos para pagamentos mensais.
Esse tipo de solução, além de ampliar o poder de compra dos brasileiros, pode beneficiar os varejistas na atração de novos públicos. E a conveniência do comércio eletrônico é mais do que nunca uma aliada para evitar que o consumidor saia de casa neste momento de pandemia.
O acesso ao e-commerce também faz parte de um processo mais amplo de inclusão digital com variáveis e desafios complexos para um país como o Brasil, incluindo o acesso à internet e dispositivos eletrônicos como smartphones, tablets e laptops. Mas proporcionar a inclusão digital desses “invisíveis” dos sistemas de pagamento já é um passo significativo para a aceleração digital e a estimulação do consumo na nova economia. E dar acesso ao crédito online permitirá que as pessoas concretizem seus planos e sonhos sem antigos entraves.
Marcelo Ramalho é CEO da Lendico, fintech especializada em empréstimo pessoal online.
Imagem: Envato/Arte Mercado&Consumo