Dono da Farm e Animale pode levantar R$ 1,3 bi em IPO

Grupo Soma

A temporada de IPOs na B3 continua. O Grupo Soma, dono de marcas como Farm, Animale, A.Brand e Cris Barros, vai estrear na bolsa de valores brasileira no próximo dia 31 de julho. A holding de moda foi fundada em 1991 e é focada nos públicos de classes A e B. São 8 marcas no total e mais de 200 lojas espalhadas por todo o Brasil, principalmente em shoppings centers.

Em fevereiro, o Soma chegou a paralisar o processo de abertura de capital, mas decidiu retomar os planos quando a bolsa voltou a subir. Serão ofertadas principalmente ações primárias na bolsa de valores – ou seja, boa parte do dinheiro arrecadado irá para o caixa da companhia. Um lote adicional equivalente a 35% da oferta inicial pode ser ofertado caso haja demanda de investidores.

O grupo pretende angariar em torno de R$ 1,3 bilhão na oferta, mas se um lote extra de papéis for vendido o valor total do IPO pode chegar a R$ 2 bilhões. Não está claro ainda quanto dessa oferta extra será secundária – ou seja, quanto desse valor vai para o bolso dos sócios atuais. Os analistas têm torcido o nariz para IPOs que direcionam uma fatia grande de recursos para os antigos donos.

O Grupo Soma diz, em relatório, que registrou uma receita de R$ 1,2 bilhão em 2019, o que representa uma alta de 20% em relação ao ano anterior. Já o lucro teve um salto ainda maior, de 48%, chegando a R$ 127 milhões. A maior parte das vendas, em torno de três quartos do total, vem das marcas que são carro-chefe: a Animale e a Farm.

A maioria das lojas do grupo são próprias – pouco mais de 30 unidades são franqueadas ou pertencem a terceiros. As peças de algumas das marcas do grupo também são vendidas para lojas multimarca, e essa venda no atacado é responsável por 25% do faturamento.

A varejista de moda diz que usará a maior parte do dinheiro para fazer a aquisição de novas marcas. Embora tenha quase 30 anos de história, o Grupo Soma cresceu principalmente pela compra de marcas estratégicas, que casam com o seu público-alvo. A última aquisição foi a da marca Maria Filó, em fevereiro deste ano, mas a fusão mais importante foi a da Farm com a Animale, em 2014, que deu a cara que o Grupo tem hoje.

Outra parte do dinheiro será usada para abrir novas lojas e pagar dividendos e dívidas – inclusive as provenientes das últimas aquisições de marcas. O compromisso de usar parte do valor do IPO para pagar dividendos para os atuais acionistas fez com que os analistas chamassem a operação de “oferta secundária disfarçada”.

Essa estratégia de angariar uma série de marcas em um único portfólio não é bem nova no mundo da moda. A Restoque (dona da Le Lis Blanc, Dudalina, Bo.Bô e outras) e a InBrands (dona da Ellus, VR, Richards e outras) também ganharam espaço com a mesma estratégia. A diferença radical entre os três grupos é o desempenho.

Enquanto a InBrands e a Restoque enfrentam inúmeras dificuldades financeiras – a última está, inclusive, em recuperação extrajudicial – o Grupo Soma tem visto as receitas crescerem de forma sólida, além de ter as dívidas mais sob controle.

Analistas pontuam que parte do desempenho acima dos concorrentes do Grupo Soma pode ser atribuído à assertividade das coleções, ao maior conhecimento do público e, por fim, ao investimento em vendas digitais. Prova desse investimento é a existência dos 9 centros de distribuição do grupo, algo que a coloca bem posicionada em termos logísticos.

O período de reserva acaba nesta (27), e espera-se que o primeiro dia de operações na B3 seja em 31 de julho (sexta-feira). Para fazer a reserva, é necessário que o investidor contate a corretora em que tem conta. A casa de análise Nord pontuou os aspectos positivos do Grupo Soma, como o baixo endividamento e o desempenho acima dos concorrentes, mas alertou para alguns pontos.

“A boa rentabilidade do Grupo é largamente influenciada pelo benefício fiscal de ICMS gerado pela Lei Estadual da Moda no Estado do Rio de Janeiro, que somente no ano de 2019 afetou positivamente a receita líquida da companhia em R$ 127,5 milhões”, diz Rafael Ragazi, analista da Nord.

Esse valor correspondeu a 70% do Ebitda (lucro antes de impostos e custos) no período. Ou seja: caso o governo fluminense desista do regime especial de tributos, a capacidade de geração de receitas da empresa seria bastante afetada.

“Além disso, o Grupo Soma vai estrear na bolsa com preços mais altos do que de empresas com longo histórico de alta rentabilidade e consistência, como a Renner e a Arezzo. Temos acesso apenas aos últimos 3 anos de resultados, que são muito bons, mas insuficientes para justificar o prêmio”, disse o analista.

A casa de análise Suno chama, ainda, atenção para os efeitos negativos da pandemia sobre as operações das empresas de moda. “Podemos considerar como riscos a forte dependência das vendas de lojas em shoppings, dada a imprevisibilidade de reabertura desses locais, bem como a incerteza quanto à retomada do fluxo de clientes aos níveis pré-pandemia”, disse Tiago Reis, analista da Suno.

Com informações do portal 6 Minutos.
* Imagem reprodução

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