A saudabilidade associada à redução da ingestão de carnes e de produtos bem pouco sustentáveis tem sido uma das tendências que mais impacta as decisões de consumo de proteína tanto no varejo alimentar quanto no foodservice. Um novo estudo apresentado pelo Good Food Institute Brasil (GFI Brasil) revela que 26% dos brasileiros pesquisados nas classes ABC, de todas as regiões do País, consomem carnes vegetais pelo menos uma vez ao mês. Além disso, 21% procuram reduzir o consumo de produtos de origem animal, adotando uma dieta flexitariana.
Para a pesquisa intitulada “Olhar 360° sobre o Consumidor Brasileiro e o Mercado Plant-based 2023/2024”, foram entrevistadas 2 mil pessoas, segundo o GFI Brasil.
Mudança de hábitos alimentares no Brasil
A alimentação, apesar de carregada de hábitos culturais e tradições, está em constante evolução, refletindo mudanças nos valores e prioridades da sociedade. No Brasil, isso não é diferente. Nos últimos anos, ocorre um aumento do consumo de alternativas vegetais, impulsionadas tanto pela preocupação com a saúde quanto pelo aumento dos preços das carnes animais.
Segundo a pesquisa do GFI Brasil, 36% dos brasileiros reduziram o consumo de carne vermelha nos últimos 12 meses, dentre os quais, 38% citam a saúde como principal motivo para a redução e 35% apontam o custo elevado como razão. Motivações como melhorias na digestão (30%), redução do colesterol (25%) e perda de peso (22%) também foram citadas. Estes fatores variam conforme o tipo de dieta do consumidor: por exemplo, 40% dos onívoros destacaram o aumento do preço da carne como motivação, enquanto 48% dos flexitarianos priorizaram a saúde.
Panorama atual do consumo de carnes vegetais
O estudo ainda mostra que 66% dos entrevistados se definem como onívoros, consumindo tanto produtos de origem animal quanto vegetal regularmente. No entanto, uma parcela significativa de consumidores (34%) estabelece alguma restrição aos produtos de origem animal.
Em relação a esse perfil, 21% estão reduzindo, mas não eliminando completamente, o consumo de carne, 8% são pescetarianos e 5% se declaram veganos ou vegetarianos. Para 26% dos entrevistados, as carnes vegetais são consumidas como substitutas da carne animal pelo menos uma vez ao mês. Quando se trata de alternativas vegetais a leite e derivados, o número salta para 48% dos brasileiros consumindo esses produtos pelo menos uma vez ao mês.
A responsabilidade alimentar nas mãos das mulheres
O papel das mulheres nas decisões alimentares do lar é evidente: 81% das entrevistadas afirmaram ser as principais responsáveis pela escolha do cardápio, enquanto 82% são responsáveis pela cozinha e 81% pela compra de ingredientes. Entre os homens, esses números são significativamente menores: 56%, 50% e 69%, respectivamente.
O futuro dos produtos à base de plantas no Brasil
O ovo é o substituto mais comum para aqueles que reduziram o consumo de carne, com 69% das menções. Entretanto, os flexitarianos tendem a diversificar mais suas opções, incluindo uma maior variedade de vegetais, como legumes, verduras e grãos.
As carnes vegetais análogas, que imitam o sabor, textura e aparência da carne animal, são usadas como substitutas diretas da carne animal por 8% dos consumidores que reduziram a carne no último ano, enquanto 7% utilizam as carnes vegetais não análogas.
Além disso, o conceito das carnes vegetais análogas tem uma avaliação positiva, independentemente do tipo de dieta: 52% consideram a ideia boa ou muito boa. No entanto, apenas 18% já experimentaram esses produtos, o que indica que ainda há um grande potencial de crescimento para esta categoria.
Oportunidades e desafios
“A pesquisa mostra que o consumo de carnes vegetais ainda é nichado, sendo adotado principalmente por pessoas que buscam uma alimentação mais saudável e já têm uma motivação prévia para reduzir o consumo de carne. Ainda há muito a ser feito em termos de pesquisa e desenvolvimento para entregar produtos que ofereçam sabor, preço e conveniência competitivos, e nós entendemos que o momento de investir é agora.”, afirma Camila Lupetti, especialista de Dados GFI Brasil e uma das autoras do estudo.
Camila destaca que outros fatores também influenciam na aderência à categoria: por exemplo, o nicho de pessoas que já consome relata que, muitas vezes, há falta ou inconsistência na disponibilidade de produtos, impedindo que elas repitam a compra.
Embora o conceito de carnes vegetais seja bem avaliado, ainda falta algo mais para motivar a compra e, por isso, é crucial estreitar a comunicação com o perfil mais aderente, fornecendo informações claras e esclarecendo controvérsias, para que esses consumidores possam se tornar “embaixadores” da categoria em casa e no seu círculo social.
“Além disso, consideramos essencial ampliar a presença digital das marcas atuais, assumindo a narrativa da categoria e criando conexões com aqueles que estão buscando maneiras de ter uma alimentação mais saudável”, comenta a especialista.
Com base no estudo, a GFI Brasil observa que, apesar de os brasileiros adorarem carne – e de a maioria consumir quando tem oportunidade -, as carnes vegetais têm sido bem aceitas, o que mostra um potencial muito promissor para o futuro.
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