Amazon + One Medical: o futuro do varejo não está no varejo

Há uma corrida pelo mercado de saúde e medicamentos nos Estados Unidos. E seus protagonistas não poderiam deixar de ser as maiores varejistas do mundo.

O mercado de saúde tem papel-chave para os ecossistemas de negócio, por sua relevância no dispêndio das famílias, alta frequência, fidelização e potencial de integração com outros segmentos e serviços.

One Medical + Amazon

A Amazon há anos vem montando seus serviços de saúde integrado ao seu ecossistema, com a aquisição de empresas do setor, como a Pillpack em 2018 (venda online de medicamentos prescritos), e o desenvolvimento de iniciativas próprias, como a Amazon Care (plano de saúde desenvolvido internamente inicialmente para atender os colaboradores da Amazon e que se abriu para prestar serviço para outras empresas também).

O último movimento da companhia foi no final de 2022, quando a maior varejista do mundo em valor de mercado fez a 3ª maior aquisição da sua história, ficando atrás apenas da compra do Whole Foods e da MGM. A operação, no valor de USD 3,9 bilhões, foi para fazer a aquisição da One Medical, uma healthtech.

A One Medical é uma empresa que se denomina como uma prestadora de serviços de cuidados primários (atendimentos de menor complexidade), empoderada por tecnologia, com modelo de negócio baseado em assinatura e com consultas que podem ser remotas ou presenciais (atendem em 12 estados dos EUA).

Fundada em 2007 e com sede em São Francisco, a One Medical abriu capital em 2020, ocasião em que levantou US$ 245 milhões, que, por consequência, lhe deu um valuation na época de US$ 1,7 billhões.

Eles buscam se posicionar como uma empresa que foca na experiência do usuário, proporcionando uma experiência digital fluida e com atendimento médico rápido e de qualidade. Outro importante componente do seu modelo de negócio é a prestação de assistência médica B2B, para que suas empresas-clientes ofereçam seguro saúde para seus colaboradores.

A empresa já possui 767.000 assinantes e entende que estar dentro do ecossistema Amazon pode alavancar seu crescimento, além de buscar novas fontes de receita e uma experiência mais completa integrando-se aos serviços da Amazon. Lembrando, que em 2022 já eram impressionantes 148 milhões de assinantes do seu programa Prime e que podem (e serão) mobilizados para assinarem os serviços da One Medical.

Como consequência da integração, as soluções da One Medical serão incluídas com o atual e futuro portfólio de serviços de saúde da Amazon como a Pillpack, empresa de venda de medicamentos prescritos e de OTC online. Conjuntamente, se valerão da infraestrutura, tecnologia e logística da Amazon para gerar uma proposta de valor ainda mais interessante aos seus consumidores.

A divisão de varejo da Amazon, por sua vez, vê na One Medical uma importante e necessária expansão e diversificação dos negócios, uma vez que a sua penetração nos mercados-chave (e-commecer) já é altíssima e há pouco espaço para ganhar market share, bem como a integração dos dados parte a parte contribuirá ainda mais para amarrar o consumidor no ecossistema da empresa.

Impactos

A Amazon não é o único ecossistema de varejo a investir pesado nesse mercado. Walmart nos EUA; Ping An, Tencent, Alibaba, na China; Sonae, em Portugal, entre muitos outros também apostam há anos no desenvolvimento de negócios nesse segmento.

No Brasil, os principais movimentos nesse sentido são o desenvolvimento de ecossistemas verticalizados liderados por empresas que já atuam nesse mercado, como RaiaDrogasil, DPSP, Panvel, Pague Menos, Dasa entre outros.

Porém, ainda não temos iniciativas relevantes de integrações com ecossistemas de outros segmentos, o que chamamos na Gouvêa Ecosystem de Meta Ecossistemas, mas antevemos que esse movimento será inexorável. No futuro, teremos a colaboração, integração e fusão de ecossistemas de diferentes segmentos, ofertando serviços integrados, fluídos e cobrindo as mais diferentes necessidades dos consumidores em todas as áreas da sua vida.

O futuro do varejo não está no varejo, mas sim na exploração dos seus ativos para alavancagem de negócios em múltiplos segmentos.

Eduardo Yamashita é COO da Gouvêa Ecosystem.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
Imagens: Shutterstock e Reprodução

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