O varejo chinês passa por grandes mudanças. Lojas conectadas, compras realizadas com pagamento mobile, entregas super-rápidas. Estas são algumas características do cenário atual da China. Para comentar esta realidade, Kevin Peng, secretário-geral da China Chain Store & Franchise Association e Gene Deng, ex-vice presidente do JD Group e fundador do Hotel Tonight, fizeram a apresentação “Perspectivas e transformações do varejo na China”, no palco do LATAM Retail Show, o mais completo evento de varejo e consumo da América Latina.
Kevin trouxe um panorama do varejo chinês. “A partir de 2011 houve uma grande transformação. O digital se fortaleceu muito, atingindo as lojas físicas”, contou. Mas antes, nos anos 90, muitos varejistas chegaram, modernizando os negócios e iniciando o processo de transformação. “De início, imitamos os modelos internacionais, depois, novas empresas foram fundadas e foi se perdendo o ponto de similaridade com o varejo de fora”, contou o especialista.
A partir de 2016, muitos modelos novos de negócios surgiram. De acordo com os varejistas, o país se tornou um laboratório de varejo. Mas surgiram desafios no mercado local. “Houve uma queda do consumo interno porque as empresas não conseguiam atender as demandas do consumidor”, afirmou Peng. As companhias, sobretudo as estrangeiras, tinham dificuldades para se adaptar ao varejo chinês.
Uma das principais mudanças no varejo da China foi o foco dos negócios. “Antes nós focávamos na empresa, hoje focamos no consumidor”, disse Kevin. Outro destaque é o uso crescente de tecnologia, com muitas empresas construindo equipes especializadas com engenheiros de tecnologia. Mas muitos líderes têm dificuldade para lidar com isso. “É importante encontrar profissionais que possam se comunicar com as empresas de tecnologia. É preciso ter CEOs adequados para o varejo”, esclareceu Kevin.
Os ecossistemas de negócios entram neste cenário. Para Peng, “elas criam ou adquirem novas empresas não pensando no lucro, mas em criar valor para o consumidor. Assim, as regras do jogo mudaram”. Houve uma forte digitalização e isso é um problema para as lojas. “O Alibaba aumentou tanto o nível do jogo, que as lojas físicas não têm condição de competir”, falou o especialista.
Deng comentou que o mercado chinês ainda tem potencial para crescer, embora já seja gigantesco. “É um mercado muito maduro. Nos Estados Unidos, temos uma grande companhia que é o Walmart. Nós temos Alibaba, JD.com e outras”, analisou. As pessoas estão comprando mais na China. A receita de vendas vem crescendo. “Mas as pessoas não vão mais às lojas físicas. Elas compram mais no online”, explicou.
Ele trouxe o exemplo da JD.com. “Ela cresceu 90% em 12 anos”, disse Deng. A maioria dos pedidos da empresa é atendida em até três horas. Não é necessário ir até a loja para ter o produto em mãos rapidamente. A eficiência é muito alta, sendo até maior que a Amazon.
O peso do online no país é tão grande que o mercado de varejo chinês, avaliado em 5,5 trilhões de dólares, tem cerca de 80% de seu valor vindos do e-commerce.
O especialista trouxe uma informação interessante. A maioria dos gigantes da internet na China fornece serviços para outras empresas. O online é visto como uma imensa fonte variada de negócios.
Ele esclareceu sobre o modelo O2O de negócios. “A grande novidade deste tipo de negócio de varejo é que você pode interagir com o seu consumidor de várias formas. Você tem um áudio chat, um vídeo chat e outras opções que funcionam fora do seu app”, esclareceu Deng.
Gene explicou que o negócio de nuvem é fundamental: “Ela se refere ao valor do seu negócio. É preciso considerar a questão dos congestionamentos online” (problema que acontece com frequência na China).
De acordo com ele, a China é líder no varejo devido ao seu grande crescimento e à força do consumidor em termos de compras, além de ter uma grande quantidade de jovens em sua população. E esta foi a dica do especialista: “Coloque jovens em seus negócios, eles o levarão a um novo patamar”.
* Foto: Terassan Fotografia